Tinha ordenado que fossem pregados a postes de madeira em volta da praça, cada um apontando para o seguinte. A ira ardia feroz e quente dentro dela quando dera a ordem; fez com que se sentisse um dragão vingador. Mas, mais tarde, quando passou pelos moribundos nos postes, quando ouviu seus gemidos e sentiu o cheirou de entranhas e sangue...
Dany pôs o espelho de lado, franzindo a testa.
A câmara de audiências ficava no piso imediatamente abaixo, uma sala cheia de ecos, de teto elevado e com paredes de mármore roxo. Era um lugar gelado, apesar de toda a sua grandiosidade. Havia ali um trono, uma coisa fantástica de madeira esculpida e dourada, com a forma de uma harpia selvagem. Tinha lançado-lhe um longo olhar e ordenado que fosse transformado em lenha.
– Não me sentarei no colo da harpia – disse-lhes. Em vez disso, sentava-se num simples banco de ébano. Servia, embora tivesse ouvido os meereeneses resmungarem que não era adequado para uma rainha.
Os companheiros de sangue estavam à sua espera. Sinetas de prata tilintavam em suas tranças oleadas, e usavam o ouro e as joias de homens mortos. Meereen era rica além do que era possível imaginar. Até os mercenários pareciam saciados, pelo menos por ora. Do outro lado da sala, Verme Cinzento usava o uniforme simples dos Imaculados, com o capacete de bronze provido de espigão debaixo de um braço. Naqueles, pelo menos, podia confiar, ou assim esperava... e no Ben Mulato Plumm também, no sólido Ben com seus cabelos cinza-esbranquiçados e rosto desgastado, tão querido por seus dragões. E Daario, a seu lado, cintilando de ouro. Daario e Ben Plumm, Verme Cinzento, Irri, Jhiqui, Missandei... enquanto os olhava, Dany deu por si imaginando qual deles seria o próximo a traí-la.
– A noite foi tão calma como pareceu? – perguntou Dany.
– Parece que sim, Vossa Graça – disse Ben Mulato Plumm.
Ficou contente. Meereen havia sido saqueada de forma bárbara, como sempre acontecia às cidades recém-caídas, mas Dany estava determinada a que isso terminasse, agora que a cidade lhe pertencia. Decretara que os assassinos seriam enforcados, que os saqueadores perderiam uma mão e os violadores, os seus membros viris. Oito homicidas pendiam das muralhas, e os Imaculados tinham enchido um cesto de trinta e cinco litros com mãos ensanguentadas e vermes moles e vermelhos, mas Meereen estava de novo calma.
Uma mosca zumbiu ao redor de sua cabeça. Dany enxotou-a, irritada, mas o inseto retornou quase imediatamente.
– Há moscas demais nesta cidade.
Ben Plumm soltou uma gargalhada.
– Havia moscas em minha cerveja hoje de manhã. Engoli uma.
– As moscas são a vingança dos mortos. – Daario sorriu e afagou o dente central de sua barba. – Os cadáveres geram vermes, e os vermes geram moscas.
– Então vamos nos livrar dos cadáveres. Começando por aqueles que estão lá embaixo na praça. Verme Cinzento, tratará disso?
– A rainha ordena, estes obedecem.
– É melhor levar tanto sacas como pás, Verme – aconselhou Ben Mulato. – Aqueles já estão bem para lá de maduros. Andam caindo daqueles postes aos pedaços e estão cheios de...
– Ele sabe. E eu também. – Dany recordou o horror que sentira quando vislumbrou a Praça da Punição em Astapor.
– Vossa Graça – disse Missandei –, os ghiscari enterram os seus mortos de honra em criptas por baixo de suas mansões. Se fervesse os ossos e os devolvesse às famílias, seria uma bondade.
– Que assim se faça. – Dany fez um sinal para Daario. – Quantos pretendem hoje uma audiência?
– Apresentaram-se dois para se aquecer sob o seu esplendor.
Daario tomou para si um guarda-roupa inteiramente novo durante o saque de Meereen, e para condizer com ele voltara a pintar a barba cortada em tridente e os cabelos encaracolados com um profundo e rico tom de púrpura. Aquela coloração fazia com que os olhos parecessem também quase púrpura, como se ele fosse algum valiriano perdido.
– Chegaram durante a noite no
– Quem são?
– O mestre do
– Receberei primeiro o enviado.