– Tinha o direito de uma mãe. – A voz dela estava calma, embora a notícia sobre Jardim de Cima constituísse um fortíssimo golpe nas esperanças de Robb. Mas agora não podia pensar nisso.
– Não tinha o direito – repetiu Edmure. – Ele era prisioneiro de Robb, prisioneiro de seu
– Brienne vai mantê-lo a salvo. Jurou-o pela espada dela.
– Aquela
– Ela entregará Jaime a Porto Real, e vai nos trazer Arya e Sansa em segurança.
– Cersei nunca abrirá mão delas.
– Cersei, não. Tyrion. Ele jurou fazê-lo, numa audiência aberta. E o Regicida também jurou.
– A palavra de Jaime não vale nada. E quanto ao Duende, dizem que levou uma machadada na cabeça durante a batalha. Estará morto antes de sua Brienne chegar a Porto Real, se é que ela vai chegar.
– Morto? – poderiam os deuses ser assim tão impiedosos? Tinha obrigado Jaime a prestar uma centena de juramentos, mas era à promessa do irmão dele que havia prendido suas esperanças.
Edmure mostrou-se cego para sua aflição.
– Jaime estava a
– Corvos a quem? Quantos?
– Três – disse ele –, para garantir que a mensagem chegue ao Lorde Bolton. Por rio ou por estrada, o caminho de Correrrio a Porto Real vai levá-los a passar perto de Harrenhal.
– Harrenhal. – A própria palavra parecia escurecer a sala. O horror tornou a sua voz pesada quando disse: – Edmure, você sabe o que fez?
– Não tenha medo, omiti seu papel. Escrevi que Jaime fugiu, e ofereci mil dragões por sua recaptura.
– Se isso fosse uma fuga – disse ela em voz baixa –, e não uma troca de reféns, por que os Lannister entregariam as minhas filhas a Brienne?
– Nunca chegará a esse ponto. O Regicida vai ser devolvido a nós, assegurei-me disso.
– Tudo de que se assegurou foi que eu não volte a ver minhas filhas. Brienne podia tê-lo levado em segurança até Porto Real...
ARYA
O céu estava tão negro quanto as muralhas de Harrenhal atrás deles, e a chuva caía suave e constante, abafando o som dos cascos dos cavalos e escorrendo por seus rostos.
Avançaram para o norte, para longe do lago, seguindo uma estrada rural cheia de sulcos, através de campos destroçados e atravessando bosques e riachos. Arya tomou a dianteira, incitando o cavalo roubado a um imprudente trote rápido até as árvores se fecharem à sua volta. Torta Quente e Gendry seguiram-na o melhor que conseguiram. Lobos uivavam a distância, e ela conseguia ouvir a respiração pesada de Torta Quente. Ninguém falou. De tempos em tempos, Arya lançava um olhar, de relance, por sobre o ombro, para se certificar de que os dois rapazes não tinham ficado muito para trás, e para ver se eram perseguidos.
Sabia que o seriam. Tinha roubado três cavalos dos estábulos e um punhal e um mapa do próprio aposento privado de Roose Bolton, e matado um guarda na poterna, rasgando sua garganta quando ele se ajoelhou para pegar a gasta moeda de ferro que Jaqen H’ghar lhe dera. Alguém iria encontrá-lo jazendo morto numa poça do próprio sangue, e então soaria o alarme. Acordariam Lorde Bolton, e vasculhariam Harrenhal das ameias às adegas, e quando o fizessem, descobririam o desaparecimento do mapa e do punhal, além de algumas espadas do arsenal, pão e queijo da cozinha, um ajudante de padeiro, um aprendiz de ferreiro e uma copeira chamada Nan... ou Doninha, ou Arry, dependendo de quem respondesse.
O Senhor do Forte do Pavor não viria atrás deles pessoalmente. Roose Bolton ficaria na cama, com a pele pálida salpicada de sanguessugas, dando ordens com sua voz sussurrante. Seu subordinado Walton, aquele que chamavam de Pernas de Aço devido às grevas que sempre usava nas longas pernas, poderia comandar a perseguição. Ou talvez fosse o babento Vargo Hoat e seus mercenários, que se chamavam de Bravos Companheiros. Os outros chamavam-nos de Saltimbancos Sangrentos (embora nunca na frente deles) e, às vezes, de Homens dos Pés, devido ao hábito que Lorde Vargo tinha de cortar as mãos e os pés dos homens que lhe desagradavam.