– Minha mãe diz o mesmo. Ela faz uma poção para mim, com ervas, leite e cerveja, para ajudar a me tornar fértil. Bebo todas as manhãs. Disse a Robb que tenho certeza de que vou lhe dar gêmeos. Um Eddard e um Brandon. Ele gostou da ideia, acho eu. Nós... nós tentamos quase todos os dias, senhora. Certos dias duas vezes ou mais. – A garota corou de uma forma encantadora. – Vou esperar um bebê em breve, prometo. Rezo à nossa Mãe no Céu todas as noites.
– Muito bem. Juntarei também as minhas preces. Aos velhos deuses
Depois que a garota saiu, Catelyn voltou para junto do pai e alisou os finos cabelos brancos por cima da testa.
– Um Eddard e um Brandon – suspirou em voz baixa. – E talvez, a seu tempo, um Hoster. Gostaria disso? – ele não respondeu, mas ela nunca tinha esperado que respondesse. Enquanto o som da chuva no telhado se misturava com a respiração do pai, pensou em Jeyne. A garota realmente parecia ter bom coração, como Robb dissera.
JAIME
Há dois dias de viagem, para ambos os lados da estrada do rei, entraram numa larga faixa de destruição, quilômetros de campos e pomares enegrecidos, onde os troncos de árvores mortas se projetavam para o ar como postes de arqueiro. As pontes também estavam queimadas, e os riachos seguiam cheios pelas chuvas do outono, de modo que tinham de patrulhar as margens em busca de vaus. As noites estremeciam com os uivos dos lobos, mas não viam ninguém.
Em Lagoa da Donzela, o salmão vermelho de Lorde Mooton ainda flutuava sobre o castelo em sua colina, mas as muralhas da vila encontravam-se desertas, os portões, derrubados, metade das casas e lojas, incendiada ou saqueada. Não viram nenhum ser vivo exceto um punhado de cães selvagens, que escapuliram ao ouvir sua aproximação. A lagoa que deu à vila seu nome, onde a lenda dizia que Florian, o Bobo, pela primeira vez vislumbrara Jonquil banhando-se com as irmãs, estava de tal maneira repleta de cadáveres em decomposição que a água se tranformara numa sopa escura, de cor cinza-esverdeada.
Jaime deu uma olhada e começou a cantar.
–
– O que está
– Estou cantando “Seis donzelas na lagoa”, certamente já ouviu a canção. E que donzelinhas tímidas elas eram. Muito parecidas com você. Embora um tanto mais belas, aposto.
– Silêncio – disse a moça, com um olhar que sugeria que adoraria deixá-lo flutuando na lagoa entre os cadáveres.
– Por favor, Jaime – suplicou o primo Cleos. – Lorde Mooton está juramentado a Correrrio, não queremos atrai-lo para fora de seu castelo. E pode haver outros inimigos escondidos nas ruínas...
– Inimigos dela ou nossos? Não são os mesmos, primo. Tenho um forte desejo de ver se a garota sabe usar aquela espada que transporta.
– Se não ficar em silêncio, não me deixa escolha a não ser amordaçá-lo, Regicida.
– Desacorrente minhas mãos, e eu brincarei de mudo até chegarmos a Porto Real. O que poderia ser mais justo do que isso, garota?
–
– Não quer tomar um banho, Brienne? – soltou uma gargalhada. – É uma donzela, e ali está a lagoa. Eu lavo suas costas. – Costumava esfregar as costas de Cersei, quando éramos crianças no Rochedo Casterly.
A garota virou a cabeça do cavalo e afastou-se a trote. Jaime e Sor Cleos seguiram-na para fora das cinzas de Lagoa da Donzela. Um quilômetro e meio adiante, o verde começou a voltar ao mundo. Jaime sentiu-se satisfeito. As terras queimadas faziam-lhe lembrar Aerys em excesso.
– Ela está seguindo a estrada de Valdocaso – murmurou Sor Cleos. – Seria mais seguro seguir pela costa.
– Mais seguro, mas mais lento. Eu sou favorável a Valdocaso, primo. Para falar a verdade, sua companhia aborrece-me. –
Nunca tinha conseguido suportar estar muito tempo separado de sua gêmea. Até quando crianças, costumavam enfiar-se nas camas um do outro e dormir de braços entrelaçados.