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A distância era inferior a vinte metros. Os arqueiros dificilmente teriam falhado, mas, no momento em que puxavam os arcos, uma cascata de seixos choveu em volta deles. Pequenas pedras matraquearam no convés, ricochetearam em seus elmos e caíram na água de ambos os lados da proa. Os que tinham cérebro suficiente para compreender levantaram os olhos no exato instante em que um pedregulho do tamanho de uma vaca se desprendeu do topo da íngreme encosta. Sor Robin gritou, consternado. O pedregulho girou no ar, atingiu a face do penhasco, rachou em dois e esmagou-se sobre eles. O pedaço maior quebrou o mastro, atravessou a vela, atirou dois dos arqueiros ao rio e esmagou a perna de um remador no momento em que ele se dobrava sobre o remo. A rapidez com que a galé começou a se encher de água sugeria que o fragmento menor tinha atravessado o casco. Os gritos dos remadores ecoaram na encosta enquanto os arqueiros esbracejavam freneticamente na corrente. Julgando pelo modo como chapinhavam na água, nenhum deles sabia nadar. Jaime soltou uma gargalhada.
Quando emergiram da corredeira, a galé afundava por entre charcos, turbilhões e obstáculos submersos, e Jaime Lannister chegou à conclusão de que os deuses eram bons. Sor Robin e seus triplamente malditos arqueiros teriam uma longa e encharcada caminhada de volta a Correrrio, e também se tinha visto livre da grande garota rústica.
Sor Cleos soltou um grito. Quando Jaime olhou para cima, Brienne deslocava-se pelo topo da encosta bem à frente deles, depois de cortar por um istmo enquanto o barco seguia a curva do rio. Atirou-se do rochedo, e pareceu quase graciosa ao se dobrar para um mergulho. Teria sido descortês ter esperança de que ela esmagasse a cabeça numa pedra. Sor Cleos virou o esquife em sua direção. Felizmente, Jaime ainda tinha o remo.
Mas, em vez disso, viu-se estendendo o remo por cima da água. Brienne agarrou-se a ele, e Jaime puxou-a para dentro. Enquanto a ajudava a subir para o esquife, água escorreu dos cabelos dela e pingou de suas roupas empapadas, fazendo uma poça no convés.
– É uma garota burra demais – disse-lhe. – Podíamos ter continuado sem você. Suponho que espera que lhe agradeça?
– Não quero nenhum agradecimento seu, Regicida. Prestei o juramento de levá-lo a salvo até Porto Real.
– E pretende mesmo mantê-lo? – Jaime concedeu-lhe o mais resplandecente de seus sorrisos. – Isso é de admirar.
CATELYN
Sor Desmond Grell havia servido a Casa Tully por toda a sua vida. Era escudeiro quando Catelyn nasceu, cavaleiro quando ela aprendeu a andar, a montar a cavalo e a nadar, mestre de armas no dia em que ela casou. Tinha visto a pequena Cat do Lorde Hoster transformar-se numa jovem, na senhora de um grande lorde, na mãe de um rei.
O irmão de Catelyn, Edmure, nomeara Sor Desmond castelão de Correrrio quando partiu para a batalha, por isso coube a ele lidar com o crime dela. A fim de aliviar seu desconforto, trouxe consigo o intendente do pai, o severo Utherydes Wayn. Os dois homens pararam e fitaram-na; Sor Desmond, corpulento, corado, embaraçado, Utherydes, grave, lúgubre, melancólico. Cada um esperava que o outro falasse.
– Seus filhos – disse por fim Sor Desmond. – Meistre Vyman contou-nos. Pobres rapazes. Terrível. Terrível. Mas...
– Partilhamos a sua dor, senhora – disse Utherydes Wayn. – Correrrio inteiro sofre com a senhora, mas…
– A notícia deve tê-la levado à loucura – interrompeu Sor Desmond –, uma loucura de desgosto, uma loucura de