Читаем A Bruxa de PortoBello полностью

Eu procurava me adaptar a tudo — mas senti que estava perdendo Athena por causa da criança. Nossas brigas se tornaram mais freqüentes, ela começou a ameaçar sair de casa, porque achava que Viorel estava recebendo as “energias negativas” de nossas discussões. Certa noite, depois de mais uma ameaça, quem saiu de casa fui eu, achando que voltaria logo que me acalmasse um pouco.

Comecei a caminhar por Londres sem qualquer rumo, blasfemando a vida que tinha escolhido, o filho que tinha aceitado, a mulher que parecia já não ter mais nenhum interesse na minha presença. Entrei no primeiro bar, perto de uma estação de metrô, e tomei quatro doses de uísque. Quando o bar fechou às 11 da noite, fui até uma loja, destas que ficam abertas de madrugada, comprei mais uísque, sentei-me em um banco de praça, e continuei bebendo. Um grupo de jovens se aproximou, pediu um que 182

dividisse com eles a garrafa, eu recusei, e fui espancado. A polícia logo apareceu, e terminamos todos na delegacia.

Eu fui liberado logo após prestar depoimento. Evidente que não acusei ninguém, disse que tinha sido uma discussão a toa, ou passaria alguns meses de minha vida tendo que comparecer a tribunais, como vítima de agressão. Quando estava pronto para sair, o meu estado de embriaguez era tal que caí por cima da mesa de um inspetor. O homem se irritou, mas ao invés de me prender por desacato à autoridade, empurrou-me para fora.

E ali estava um dos meus agressores, que me agradeceu por não ter levado o caso adiante. Comentou que eu estava completamente sujo de lama e sangue, e sugeriu que eu arranjasse roupas novas, antes de voltar para casa. Em vez de continuar meu caminho, pedi que ele me fizesse um favor: que me escutasse, porque eu estava com uma imensa necessidade de falar.

Durante uma hora ele ouviu em silêncio minhas queixas.

Na verdade eu não estava conversando com ele, mas comigo mesmo, um rapaz com toda uma vida pela frente, uma carreira que poderia ser brilhante, uma família que tinha contatos suficientes para facilitar abrir muitas portas, mas que agora parecia um dos mendigos de Hampstead ( N.R.: bairro de Londres), embriagado, cansado, deprimido, sem dinheiro. Tudo por causa de uma mulher, que nem sequer me dava atenção.

No final de minha história, já enxergava melhor a condição em que me encontrava: uma vida que eu tinha escolhido, acreditando que o amor sempre pode salvar tudo. E não é verdade: às vezes ele termina nos levando ao abismo, com a agravante de que geralmente carregamos conosco pessoas queridas. Neste caso, eu estava a caminho de destruir não apenas a minha existência, mas também Athena e Viorel.

Naquele momento, repeti mais uma vez para mim mesmo que era um homem, e não o rapaz que tinha nascido em berço de ouro, e enfrentado com dignidade todos os desafios que me tinham sido colocados. Fui para casa, Athena já estava dormindo com o 183

bebê em seus braços. Tomei um banho, saí de novo para jogar as roupas sujas na lixeira da rua, deitei-me, estranhamente sóbrio.

No dia seguinte, disse que desejava o divórcio. Ela perguntou por quê.

— Porque te amo. Amo Viorel. E tudo que tenho feito é culpar vocês dois por ter abandonado meu sonho de ser engenheiro.

Se tivéssemos esperado um pouco, as coisas seriam diferentes, mas você pensou apenas em seus planos — esqueceu de incluir-me neles.

Athena não reagiu, como se já estivesse esperando por isso, ou como se inconscientemente estivesse provocando esta atitude.

O meu coração sangrava, porque esperava que me pedisse por favor para ficar. Mas ela parecia calma, resignada, preocupada apenas em fazer com que o bebê não escutasse nossa conversa. Foi nesse momento que tive certeza que jamais havia me amado, eu fora apenas um instrumento para a realização deste sonho louco de ter um filho aos 19 anos.

Disse que podia ficar com a casa e os móveis, mas ela recusou-se: iria para a casa da mãe algum tempo, procuraria um emprego, e alugaria seu próprio apartamento. Perguntou-me se podia ajudar financeiramente com Viorel. Eu concordei na hora.

Levantei-me, dei-lhe um último e longo beijo, tornei a insistir que ela ficasse ali, ela voltou a afirmar que iria para casa de sua mãe assim que tivesse arrumado todas as suas coisas.

Hospedei-me em um hotel barato, e fiquei esperando todas as noites que ela me telefonasse pedindo para voltar, recomeçar uma nova vida — eu estava inclusive pronto para continuar com a vida antiga se fosse necessário, já que o afastamento me fizera dar conta que não havia ninguém ou nada mais importante no mundo que a minha mulher e meu filho.

Uma semana depois, recebi finalmente sua chamada. Mas tudo que me disse foi que já tinha retirado suas coisas, e não pretendia voltar. Mais duas semanas, soube que alugara um pequeno sótão em Basset Road, onde precisava subir todos os dias três 184

lances de escada com um menino no colo. Dois meses se passaram, e terminamos por assinar os papéis.

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