Aquelas palavras perturbaram-na mais do que podia expressar, embora não conseguisse dar-lhes sentido.
Nessa noite, Catelyn acordou diversas vezes, assombrada por sonhos sem nexo sobre os filhos, os perdidos e os mortos. Muito antes do romper do dia, acordou com as palavras do pai ecoando nos ouvidos.
Ela e a irmã tinham casado no mesmo dia e foram deixadas aos cuidados do pai quando os novos esposos partiram para se juntar novamente à rebelião de Robert. Mais tarde, quando seu sangue de lua não chegou no momento de costume, Lysa tagarelara alegremente sobre os filhos que estava certa de que ambas esperavam.
– Seu filho será herdeiro de Winterfell e o meu, do Ninho da Águia. Oh, serão os melhores amigos, como o seu Ned e Lorde Robert. Serão mais irmãos do que primos, verdade, eu sei que sim. –
Mas o sangue de Lysa acabou chegando não muito depois, e toda a alegria a abandonou. Catelyn sempre pensou que Lysa tinha estado simplesmente um pouco atrasada, mas se
Recordou a primeira vez que entregou Robb para a irmã segurar; pequeno, corado e berrando, mas já então forte, cheio de vida. Bastou a Catelyn colocar o bebê nas mãos da irmã para o rosto de Lysa se dissolver em lágrimas e ela devolver apressadamente o bebê a Catelyn e fugir.
Catelyn ficou em pé, vestiu um roupão e desceu os degraus até o aposento privado escurecido, parando junto ao pai. Uma sensação de terror impotente encheu-a.
– Pai – disse –, pai, sei o que o senhor fez. – Já não era uma noiva inocente com a cabeça cheia de sonhos. Era uma viúva, uma traidora, uma mãe de luto, e conhecedora, sabedora dos costumes do mundo. – Obrigou-o a aceitá-la – sussurrou. – Lysa foi o preço que Jon Arryn teve de pagar pelas espadas e lanças da Casa Tully.
Pouco admirava que o casamento da irmã tivesse sido tão desprovido de amor. Os Arryn eram orgulhosos, e cismados em relação à honra. Lorde Jon podia se casar com Lysa para ligar os Tully à causa da rebelião, e na esperança de um filho, mas seria difícil para ele amar uma mulher que chegara conspurcada e de má vontade à sua cama. Teria sido atencioso, sem dúvida, cumpridor, sim; mas Lysa precisava de calor.
No dia seguinte, enquanto fazia sua primeira refeição, Catelyn pediu pena e papel e começou uma carta para enviar à irmã, no Vale de Arryn. Contou a Lysa sobre Bran e Rickon, lutando com as palavras, mas escreveu principalmente sobre o pai.