Tyrion avançou.
–
O pai levantou uma mão. Pouco a pouco, o salão voltou ao silêncio.
– Levem esta puta mentirosa para longe de minha vista – disse Tyrion – e eu darei a vocês a sua confissão.
Lorde Tywin assentiu, fez um gesto. Shae pareceu meio aterrorizada quando os homens de manto dourado a cercaram. Seus olhos encontraram-se com os de Tyrion quando ela foi levada do salão. Teria sido vergonha o que viu neles, ou medo? Perguntou a si mesmo o que Cersei lhe teria prometido.
Tyrion ergueu o olhar para os olhos duros e verdes do pai, com as suas manchas de ouro frio e brilhante.
– Sou culpado – disse –, tão culpado. É isso o que querem ouvir?
Lorde Tywin nada disse. Mace Tyrell assentiu. O Príncipe Oberyn pareceu moderadamente desapontado.
– Admite ter envenenado o rei?
– Nada disso – disse Tyrion. – Da morte de Joffrey sou inocente. Sou culpado de um crime mais monstruoso. – Deu um passo na direção do pai. – Nasci. Sobrevivi. Sou culpado de ser um anão, confesso. E independentemente de quantas vezes o meu bondoso pai tenha me perdoado, persisti na minha infâmia.
– Isso é uma loucura, Tyrion – declarou Lorde Tywin. – Fale do assunto que aqui nos traz. Não está sendo julgado por ser um anão.
– É aí que está errado, senhor. Estive sendo julgado por ser um anão minha vida toda.
– Não tem nada a dizer em sua defesa?
– Nada a não ser isto: não fui eu. Mas agora desejava ter sido. – Virou-se para enfrentar o salão, aquele mar de rostos pálidos. – Gostaria de ter veneno suficiente para todos vocês. Fazem-me lamentar não ser o monstro que gostariam que fosse, mas aí está. Sou inocente, mas aqui não obterei justiça. Não me deixam alternativa exceto apelar aos deuses. Exijo julgamento pela batalha.
– Perdeu o juízo? – disse o pai.
– Não, encontrei-o.
Sua querida irmã não podia estar mais satisfeita.
– Ele tem esse direito, senhores – lembrou aos juízes. – Deixem que os deuses julguem. Sor Gregor Clegane lutará por Joffrey. Ele retornou à cidade anteontem à noite, a fim de colocar a sua espada a meu serviço.
O rosto de Lorde Tywin estava tão sombrio que por meio segundo Tyrion perguntou a si mesmo se ele também teria bebido vinho envenenado. Atingiu a mesa com um punho, furioso demais para falar. Foi Mace Tyrell quem se virou para Tyrion e fez a pergunta.
– Tem um campeão para defender a sua inocência?
– Tem, senhor. – O Príncipe Oberyn de Dorne pôs-se em pé. – O anão conseguiu me convencer.
A algazarra foi ensurdecedora. Tyrion sentiu especial prazer na súbita dúvida que vislumbrou nos olhos de Cersei. Foi preciso que cem homens de manto dourado batessem com o cabo das lanças no chão para que a sala do trono voltasse a se aquietar. A essa altura, Lorde Tywin Lannister já estava recomposto.
– Que o assunto seja decidido amanhã – declarou, num tom férreo. – Lavo as minhas mãos. – Lançou ao filho anão um olhar frio e zangado e depois saiu da sala a passos largos, pela porta do rei que se abria por trás do Trono de Ferro, com o irmão Kevan o seu lado.