Torta Quente olhou em volta com ar incerto.
– Para que lado fica o norte?
Arya usou o queijo para apontar.
– Para lá.
– Mas não há sol. Como é que você sabe?
– Pelo musgo. Está vendo como cresce principalmente de um dos lados das árvores? Esse é o sul.
– O que nós queremos no norte? – quis saber Gendry.
– O Tridente. – Arya desenrolou o mapa roubado, a fim de lhes mostrar. – Está vendo? Quando chegarmos ao Tridente, tudo que temos de fazer é seguir rio acima até chegarmos a Correrrio, aqui. – Traçou o percurso com o dedo. – É um longo caminho, mas não dá para se perder, desde que a gente siga o rio.
Torta Quente piscou os olhos para o mapa.
– Qual deles é Correrrio?
Correrrio estava pintado como uma torre de castelo, na junção entre as linhas azuis onduladas de dois rios, o Pedregoso e o Ramo Vermelho.
– Ali. – Arya tocou no mapa. – Diz
– Você sabe ler coisas escritas? – ele perguntou com espanto, como se ela tivesse dito que conseguia caminhar sobre a água.
Arya assentiu.
– Ficaremos seguros depois de chegarmos a Correrrio.
– Ah, é? Por quê?
– Porque sim. Mas só se chegarmos lá. – Foi a primeira a montar. Sentia-se mal por esconder a verdade de Torta Quente, mas não confiava nele o suficiente para lhe contar seu segredo. Gendry sabia, mas isso era diferente. Gendry tinha seu próprio segredo, embora nem mesmo ele parecesse saber qual era.
Nesse dia, Arya apressou o passo, mantendo os cavalos a trote o máximo de tempo que se atreveu, e às vezes pondo-os a galope, quando via uma extensão plana de terreno pela frente. Mas isso acontecia raramente, pois, à medida que avançavam, o terreno ia se tornando mais acidentado. Os montes não eram altos, nem tinham declives particularmente acentuados, mas pareciam não ter fim, e logo se cansaram de subir um e descer outro. Deram por si seguindo a topografia, percorrendo os leitos de riachos e atravessando um labirinto de vales arborizados pouco profundos, onde as árvores formavam uma sólida pérgula sobre suas cabeças.
De tempos em tempos, mandava Torta Quente e Gendry na frente enquanto voltava, a fim de tentar apagar o rastro, sempre atenta ao primeiro sinal de perseguição.
Por volta do meio-dia, Torta Quente começou a se queixar. Tinha o traseiro dolorido, disse-lhes, e a sela o estava deixando em carne viva entre as pernas e, além disso, tinha de dormir um pouco.
– Estou tão cansado que vou cair do cavalo.
Arya olhou para Gendry.
– Se ele cair, quem você acha que vai encontrá-lo primeiro, os lobos ou os Saltimbancos?
– Os lobos – disse Gendry. – Narizes melhores.
Torta Quente abriu a boca e fechou-a. Não caiu do cavalo. A chuva recomeçou pouco depois. Ainda não tinham sequer vislumbrado o sol. Estava ficando mais frio, e uma pálida névoa branca penetrava por entre os pinheiros e era soprada através dos campos nus e queimados.
Gendry enfrentava quase tanta dificuldade quanto Torta Quente, embora fosse teimoso demais para se queixar. Sentava-se desajeitadamente na sela, com uma expressão determinada no rosto, por baixo dos hirsutos cabelos negros, mas Arya via que ele não era bom cavaleiro.