– Os cavaleiros do Vale poderiam fazer toda a diferença nesta guerra – disse Robb –, mas se ela não quer lutar, que assim seja. Só lhe pedi que nos abrisse o Portão Sangrento e nos desse navios em Vila Gaivotas para nos levar ao norte. A estrada de altitude seria difícil, mas não tão difícil quanto abrir caminho pelo Gargalo lutando. Se conseguisse desembarcar em Porto Branco, poderia flanquear Fosso Cailin e expulsar os homens de ferro do norte em meio ano.
– Isso não acontecerá, senhor – disse Peixe Negro. – Cat tem razão. A Senhora Lysa é temerosa demais para deixar entrar um exército no Vale.
– Então que os Outros a levem – praguejou Robb, numa fúria causada pelo desespero. – E o maldito Rickard Karstark também. E Theon Greyjoy, Walder Frey, Tywin Lannister e todos os outros. Pela bondade dos deuses, por que alguém haveria de querer ser rei? Quando todos estavam gritando
– Não – disse Brynden Peixe Negro, direto como sempre.
– Mais um motivo para poupar a vida de Lorde Rickard e mantê-lo como refém – insistiu Edmure.
Robb estendeu ambas as mãos para baixo, ergueu a pesada coroa de bronze e ferro e voltou a colocá-la na cabeça, e de repente era um rei novamente.
– Lorde Rickard morre.
– Mas
– Eu sei o que disse, tio. Não muda o que tenho de fazer. – As espadas de sua coroa encostavam-se, rígidas e negras, contra a sua testa. – Em batalha poderia ter matado Tion e Willem em pessoa, mas isso não foi uma batalha. Eles estavam dormindo em suas camas, nus e desarmados, na cela em que os coloquei. Rickard Karstark matou mais do que um Lannister e um Frey.
Quando o dia nasceu, cinzento e gelado, a tempestade se reduzira a uma chuva contínua, mesmo assim o bosque sagrado estava repleto de gente. Senhores do rio e nortenhos, de alto e baixo nascimento, cavaleiros, mercenários e cavalariços espalhavam-se entre as árvores para ver o fim da dança negra da noite. Edmure dera ordens, e um cepo de carrasco fora colocado em frente à árvore-coração. Chuva e folhas caíam em volta deles quando os homens de Grande-Jon atravessaram a multidão com Lorde Rickard Karstark, ainda de mãos atadas. Seus homens já pendiam das grandes muralhas de Correrrio, balançando na ponta de longas cordas enquanto a chuva lhes lavava o rosto que enegrecia.
Lew Longo esperava ao lado do cepo, mas Robb tirou o machado de sua mão e ordenou-lhe que se afastasse.
– Isso é tarefa minha – disse. – Ele morre por ordem minha. Deve morrer por minhas mãos.
Lorde Rickard Karstark inclinou rigidamente a cabeça.
– Por isso lhe agradeço. Mas por mais nada. – Vestira-se para a morte com uma longa túnica negra de lã, decorada com o resplendor branco de sua Casa. – O sangue dos Primeiros Homens corre tanto nas minhas veias quanto nas suas, rapaz. Faria bem em se lembrar disso. Fui batizado em honra de seu avô. Convoquei meus vassalos contra o Rei Aerys por seu pai, e contra o Rei Joffrey por você. Em Cruzaboi, no Bosque dos Murmúrios e na Batalha dos Acampamentos cavalguei ao seu lado, e acompanhei Lorde Eddard no Tridente. Somos parentes, os Stark e os Karstark.
– Esse parentesco não o impediu de me trair – disse Robb. – E não o salvará agora. Ajoelhe-se, senhor.
Catelyn sabia que Lorde Karstark falara a verdade. Os Karstark traçavam sua genealogia até Karlon Stark, um filho mais novo de Winterfell que derrubou um senhor rebelde mil anos antes e a quem tinham sido concedidas terras por seu valor. O castelo que construíra fora chamado Karls Hold, mas logo transformou-se em Karhold, e, ao longo dos séculos, os Stark de Karhold foram se transformando em Karstark.
– Segundo os deuses antigos ou modernos, não faz diferença – Lorde Rickard disse ao filho dela –, não há homem mais amaldiçoado do que aquele que mata parentes.
– Ajoelhe-se, traidor – voltou a dizer Robb. – Ou terei de ordenar-lhes que empurrem a sua cabeça contra o cepo?
Lorde Karstark se ajoelhou.
– Os deuses vão julgá-lo, tal como você me julgou. – Deitou a cabeça no cepo.