– Aqui e ali, senhor.
– Eu estive em Vilavelha no sul e em Winterfell no norte. Estive em Lanisporto no oeste, e em Porto Real no leste. Mas nunca estive em Aqui. Nem em Ali. – Por falta de um dedo, Jaime apontou com o coto para o nariz em forma de bico de Sor Osmund. – Vou voltar a perguntar.
– Nos Degraus. Um pouco nas Terras Disputadas. Ali há sempre luta. Acompanhei os Homens Galantes. Lutamos por Lys e um pouco por Tyrosh.
– Como acabou sendo armado cavaleiro?
– No campo de batalha.
– Quem o armou?
– Sor Robert... Stone. Já morreu, senhor.
– Com certeza. – Supunha que Sor Robert Stone podia ter sido algum bastardo vindo do Vale, que tivesse andado vendendo a espada nas Terras Disputadas. Por outro lado, podia não ser mais do que um nome que Sor Osmund montou a partir de um rei morto e de uma muralha de castelo.
Pelo menos Kettleblack provavelmente saberia como usar uma espada e um escudo. Os mercenários raramente eram os mais honrosos dos homens, mas tinham de possuir certa perícia com as armas para continuarem vivos.
– Muito bem, sor – disse Jaime. – Pode ir.
O sorriso do homem voltou. Saiu se pavoneando.
– Sor Meryn. – Jaime sorriu ao azedo cavaleiro de cabelos cor de ferrugem e olheiras sob os olhos. – Ouvi dizer que Joffrey o usou para castigar Sansa Stark. – Virou o Livro Branco com uma mão só. – Tome, mostre-me onde está escrito nos nossos votos que juramos espancar mulheres e crianças.
– Fiz o que Sua Graça me ordenou. Juramos obedecer.
– De hoje em diante, irá moderar essa obediência. Minha irmã é rainha regente. Meu pai é Mão do Rei. Eu sou Senhor Comandante da Guarda Real. Obedeça a nós. A mais ninguém.
Sor Meryn fez uma expressão obstinada.
– Está me dizendo para não obedecer ao rei?
– O rei tem oito anos. Nosso primeiro dever é
– Sim. Às suas ordens, senhor.
– Dispensado. – Enquanto ele saía, Jaime virou-se para Sor Balon Swann. – Sor Balon, vi-o tomar parte em justas muitas vezes, e lutei quer com você, quer contra você em lutas corpo a corpo. Disseram-me que demonstrou cem vezes o seu valor na Batalha da Água Negra. A Guarda Real é honrada por sua presença.
– A honra é minha, senhor. – Sor Balon parecia desconfiado.
– Existe apenas uma questão que gostaria de lhe colocar. Serviu-nos com lealdade, é certo... mas Varys disse-me que seu irmão acompanhou Renly e depois Stannis, enquanto o senhor seu pai decidiu não convocar os vassalos e permaneceu atrás das muralhas de Pedrelmo durante toda a guerra.
– Meu pai é um homem idoso, senhor. Já passou há muito os quarenta anos. Os dias de suas batalhas terminaram.
– E o seu irmão?
– Donnel foi ferido na batalha e rendeu-se a Sor Elwood Harte. Foi depois resgatado e jurou lealdade ao Rei Joffrey, tal como muitos outros cativos.
– É verdade – disse Jaime. – Mesmo assim... Renly, Stannis, Joffrey, Tommen... como foi que ele conseguiu deixar de lado Balon Greyjoy e Robb Stark? Podia ter sido o primeiro cavaleiro no reino a jurar lealdade a todos os seis reis.
O incômodo de Sor Balon era evidente.
– Donnel errou, mas agora é de Tommen. Dou-lhe a minha palavra.
– Não é Sor Donnel, o Constante, que me preocupa. É você. – Jaime inclinou-se para a frente. – O que fará se o bravo Sor Donnel entregar a sua espada a outro usurpador, e um dia invadir a sala do trono? E aí está você, todo de branco, entre o seu rei e o seu sangue. O que fará?
– Eu... senhor, isso nunca acontecerá.
– Aconteceu a mim – disse Jaime.
Swann limpou a testa com a manga de sua túnica branca.
– Não tem resposta?
– Senhor. – Sor Balon ficou em pé. – Pela minha espada, pela minha honra, pelo nome de meu pai, juro... não farei o que o senhor fez.
Jaime riu.
– Ótimo. Volte aos seus deveres... e diga a Sor Donnel para acrescentar um cata-vento ao seu escudo.
E então ficou sozinho com o Cavaleiro das Flores.
Esguio como uma espada, ágil e em forma, Sor Loras Tyrell usava uma túnica de linho branca como a neve e calções brancos de lã, com um cinto dourado em volta da cintura e uma rosa de ouro prendendo seu manto de seda fina. Os cabelos eram um suave desarranjo castanho, e os olhos eram também castanhos, e brilhantes de insolência.
– Dezessete anos, e um cavaleiro da Guarda Real – disse Jaime. – Deve se sentir orgulhoso. Príncipe Aemon, o Cavaleiro do Dragão, tinha dezessete anos quando foi nomeado. Sabia disso?
– Sim, senhor.
– E sabia que eu tinha
– Isso também, senhor. – E sorriu.
Jaime odiou aquele sorriso.