– Oitenta anos, ou perto disso – disse o Velho Urso. – E, não, eu
– Aerion, o Monstruoso? – Jon conhecia aquele nome. “O Príncipe que Pensava Ser Dragão” era uma das histórias mais horrendas da Velha Ama. Bran, seu irmão mais novo, adorava-a.
– Esse mesmo, embora chamasse a si próprio Aerion Chama-Viva. Uma noite, bem mamado, bebeu um frasco de fogovivo, depois de dizer aos amigos que isso o transformaria num dragão, mas os deuses foram misericordiosos, e o transformaram num cadáver. Menos de um ano depois, Rei Maekar morreu em batalha contra um lorde fora da lei.
Jon não era completamente ignorante em relação à história do reino; seu meistre tinha se assegurado disso.
– Esse foi o ano do Grande Conselho – ele completou. – Os senhores passaram por cima do filho pequeno do Príncipe Aerion e da filha do Príncipe Daeron e deram a coroa a Aegon.
– Sim e não. Primeiro, ofereceram-na, discretamente, a Aemon. E ele, também discretamente, a recusou. Disse-lhes que os deuses queriam que servisse, não que governasse. Que tinha prestado um juramento e não o quebraria, apesar de o próprio Alto Septão ter se oferecido para absolvê-lo. Bem, nenhum homem são queria um pingo do sangue de Aerion no trono, e a filha de Daeron era tola, além de ser mulher. Por isso não tiveram outra escolha que não fosse recorrer ao irmão mais novo de Aemon… Aegon, o Quinto do Seu Nome. Foi chamado de Aegon, o Improvável, nascido quarto filho de um quarto filho. Aemon sabia, e corretamente, que, se ficasse na corte, aqueles a quem o governo do irmão desagradava procurariam usá-lo, por isso veio para a Muralha. E aqui permaneceu, enquanto o irmão, o filho do irmão e o filho
“
– Ele gosta dessa palavra – Jon sorriu.
– Uma palavra fácil de dizer, e fácil de gostar.
“
– Acho que ele deseja que tenha uma coroa, senhor.
– O reino já tem três reis, e isso são dois a mais para o meu gosto.
Mormont afagou o corvo sob o bico com um dedo, mas os olhos nunca deixaram Jon Snow. Aquilo fez Jon se sentir estranho.
– Senhor, por que me disse isso sobre o Meistre Aemon?
– Preciso ter um motivo? – Mormont mexeu-se na cadeira, franzindo a testa. – Seu irmão Robb foi coroado Rei do Norte. Você e Aemon têm isso em comum. Um rei como irmão.
– E também – Jon completou: – um voto.
O Velho Urso soltou uma sonora bufada, e o corvo levantou voo, batendo as asas em círculo pela sala.
– Dê-me um homem por cada voto que vi quebrado, e a Muralha nunca mais sentirá falta de defensores.
– Sempre soube que Robb seria Senhor de Winterfell.
Mormont soltou um assobio, e a ave voou de novo para ele, instalando-se no seu braço.
– Um senhor é uma coisa, um rei é outra – ele deu ao corvo um punhado de milho tirado do bolso. – Vão vestir seu irmão Robb em sedas, cetins e veludos de cem cores diferentes, enquanto você vive e morre em cota de malha negra. Ele se casará com alguma bela princesa e será pai dos seus filhos. Você não terá esposa, nem segurará nos braços um filho do seu próprio sangue. Robb governará, você servirá. Os homens chamarão você de corvo. Ele, de
Jon endireitou-se, tenso como a corda de um arco.
– E se me perturbar, que posso fazer, bastardo como sou?
– O que você
– Ficar perturbado – Jon respondeu. – E respeitar os meus votos.
Catelyn
A coroa do filho ainda estava fresca da forja, e parecia a Catelyn Stark que seu peso pressionava com força a cabeça de Robb.