O Portão dos Deuses estava aberto quando lá chegaram, mas havia duas dúzias de carros alinhados ao longo da beira da estrada, carregados com tonéis de sidra, barris de maçã, fardos de feno e algumas das maiores abóboras que Jaime já tinha visto. Quase todas as carroças tinham seus próprios guardas; homens de armas ostentando os símbolos de fidalgos menores, mercenários vestidos de cota de malha e couro fervido, às vezes apenas um filho de agricultor de cara rosada, agarrado a uma lança de fabricação caseira com a ponta endurecida pelo fogo. Jaime sorriu a todos eles enquanto passavam a trote. Ao portão, os homens de manto dourado recebiam moedas de cada um dos condutores antes de mandarem as carroças avançar.
– O que é isto? – quis saber Pernas-de-Aço.
– Eles têm de pagar pelo direito de vender dentro da cidade. Por ordem da Mão do Rei e do mestre da moeda.
Jaime olhou para a longa fila de carroças, carros de mão e cavalos carregados.
– E mesmo assim fazem fila para pagar?
– Dá para fazer um bom dinheiro aqui, agora que a luta terminou – disse-lhes alegremente o moleiro da carroça mais próxima. – São os Lannister que dominam a cidade agora, o velho Lorde Tywin do Rochedo. Dizem que ele caga prata.
– Ouro – corrigiu secamente Jaime. – E Mindinho cunha a coisa a partir de capim-dourado, garanto.
– Agora o mestre da moeda é o Duende – disse o capitão do portão. – Ou era, até o prenderem por assassinar o rei. – O homem examinou os nortenhos com suspeita. – Quem são vocês?
– Homens de Lorde Bolton, para falar com a Mão do Rei.
O capitão olhou de relance Nage com a sua bandeira de paz.
– Vêm dobrar o joelho, quer dizer. Não são os primeiros. Subam diretamente ao castelo e tratem de não causar confusão. – Mandou-os passar com um gesto e voltou a se virar para as carroças.
Se Porto Real estava de luto pela morte de seu rei rapaz, Jaime nunca o teria deduzido. Na Rua das Sementes um irmão mendicante vestido com uma túnica puída rezava ruidosamente pela alma de Joffrey, mas os transeuntes não prestavam mais atenção nele do que teriam prestado a uma janela aberta batendo ao vento. Em outros locais, as multidões habituais deslocavam-se de um lado para o outro; homens de manto dourado e cota de malha negra, ajudantes de padeiro vendendo tortas, pães e tortas quentes, prostitutas debruçadas em janelas com os corpetes meio desatados, sarjetas fedendo aos dejetos da noite. Passaram por cinco homens que tentavam arrastar um cavalo morto de uma viela, e, em outro local, por um malabarista que fazia girar facas no ar, para deleite de um grupo de soldados Tyrell bêbados e crianças pequenas.
Percorrendo a cavalo ruas familiares na companhia de duzentos nortenhos, um meistre sem corrente e uma mulher fenomenalmente feia ao seu lado, Jaime descobriu que quase não atraía um segundo olhar. Não sabia se devia se divertir ou se aborrecer com a situação.
– Eles não me reconhecem – disse ao Pernas-de-Aço enquanto atravessavam a Praça dos Sapateiros.
– Seu rosto está mudado, e suas armas também – disse o nortenho –, e agora eles têm um novo Regicida.
Os portões da Fortaleza Vermelha estavam abertos, mas uma dúzia de homens de manto dourado armados com lanças cortavam o caminho. Baixaram as pontas quando Pernas-de-Aço se aproximou a trote, mas Jaime reconheceu o cavaleiro branco que os comandava.
– Sor Meryn.
Os olhos abatidos de Sor Meryn Trant esbugalharam-se.
– Sor Jaime?
– Como é bom ser reconhecido. Afaste estes homens.
Passara-se muito tempo desde que alguém saltara para lhe obedecer tão depressa. Jaime tinha se esquecido de como gostava disso.
Depararam com mais dois membros da Guarda Real no pátio exterior, dois homens que não usavam manto branco da última vez que Jaime ali servira.
– Vejo que alguém me deu dois novos irmãos – disse ao desmontar.
– Temos essa honra, sor. – O Cavaleiro das Flores brilhava, tão perfeito e puro em suas escamas e seda brancas que Jaime se sentiu uma coisa esfarrapada e barata por contraste.
Jaime virou-se para Meryn Trant.
– Sor, desleixou-se em ensinar os deveres aos nossos novos irmãos.
– Que deveres? – disse Meryn Trant num tom defensivo.
– Manter o rei vivo. Quantos monarcas perderam desde que deixei a cidade? Dois, não foi?
Então Sor Balon viu o coto.
–
Jaime obrigou-se a sorrir.
– Agora luto com a esquerda. Dá mais disputa. Onde posso encontrar o senhor meu pai?
– No aposento privado, com Lorde Tyrell e o Príncipe Oberyn.
– A rainha também se encontra com eles?
– Não, senhor – respondeu Sor Balon. – Vai encontrá-la no septo, rezando pelo Rei Joff...
Jaime viu que o último dos nortenhos tinha desmontado, e agora Loras vira Brienne.