Não era a vida com que sonhara, mas era vida. E tudo que tinha de fazer para conquistá-la era confiar no pai, erguer-se em suas pequenas pernas deformadas e dizer: “Sim, fui eu, confesso”. Essa era a parte que lhe dava nós nas entranhas. Quase desejava
– Senhor? – disse Podrick Payne. – Eles estão aqui, senhor. Sor Addam. E os homens de manto dourado. Estão à espera lá fora.
– Pod, diga-me a verdade... acha que fui eu?
O rapaz hesitou. Quando tentou falar, não conseguiu emitir mais do que um fraco perdigoto.
– Não precisa responder. Foi um bom escudeiro para mim. Melhor do que eu merecia. Aconteça o que acontecer, agradeço por seus leais serviços.
Sor Addam Marbrand esperava à porta com seis homens de manto dourado. Nada tinha a dizer naquela manhã, aparentemente.
Assim que Tyrion ocupou seu lugar perante os juízes, outro grupo de homens de manto dourado introduziu Shae na sala.
Uma mão fria apertou-se em volta de seu coração.
– Eles planejaram o ato juntos – disse ela, aquela garota que ele amava. – O Duende e a Senhora Sansa planejaram isso depois de o Jovem Lobo ter morrido. Sansa queria vingança pelo irmão e Tyrion pretendia ficar com o trono. Ia matar a irmã em seguida, e depois o senhor seu pai, para poder se tornar Mão do Príncipe Tommen. Mas um ano ou dois mais tarde, antes de Tommen crescer demais, ia matá-lo também, para pôr a coroa na cabeça.
– Como pode saber tudo isso? – perguntou o Príncipe Oberyn. – Por que o Duende iria contar esses planos à aia da esposa?
– Ouvi uma parte, senhor – disse Shae –, e a senhora também deixou escapar algumas coisas. Mas a maior parte ouvi dos lábios dele. Não era só aia da Senhora Sansa. Fui a prostituta dele, durante todo o tempo que passou em Porto Real. Na manhã do casamento, ele arrastou-me pro lugar onde guardam os crânios de dragão e fodeu-me ali, com os monstros por toda a volta. E quando eu chorei, ele disse que devia ser mais grata, que não era qualquer moça que podia se tornar prostituta do rei. Foi aí que ele me contou como pretendia tornar-se rei. Disse que o pobre Joffrey nunca ia conhecer a noiva como ele tava me conhecendo. – Ela então começou a soluçar. – Nunca quis ser uma prostituta, senhores. Estava noiva. Ele era um escudeiro, um rapaz bom e corajoso, de bom nascimento. Mas o Duende viu-me no Ramo Verde e pôs o rapaz com quem eu queria casar na primeira fila da vanguarda, e depois de ele ser morto ordenou aos selvagens que me levassem à sua tenda. Shagga, o grande, e Timett, com o olho queimado. Ele disse que se não lhe desse prazer, me entregava a eles, e portanto eu dei. Depois trouxe-me pra cidade, pra ficar por perto quando ele me quisesse. Obrigou-me a fazer coisas tão vergonhosas...
O Príncipe Oberyn pareceu curioso.
– Que tipo de coisas?
– Coisas
Osmund Kettleblack foi o primeiro a rir. Boros e Meryn juntaram-se a ele, e depois Cersei, Sor Loras e mais senhores e senhoras do que conseguia contar. A súbita rajada de hilaridade ressoou nas vigas e sacudiu o Trono de Ferro.
– É verdade – protestou Shae. – O meu gigante de Lannister. – As gargalhadas tornaram-se duas vezes mais ruidosas. A boca deles se torceu de diversão, as barrigas balançavam. Alguns riam tanto que expeliam ranho das narinas.