Samira R. Khalil, 57 anos, dona de casa, mãe de Athena 163
Não a chame de Athena, por favor. Seu verdadeiro nome é Sherine. Sherine Khalil, filha muito querida, muito desejada, que tanto eu como meu marido queríamos ter gerado por nós mesmos!
Mas a vida tinha outros planos — quando a generosidade do destino é muito grande, sempre há um poço onde todos os sonhos podem despencar.
Vivíamos em Beirute no tempo em que todos a
consideravam como a mais bela cidade do Oriente Médio. Meu marido era um bem-sucedido industrial, casamos por amor, viajávamos à Europa todos os anos, tínhamos amigos, éramos convidados para todos os acontecimentos sociais importantes, e certa vez cheguei a receber em minha casa um presidente dos Estados Unidos, imagine! Foram três dias inesquecíveis: dois deles onde o serviço secreto americano esquadrinhou cada canto de nossa casa (eles já estavam no bairro há mais de um mês, ocupando posições estratégicas, alugando apartamentos, disfarçando-se como mendigos ou casais apaixonados). E um dia — melhor dizendo, duas horas de festa. Jamais me esquecerei da inveja nos olhos de nossos amigos, e da alegria de poder tirar fotos com o homem mais poderoso do planeta.
Tínhamos tudo, menos aquilo que mais desejávamos: um filho. Portanto, não tínhamos nada.
Tentamos de todas as maneiras, fizemos promessas, fomos a lugares onde garantiam que era possível um milagre, consultamos médicos, curandeiros, tomamos remédios e bebemos elixires e poções mágicas. Por duas vezes fiz inseminação artificial, e perdi o bebê. Na segunda, perdi também meu ovário esquerdo, e não consegui mais encontrar nenhum médico que quisesse arriscar-se em uma nova aventura deste tipo.
Foi quando um dos muitos amigos que conhecia a nossa situação, sugeriu a única saída possível: adotar uma criança.
Disse que tinha contatos na Romênia, e que o processo não demoraria muito.
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