– Em Dorne gostamos de lanças. Além disso, é a única forma de me opor ao seu alcance. Olhe, Lorde Duende, mas assegure-se de não tocar. – A lança era freixo torneado com dois metros e meio de comprimento, com o cabo liso, grosso e pesado. Os últimos sessenta centímetros eram de aço: uma esguia ponta de lança em forma de folha que se estreitava para formar um perigoso espigão. As arestas pareciam suficientemente afiadas para fazer a barba. Quando Oberyn girou o cabo entre as palmas das mãos, cintilaram com um brilho negro.
– Espero que seja bom com isso – disse em tom de dúvida.
– Não terá razões de queixa. Embora Sor Gregor talvez venha a ter. Por mais espessa que seja a sua placa, haverá fendas nas articulações. Do lado de dentro do cotovelo e do joelho, por baixo dos braços... Vou encontrar um lugar para lhe fazer cócegas, prometo. – Pôs a lança de lado. – Dizem que um Lannister sempre paga as suas dívidas. Talvez queira voltar comigo a Lançassolar quando o derramamento de sangue do dia terminar. Meu irmão Doran ficaria muito satisfeito por conhecer o legítimo herdeiro de Rochedo Casterly... especialmente se ele trouxesse a sua adorável esposa, a Senhora de Winterfell.
– Uma viagem até Dorne poderá ser muito agradável, agora que reflito sobre o assunto.
– Faça planos para uma visita longa. – O Príncipe Oberyn bebericou o vinho. – Você e Doran têm muitos assuntos de interesse mútuo a discutir. Música, comércio, história, vinho, a moeda do anão... as leis de herança e sucessão. Sem dúvida que os conselhos de um tio beneficiariam a Rainha Myrcella nos árduos tempos que virão.
Se Varys tivesse passarinhos à escuta, Oberyn estava dando-lhes uma farta colheita.
– Creio que vou aceitar essa taça de vinho – disse Tyrion.
– Lembra-se da história que lhe contei quando nos encontramos pela primeira vez, Duende? – perguntou o Príncipe Oberyn, enquanto o Bastardo de Graçadivina ajoelhava à sua frente para prender suas grevas. – Não foi apenas devido à sua cauda que eu e minha irmã fomos a Rochedo Casterly. Andávamos numa espécie de demanda. Uma demanda que nos levou a Tombastela, à Árvore, a Vilavelha, às Ilhas Escudo, a Crakehall e, por fim, a Rochedo Casterly... mas nosso verdadeiro destino era o casamento. Doran estava prometido à Senhora Mellario de Norvos, portanto foi deixado para trás, como castelão de Lançassolar. Minha irmã e eu ainda não estávamos comprometidos.
“Elia achou tudo aquilo empolgante. Estava nessa idade, e sua saúde delicada nunca lhe permitira muitas viagens. Eu preferia me divertir caçoando dos pretendentes de minha irmã. Houve o Pequeno Senhor Vesgo, o Escudeiro Boca-de-Esguicho, um que chamei de Baleia que Caminha, esse tipo de coisa. O único minimamente apresentável foi o jovem Baelor Hightower. Era um rapaz bonito, e minha irmã andou meio apaixonada por ele até que o rapaz teve o infortúnio de peidar uma vez na nossa presença. Imediatamente o apelidei de Baelor Peidorreiro, e depois disso Elia não conseguia olhá-lo sem rir. Eu era um jovenzinho monstruoso, alguém devia ter cortado minha língua perversa.”
– Lanisporto era o fim de nossa viagem – prosseguiu o Príncipe Oberyn, enquanto Sor Arron Qorgyle o auxiliava a vestir uma túnica almofadada de couro e começava a atá-la nas costas. – Sabia que as nossas mães se conheciam desde muito antes?
– Creio recordar que tinham estado juntas na corte quando meninas. Companheiras da Princesa Rhaella?