– Sor Urswyck – disse o homem, saboreando o som. – Como a minha querida esposa ficaria orgulhosa de ouvir isso. Se ao menos eu não a tivesse matado. – Suspirou. – Então, e o bravo Lorde Vargo?
– Deverei cantar um verso de “As chuvas de Castamere” para você? O bode não será assim tão bravo quando meu pai puser as mãos nele.
– E como ele fará tal coisa? Serão os braços de seu pai tão compridos que conseguem passar por cima das muralhas de Harrenhal e arrancar-nos de lá?
– Se for necessário. – A monstruosa loucura do Rei Harren já tinha caído antes, e poderia voltar a cair. – É tão estúpido que acredita que o bode pode vencer o leão?
Urswyck debruçou-se e deu-lhe um tabefe indolente no rosto. A pura
– Já ouvi o bastante, Regicida. Teria de ser realmente um grande idiota para acreditar nas promessas de um perjuro como você. – Esporeou o cavalo e galopou vivamente em frente.
– Por que lhe disse que Tarth era a Ilha Safira? – murmurou Brienne quando Urswyck não podia mais ouvi-la. – É provável que pense que meu pai é rico em pedras preciosas...
– É melhor que reze para que ele pense assim.
– Todas as palavras que você diz são mentiras, Regicida? Tarth é chamada de Ilha Safira devido ao azul de suas águas.
– Grite um pouco mais alto, garota, acho que Urswyck não ouviu. Quanto mais depressa souberem o pouco que vale de resgate, mais depressa o estupro começa. Todos os homens que aqui estão irão montar em você, mas que importa? Basta fechar os olhos, abrir as pernas e fingir que todos eles são Lorde Renly.
Misericordiosamente, aquilo fechou a boca dela durante algum tempo.
O dia tinha quase chegado ao fim quando encontraram Vargo Hoat, que saqueava um pequeno septo com mais uma dúzia de seus Bravos Companheiros. As janelas de vitral tinham sido quebradas e os deuses de madeira esculpida arrastados para a luz do sol. O mais gordo dothraki que Jaime vira na vida estava sentado sobre o peito da Mãe quando se aproximaram, arrancando seus olhos de calcedônia com a ponta da faca. Ali perto, um septão magricela e perdendo o cabelo pendia, de pernas para o ar, de um galho de um grande castanheiro. Três dos Bravos Companheiros estavam usando seu cadáver como alvo de tiro com arco. Um deles devia ser bom; o morto tinha flechas espetadas em ambos os olhos.
Quando os mercenários viram Urswyck e os prisioneiros, soou um grito em meia dúzia de línguas. O bode estava sentado junto a uma fogueira, comendo uma ave meio assada que tinha num espeto, com gordura e sangue escorrendo por seus dedos e sua longa barba filamentosa. Limpou as mãos na túnica e levantou-se.
– Regifida – babou. – Vofê é meu catifo.
– Senhor, sou Brienne de Tarth – gritou a garota. – A Senhora Catelyn Stark ordenou-me que entregasse Sor Jaime ao irmão dele em Porto Real.
O bode lançou-lhe um olhar desinteressado.
– Filenfiem-na.
– Escute-me – rogou Brienne enquanto Rorge cortava as cordas que a ligavam a Jaime –, em nome do Rei no Norte, o rei que você serve, por favor, escute...
Rorge arrastou-a de cima do cavalo e começou a chutá-la.
– Veja se não quebra nenhum osso – gritou-lhe Urswyck. – A cadela com cara de cavalo vale o próprio peso em safiras.
O dornês Timeon e um ibbenês malcheiroso puxaram Jaime de cima da sela e empurraram-no rudemente na direção da fogueira. Não lhe teria sido difícil agarrar num dos punhos de suas espadas enquanto o maltratavam, mas os mercenários eram muitos e Jaime continuava acorrentado. Poderia abater um ou dois, mas no fim morreria por isso. Jaime ainda não estava pronto para morrer, especialmente por alguém como Brienne de Tarth.
– Efte é um dia effelente – disse Vargo Hoat. Em seu pescoço havia uma corrente de moedas interligadas, moedas de todas as formas e tamanhos, cunhadas e esculpidas, ostentando retratos de reis, feiticeiros, deuses e demônios, e de todos os tipos de animais fantasiosos.
– Lorde Vargo, foi uma tolice ter abandonado o serviço do meu pai, mas não é tarde demais para corrigi-la. Ele pagará bem por mim, sabe disso.
– Ah, fim – disse Vargo Hoat. – Metade do ouro em Rofedo Cafterly ferá meu. Maf primeiro tenho de lhe enviar uma menfagem. – Disse qualquer coisa em sua língua escorregadia de bode.