Читаем A Bruxa de PortoBello полностью

de magia; afinal de contas era minha mestra, encarregada de transmitir os mistérios sagrados, despertar da força desconhecida que todos nós possuímos. Quando nos aventuramos neste mar desconhecido, confiamos cegamente naqueles que nos guiam —

acreditando que sabem mais que nós.

Pois eu posso garantir: não sabem. Nem Athena, nem Edda, nem as pessoas que terminei conhecendo por causa delas. Ela me dizia que estava aprendendo à medida que ensinava, e embora eu no início me recusasse a acreditar, pude mais tarde me convencer que talvez pudesse ser verdade, terminei descobrindo que era mais uma de suas muitas maneiras de fazer com que abaixássemos nossas guardas, e nos entregássemos ao seu encanto.

As pessoas que estão na busca espiritual não pensam: querem resultados. Querem sentir-se poderosas, longe das massas anônimas. Querem ser especiais. Athena brincava com sentimentos alheios de maneira aterradora.

Me parece que, em seu passado, teve uma profunda admiração por Santa Teresa de Lisieux. A religião católica não me interessa, mas, pelo que ouvi, Teresa tinha uma espécie de comunhão mística e física com Deus. Athena mencionou certa vez que gostaria que seu destino fosse parecido com o dela: neste caso devia ter entrado para um convento, dedicado sua vida à contemplação ou ao serviço dos pobres. Seria muito mais útil ao mundo, e muito menos perigoso que induzir pessoas, através de músicas e de rituais, a uma espécie de intoxicação onde podemos entrar em contato com o melhor, mas também com o pior de nós mesmos.

Eu a procurei em busca de uma resposta para o sentido da minha vida — embora tivesse dissimulado isso em nosso primeiro encontro. Devia ter percebido desde o início que Athena não estava muito interessada nisso; queria viver, dançar, fazer amor, viajar, reunir gente a sua volta para mostrar como era sábia, exibir seus dons, provocar os vizinhos, aproveitar tudo que temos de mais profano — mesmo que procurasse dar um verniz espiritual à sua busca.

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Cada vez que nos encontrávamos, para cerimônias mágicas ou para ir a um bar, eu sentia seu poder. Era quase capaz de tocá-lo, de tão forte que se manifestava. No início fiquei fascinada, queria ser como ela. Mas um dia, em um bar, ela começou a comentar sobre o “Terceiro Rito”, que envolve a sexualidade. Fez isso na frente do meu namorado. Seu pretexto era ensinar-me. Seu objetivo, na minha opinião, era seduzir o homem que amava.

E, claro, terminou conseguindo.

Não é bom falar mal de pessoas que passaram desta vida para o plano astral. Athena não terá que prestar contas a mim, mas a todas aquelas forças que, em vez de canalizar para o bem da humanidade e para sua própria elevação espiritual, usou apenas em benefício próprio.

E o que é pior: tudo que começamos juntos podia ter dado certo, se não fosse sua compulsão para o exibicionismo.

Bastava ter agido de maneira mais discreta, e hoje estaríamos cumprindo juntas a missão que nos foi confiada. Mas não conseguia controlar-se, julgava-se dona da verdade, capaz de ultrapassar todas as barreiras usando apenas seu poder de sedução.

Qual foi o resultado? Eu fiquei sozinha. E não posso mais abandonar o trabalho no meio — terei que ir até o final, embora me sinta às vezes fraca, e quase sempre desanimada.

Não me surpreende que sua vida tenha terminado desta maneira: ela vivia flertando com o perigo. Dizem que as pessoas extrovertidas são mais infelizes que as introvertidas, e precisam compensar isso mostrando a si mesmas que estão contentes, alegres, de bem com a vida; pelo menos no caso dela, este comentário é absolutamente correto.

Athena era consciente do seu carisma, e fez sofrer todos aqueles que a amaram.

Inclusive eu.

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Deidre O’Neill, 37 anos, médica, conhecida como Edda Se um homem que não conhecemos telefona hoje, conversa um pouco, não insinua nada, não diz nada de especial, mas mesmo assim nos deu uma atenção que raramente recebemos, somos capazes de ir para a cama aquela noite relativamente apaixonadas. Somos assim, e não há nada de errado nisso — é da natureza feminina abrir-se para o amor com grande facilidade.

Foi esse amor que me abriu para o encontro com a Mãe quando tinha 19 anos. Athena também tinha esta idade quando entrou pela primeira vez em transe através da dança. Mas essa era a única coisa que tínhamos em comum — a idade de nossa iniciação.

Em tudo mais éramos total e profundamente distintas, principalmente em nossa maneira de lidar com os outros. Como sua mestra, eu dei sempre o melhor de mim, de modo que pudesse organizar sua busca interna. Como sua amiga — embora não tenha certeza de que este sentimento era correspondido — procurei alertá-la para o fato de que o mundo ainda não está pronto para as transformações que ela queria provocar. Lembro-me que perdi algumas noites de sono até tomar a decisão de permitir que agisse com total liberdade, seguindo apenas o que seu coração mandava.

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