As aves na gaiola de Torre Sombria estavam gritando e esvoaçando com tamanha ferocidade que teve medo de abrir a porta, mas obrigou-se a fazê-lo mesmo assim. Dessa vez, apanhou o primeiro corvo que tentou fugir. Um momento mais tarde, a ave abria caminho através da neve que caía, levando consigo a notícia do ataque.
Depois de cumprido o seu dever, acabou de se vestir com dedos desastrados e assustados, enfiando o gorro, o capote e o manto com capuz e afivelando o cinto da espada, prendendo-o bem apertado para não cair. Então, procurou a mochila e enfiou nela todas as suas coisas, mudas extras de roupa de baixo e meias secas, as pontas de flecha e a ponta de lança de vidro de dragão que Jon lhe dera e também o velho chifre, os pergaminhos, as tintas e penas, os mapas que andara desenhando, e uma alheira, dura como pedra, que guardava desde a Muralha. Amarrou tudo e pôs a mochila nas costas.
Lembrava-se de ficar andando em círculos, perdido, com o medo crescendo em seu interior, como sempre acontecia. Havia cães ladrando e cavalos barrindo, mas a neve abafava os sons e fazia com que parecessem distantes. Sam não via nada além de três metros, nem mesmo os archotes que ardiam ao longo da baixa muralha de pedra que rodeava o cume do monte.
Desajeitadamente, puxou a espada e, com ela na mão, caminhou pesadamente pela neve. Um cão passou correndo e latindo, Samwell viu alguns dos homens da Torre Sombria, grandes homens barbudos com machados de cabo longo e lanças de dois metros e meio. Sentia-se mais seguro na companhia deles, então seguiu-os até a muralha. Quando viu os archotes ainda ardendo no topo do anel de pedras, foi percorrido por um estremecimento de alívio.
Os irmãos negros estavam em pé, de espadas e lanças na mão, observando a neve que caía, à espera. Sor Mallador Locke passou a cavalo, com o elmo salpicado de neve. Sam ficou bem afastado, atrás dos outros, procurando Grenn ou Edd Doloroso com os olhos.
– Aí vêm eles – ouviu um irmão dizer.
– Encaixar – disse Blane, e vinte flechas negras foram puxadas de dentro de outras tantas aljavas e encaixadas em outros tantos arcos.
– Pela bondade dos deuses, são centenas – sussurrou uma voz.
– Puxar – disse Blane, e então: – Esperar. – Sam não conseguia e não queria ver. Os homens da Patrulha da Noite espalhavam-se atrás de seus archotes, à espera, com flechas puxadas até perto das orelhas, enquanto
As flechas sussurraram ao voar.
Uma aclamação irregular surgiu entre os homens ao longo da muralha anelar, mas rapidamente morreu.
– Eles não estão parando, senhor – disse um homem a Blane, e um segundo gritou:
–
E um terceiro disse:
– Pela piedade dos deuses, eles rastejam. Eles tão quase aqui,
Sam recuara, tremendo como a última folha na árvore quando o vento aumenta, tanto de frio como de medo. Fizera muito frio naquela noite.