Читаем A Bruxa de PortoBello полностью

“são todos ladrões”. Por mais que tentemos levar uma vida normal, deixando a eterna peregrinação e vivendo em lugares onde poderemos ser facilmente identificados, o racismo continua. Meus filhos são obrigados a sentar-se nas filas de trás de suas salas de aula, e não há semana que não sejam insultados por alguém.

Depois reclamam que não respondemos diretamente as perguntas, que procuramos nos disfarçar, que jamais comentamos abertamente nossas origens. Para que fazer isso? Todo mundo sabe distinguir um cigano, e todo mundo sabe como se “proteger” das nossas “maldades”.

Quando aparece uma menina metida a intelectual, sorrindo, dizendo que faz parte de nossa cultura e de nossa raça, eu logo me coloco de guarda. Pode ser um dos enviados da Securitate, a polícia secreta deste louco ditador, o Conducator, o Gênio dos Cárpatos, o Líder. Dizem que ele foi julgado e fuzilado, mas eu não acredito; seu filho ainda tem poder nesta região, embora esteja desaparecido no momento.

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A menina insiste; sorrindo — como se fosse muito engraçado o que está dizendo — afirma que sua mãe é cigana, e que gostaria de encontrá-la. Tem o seu nome completo; como conseguiu obter tal informação sem o apoio da Securitate?

Melhor não irritar gente que tem contatos com o governo. Eu digo que não sei de nada, sou apenas um cigano que resolveu estabelecer uma vida honesta, mas ela continua insistindo; quer ver a mãe. Eu sei quem é, sei também que há mais de vinte anos ela teve uma criança que entregou a um orfanato, e não se teve mais notícias. Fomos forçados a aceitá-la em nosso meio por causa daquele ferreiro que se achava dono do mundo. Mas quem garante que a moça intelectual que está na minha frente é a filha de Liliana? Antes de procurar saber quem é sua mãe, devia pelo menos respeitar alguns de nossos costumes, e não aparecer vestida de vermelho, porque não é o dia do seu casamento. Devia usar saias mais longas, para evitar a luxúria dos homens. E nunca podia me dirigir a palavra da maneira que ela me dirigiu.

Se hoje falo dela no presente, é porque para aqueles que viajam o tempo não existe — apenas o espaço. Viemos de muito longe, uns dizem que da Índia, outros afirmam que nossa origem está no Egito, o fato é que carregamos o passado como se tivesse acontecido agora. E as perseguições ainda continuam.

A moça tenta ser simpática, mostra que conhece nossa cultura, quando isso não tem a menor importância; devia conhecer mesmo nossas tradições.

— Soube na cidade que o senhor é um Rom Baro, um chefe de tribo. Antes de vir até aqui, aprendi muito sobre a nossa história...

— Não é a “nossa”, por favor. É a minha, da minha mulher, dos meus filhos, da minha tribo. Você é uma européia.

Você jamais foi apedrejada na rua, como eu fui quando tinha cinco anos.

— Acho que as coisas estão melhorando.

— Sempre melhoraram, para piorar depois.

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Mas ela não pára de sorrir. Pede um uísque; nossas mulheres nunca fariam isso.

Se tivesse entrado aqui apenas para beber, ou para procurar companhia, seria tratada como uma cliente. Eu aprendi a ser simpático, atencioso, elegante, porque meu negócio depende disso. Quando os freqüentadores de meu restaurante querem saber mais sobre ciganos, digo umas tantas coisas curiosas, aviso que escutem o conjunto que vai tocar daqui a pouco, comento dois ou três detalhes de nossa cultura, e saem daqui com a impressão de que conhecem tudo a respeito da gente.

Mas a moça não veio aqui em busca de turismo: ela afirma que faz parte da raça.

Ela me estende de novo o certificado que conseguiu do governo. Acho que o governo mata, rouba, mente, mas não se arrisca a fornecer certificados falsos, e que ela deve ser mesmo filha de Liliana, porque ali está o nome inteiro dela e o lugar onde vivia. Soube pela televisão que o Gênio dos Cárpatos, o Pai do Povo, o Conducator de todos nós, aquele que nos fez passar fome enquanto exportava tudo para o estrangeiro, o que tinha os palácios com talheres revestidos de ouro enquanto o povo morria de inanição, este homem com sua maldita mulher costumavam pedir que a Securitate percorresse orfanatos pegando bebês para serem treinados como assassinos pelo Estado.

Pegavam apenas os meninos, deixavam as meninas. Talvez seja mesmo a filha.

Olho de novo o certificado, e fico pensando se devo ou não dizer onde sua mãe se encontra. Liliana merece encontrar esta intelectual, dizendo que é “uma de nós”. Liliana merece olhar esta mulher de frente; acho que já sofreu tudo que precisava sofrer depois que traiu seu povo, deitou-se com um gaje ( N. R: estrangeiro), envergonhou seus pais. Talvez seja o momento de terminar com seu inferno, ver que a filha sobreviveu, ganhou dinheiro, e poderá até ajudá-la a sair da miséria em que se encontra.

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