– Brienne, já sei. Eu prestaria o juramento de não lhe fazer mal, se isso atenuasse os seus medos de menina.
– Seus juramentos não têm qualquer valor. Prestou um juramento a Aerys.
– Que eu saiba, você não cozinhou ninguém dentro de sua armadura. E ambos queremos que eu chegue a Porto Real em segurança e inteiro, não queremos? – Acocorou-se ao lado de Cleos e começou a desafivelar o cinto dele.
– Afaste-se. Já. Pare com isso.
Jaime estava cansado. Cansado das suspeitas dela, cansado de seus insultos, cansado de seus dentes tortos, de seu rosto largo e manchado e daqueles seus cabelos finos e sem vida. Ignorando os protestos da garota, pegou com ambas as mãos no cabo da espada do primo, prendeu o cadáver ao chão com o pé e puxou. No momento em que a lâmina deslizou para fora da bainha, já estava rodopiando, trazendo a espada à sua volta e para cima num rápido e mortífero arco. Aço encontrou aço com um ressonante
– Muito bem, garota.
– Dê-me a espada, Regicida.
– Ah, darei. – Pôs-se em pé como uma mola, e arremeteu contra ela, com a espada viva nas mãos. Brienne saltou para trás, parando o ataque, mas ele seguiu-a, mantendo a pressão. Assim que a garota parava um golpe, o seguinte caía sobre ela. As espadas beijavam-se, saltavam para longe e voltavam a se beijar. O sangue de Jaime cantava. Era àquilo que estava destinado; nunca se sentia tão vivo como quando estava lutando, com a morte equilibrada em cada golpe.
Pelo alto, por baixo, com o braço lançado acima do ombro, fez chover aço sobre ela. Pela esquerda, pela direita, para trás, brandindo a espada com tanta força que chispas voavam quando as lâminas se encontravam, para cima, estocada lateral, lançada sobre o ombro, sempre atacando, caindo contra ela, passo e esquiva, ataque e passo, passo e ataque, golpeando, cortando, mais depressa, mais depressa, mais depressa...
... até que, sem fôlego, deu um passo para trás e deixou a ponta da espada cair ao chão, dando-lhe um momento de descanso.
– Nada mal – reconheceu. – Para uma garota.
Ela inspirou lenta e profundamente, mantendo os olhos cuidadosos a vigiá-lo.
– Não quero machucá-lo, Regicida.
– Como se fosse capaz. – Rodopiou a lâmina por sobre a cabeça e voltou a cair sobre ela, num chacoalhar de correntes.
Jaime não saberia dizer durante quanto tempo prosseguiu o ataque. Podiam ter sido minutos ou podiam ter sido horas; o tempo dormia quando as espadas acordavam. Empurrou-a para longe do cadáver do primo, empurrou-a para o outro lado da estrada, empurrou-a para o meio das árvores. Brienne tropeçou uma vez numa raiz que não chegou a ver, e por um momento Jaime pensou que ela estivesse acabada, mas a mulher apoiou-se num joelho em vez de cair, e não perdeu o controle. A espada dela ergueu-se de um salto para bloquear um golpe alto que lhe teria aberto o tronco do ombro à virilha, e então golpeou-
A dança prosseguiu. Jaime encurralou-a contra um carvalho, praguejou quando ela se esquivou dele, seguiu-a através de um riacho raso quase coberto de folhas caídas. O aço ressoou, o aço cantou, o aço gritou, raspou e soltou chispas, e a mulher passou a grunhir como uma porca a cada golpe, mas Jaime não encontrou maneira de atingi-la. Era como se, em volta dela, houvesse uma gaiola de ferro que parasse todos os golpes.
– Nada mal mesmo – disse ele quando fez um segundo de pausa para recuperar o fôlego, rodeando-a pela direita.
– Para uma garota?
– Para um escudeiro, digamos. Um verde. – Soltou uma gargalhada irregular e sem fôlego. – Vem, vem, minha querida, a música ainda está tocando. Posso ter a honra desta dança, minha senhora?
Grunhindo, ela atacou-o, com a espada a rodopiar, e de repente era Jaime quem lutava para manter o aço afastado da pele. Um dos golpes de Brienne varreu sua testa, e sangue correu para seu olho direito.