No meio dos homens, montado num grande cavalo vermelho com uma estranha sela alta que o embalava para trás e para a frente, estava o irmão anão da rainha, Tyrion Lannister, aquele a quem chamavam Duende. Deixara a barba crescer até deixar sua cara enterrada e se transformar num hirsuto emaranhado de pelos amarelos e negros, duros como arame. Às suas costas, caía um manto de pele de gato-das-sombras, de pelo negro rajado de branco. As rédeas estavam na mão esquerda, e o braço direito vinha enfiado numa tira de seda branca, mas, fora isso, parecia tão grotesco como Sansa recordava da época de sua visita a Winterfell. Com sua testa proeminente e olhos de cores diferentes, ainda era o homem mais feio que já vira na vida.
Mas Tommen espetou as esporas no pônei e galopou precipitadamente pelo pátio afora, gritando de alegria. Um dos selvagens, um homem enorme e desajeitado, tão peludo que a cara quase desaparecia no meio da barba, puxou o rapaz da sela, com armadura e tudo, e depositou-o no chão ao lado do tio. O riso sem fôlego de Tommen ecoou nas muralhas quando Tyrion lhe deu uma palmada na placa das costas, e Sansa espantou-se ao notar que os dois eram da mesma altura. Myrcella veio correndo atrás do irmão, e o anão pegou-a pela cintura e fez a princesa rodopiar, gritando.
Quando a devolveu ao chão, o pequeno homem deu um beijo leve na sua testa e bamboleou através do pátio, na direção de Joffrey. Dois dos seus homens seguiram-no de perto; um mercenário de cabelo e olhos negros, que se movia como um gato caçando, e um jovem magro com uma órbita vazia no local onde um olho deveria estar. Tommen e Myrcella vieram atrás deles.
O anão caiu sobre um joelho em frente do rei.
– Vossa Graça.
– Você – disse Joffrey.
– Eu – concordou o Duende –, se bem que uma saudação mais cortês talvez fosse mais apropriada para um tio e um homem mais velho.
– Dizia-se que estava morto – disse Cão de Caça.
O pequeno homem lançou um olhar ao grande. Um dos seus olhos era verde, o outro, negro, e ambos eram frios.
– Falava com o rei, não com o cachorro dele.
–
– Compartilhamos essa opinião, querida filha.
Tyrion virou-se para Sansa.
– Minha senhora, lamento as suas perdas. Os deuses são realmente cruéis.
Sansa não conseguiu encontrar uma só palavra para lhe dizer. Como podia ele lamentar as suas perdas? Estaria caçoando dela? Não eram os deuses que eram cruéis, era Joffrey.
– Lamento também a sua perda, Joffrey – disse o anão.
– Que perda?
– O seu real pai? Um homem grande e impetuoso com uma barba negra; recordará dele se fizer um esforço. Foi rei antes do senhor.
– Ah,
– É isso
Joffrey franziu a testa. Sansa sentiu que devia dizer qualquer coisa. O que a Septã Mordane costumava lhe dizer?
– Lamento que a senhora minha mãe o tenha tomado prisioneiro, senhor.
– Há muitas pessoas que lamentam isso – Tyrion respondeu. – E antes que eu termine o que tenho a fazer, algumas poderão lamentá-lo um pouco mais… No entanto, agradeço o sentimento. Joffrey, onde poderei encontrar sua mãe?
– Ela está com o conselho – o rei respondeu. – Seu irmão Jaime anda só perdendo batalhas – lançou a Sansa um olhar zangado, como se fosse culpa
O anão deu um sorriso torto.
– Nos dias que correm todo tipo de gente se intitula rei.
Joff não soube o que pensar daquilo, embora tivesse uma expressão de suspeita e insatisfação.
– Sim. Bem. Fico feliz que não esteja morto, tio. Trouxe-me algum presente para o dia do meu nome?
– Sim. A minha inteligência.
– Preferiria a cabeça de Robb Stark – Joff rebateu, com um relance maldoso para Sansa. – Tommen, Myrcella, venham.
Sandor Clegane deixou-se ficar um momento para trás:
– Eu teria cuidado com essa sua língua, homenzinho – preveniu-o, antes de se afastar a passos largos atrás do seu senhor.
Sansa foi deixada com o anão e seus monstros. Tentou pensar no que poderia dizer mais.
– Está com o braço ferido – ela disse, por fim.
– Um dos seus nortenhos atingiu-me com uma maça de guerra durante a batalha no Ramo Verde. Escapei dele caindo do cavalo – seu sorriso malicioso transformou-se em algo mais suave enquanto estudava o rosto dela. – É o pesar pelo senhor seu pai que a deixa tão triste?
– Meu pai era um traidor – Sansa respondeu imediatamente. – E meu irmão e a senhora minha mãe são também traidores – tinha aprendido depressa aquele reflexo. – Eu sou leal ao meu amado Joffrey.
– Sem dúvida. Tão leal como uma corça rodeada de lobos.
– Leões – sussurrou ela, sem pensar. Olhou em volta nervosamente, mas ninguém estava suficientemente perto para ouvir.
O Lannister estendeu a mão, tomou a dela na sua e a apertou.