Atrás da cerca viva, Touro balançou a cabeça, duvidando.
– Por que motivo a rainha haveria de te querer, Arry?
Ela esmurrou seu ombro.
– Fica
Yoren passou os dedos pela faixa do mandado com a gota de cera dourada.
– Bonito – cuspiu. – Acontece que o rapaz está agora na Patrulha da Noite. O que ele fez lá na cidade não importa mais.
– A rainha não está interessada nas suas opiniões, velho, e eu também não – disse o oficial. – Vou levar o rapaz.
Arya pensou em fugir, mas sabia que não iria longe no seu burro quando os homens de manto dourado tinham cavalos. E estava tão cansada de fugir. Tinha fugido quando Sor Meryn havia ido buscá-la e voltou a fugir quando tinham matado seu pai. Se fosse uma verdadeira dançarina de água, sairia dali com a Agulha na mão, mataria todos, e nunca mais fugiria de ninguém.
– Não vai levar ninguém – Yoren respondeu teimosamente. – Há leis sobre essas coisas.
O homem do manto dourado puxou uma espada curta.
– Aqui está a sua lei.
Yoren olhou para a lâmina:
– Isso não é lei nenhuma, é só uma espada. Acontece que eu também tenho uma.
O oficial sorriu.
– Velho tonto. Eu tenho cinco homens comigo.
Yoren cuspiu.
– Acontece que eu tenho trinta.
O homem de manto dourado soltou uma gargalhada.
– Esses aí? – disse um grandalhão desajeitado com o nariz quebrado. – Quem é o primeiro? – gritou, mostrando o aço.
Tarber puxou uma forquilha de uma pilha de feno.
– Sou eu.
– Não, sou eu – gritou Cutjack, o pedreiro rechonchudo, tirando o martelo do avental de couro que usava sempre.
– Eu – Kurz surgiu com sua faca de esfolar na mão.
– Eu e ele – Koss retesou a corda do seu arco.
– Todos nós – disse Reysen, agarrando o grande bastão de madeira dura em que se apoiava ao caminhar.
Dobber saiu nu da casa de banhos com as roupas numa trouxa, viu o que estava acontecendo e deixou tudo cair, menos a adaga.
– É uma luta? – ele quis saber.
– Parece que sim – disse Torta Quente, caindo de quatro à procura de uma pedra que pudesse atirar. Arya não acreditava no que estava vendo.
O homem do nariz quebrado ainda achava aquilo engraçado.
– Ponham de lado essas pedras e paus,
– Eu sei! – Arya não os deixaria morrer por ela, como Syrio. Não deixaria! Abrindo caminho através da cerca viva com a Agulha na mão, adotou a pose da dançarina de água.
O de nariz quebrado soltou uma gargalhada roufenha. O oficial olhou-a de cima a baixo.
– Guarde a espada, menininha, ninguém quer machucar você.
–
– É
Mas foi um erro o oficial tirar os olhos de Yoren, mesmo que por um instante. Foi o tempo que a espada do irmão negro demorou para ser pressionada contra seu pomo de adão.
– Não vai ficar com nenhum deles, a não ser que queira que eu veja se o seu pomo já está maduro. Tenho mais dez ou quinze irmãos naquela estalagem, se ainda precisa ser convencido. Se fosse você, largava esse corta-tripas, botava as bochechas em cima daquele cavalinho gordo e galopava de volta à cidade – Yoren cuspiu, e fez mais pressão com a ponta da espada. – Já.
Os dedos do oficial abriram-se. A espada caiu na poeira.
– Nós ficamos com isso – disse Yoren. – Bom aço sempre faz falta na Muralha.
– Como quiser. Por enquanto. Homens – os homens de manto dourado embainharam as armas e montaram. – É melhor que galope em disparada até essa sua Muralha, velho. Da próxima vez que o apanhar, creio que sua cabeça terá o mesmo destino da do jovem bastardo.
– Homens melhores que você já tentaram.
Yoren bateu na garupa do cavalo do oficial com o lado da espada, fazendo-o desembestar pela estrada do rei afora, enquanto os outros o seguiram.
Quando os perderam de vista, Torta Quente começou a gritar, mas Yoren pareceu mais zangado que nunca.
– Idiota! Acha que estamos livres dele? Da próxima vez, ele não vai se pavonear nem me dar nenhuma faixa maldita. Tirem os outros do banho, temos de ir andando. Cavalgando a noite toda, talvez possamos ficar à frente deles por um tempo – Yoren apanhou a espada que o oficial deixara cair. – Quem quer isto?
– Eu! – Torta Quente berrou.
– Não use no Arry – Yoren entregou a espada ao rapaz, com o cabo para a frente, e dirigiu-se a Arya, mas foi com Touro que falou. – A rainha o quer muito, rapaz.
Arya não entendia nada.
– Por que
Touro olhou bravo para ela.
– E por que iria querer
– Bom, e você não passa de um garoto bastardo! – ou talvez apenas
– Gendry – ele respondeu, como se não estivesse muito certo daquilo.