– “Bem, Small”, disse o major. “Nós estivemos conversando a respeito, Morstan e eu; e chegamos à conclusão de que este seu segredo não é um assunto do governo; afinal de contas, é uma questão particular sua, e você tem o direito de agir como achar melhor. Resta agora saber quanto você pede por ele. Nós estamos dispostos a fazer a transação, ou pelo menos estudá-la, se pudermos chegar a um acordo.”
– Ele tentava falar de maneira fria e desinteressada, mas seus olhos brilhavam de cobiça e excitação.
– “Quanto a isso, cavalheiros”, respondi, também tentando mostrar frieza, mas tão entusiasmado quanto ele; “só há um acordo possível para um homem na minha situação. Quero que ajudem a libertar-me e aos meus três companheiros. Passarão então a ser nossos sócios e nós lhes daremos um quinto do lote para dividirem entre si.”
– “Ora, a quinta parte. Não é muito tentador.”
– “Daria 50 mil libras por cabeça.”
– “Mas como obter a sua liberdade? Bem sabe que o que pede é impossível.”
– “Nem tanto”, respondi. “Pensei em tudo, nos menores detalhes. O único obstáculo à nossa fuga é não podermos obter uma embarcação adequada para a viagem e provisões para tanto tempo. Há muitos iates e barcos em Calcutá e em Madras que serviriam ao nosso objetivo. Podem conseguir-nos um. Daremos um jeito de embarcar à noite, e se nos deixarem em qualquer lugar da costa indiana, terão cumprido a sua parte no acordo.”
– “Se fosse só um”, ele disse.
– “Ou tudo ou nada”, respondi. “Nós juramos. Sempre juntos, os quatro.”
– “Como você vê, Morstan, Small é homem de palavra. Não quer trair os amigos. Acho que podemos confiar nele.”
– “É um negócio sujo”, respondeu o outro. “Mas, como você diz, o dinheiro vai proteger nosso trabalho.”
– “Está bem, Small”, disse o major, “o melhor é ver. Em primeiro lugar, naturalmente, precisamos verificar a veracidade da história. Diga-me onde o cofre está escondido e conseguirei uma licença para ir à Índia no navio deste mês verificar tudo.”
– “Mais devagar”, eu disse, esfriando à medida que ele se entusiasmava. “Primeiro preciso do consentimento dos meus três camaradas. Já lhe disse que tem de ser assim: ou para os quatro ou para nenhum.”
– “Que absurdo! O que esses três negros têm a ver com o nosso acordo?”
– “Pretos ou azuis”, eu disse, “são meus sócios e continuarão sendo.”
– Acabamos combinando um segundo encontro, do qual participaram Mahomet Singh, Abdullah Khan e Dost Akbar. Discutimos novamente o assunto e por fim chegamos a um acordo.
– “Combinamos dar aos oficiais plantas da parte do forte de Agra e marcar o lugar na parede onde o tesouro estava escondido. O major Sholto iria à Índia para confirmar a veracidade da nossa história. Se encontrasse a caixa, ele a deixaria lá, mandaria para nós um pequeno iate equipado e abastecido para a viagem, que nos esperaria perto de Rutland Island e com o qual seguiríamos, e depois voltaria ao seu posto. Então o capitão Morstan pediria licença, iria encontrar-se conosco em Agra, e ali dividiríamos o tesouro, e ele levaria o seu quinhão e o do major. Tudo isto foi selado com os juramentos mais solenes que a mente podia imaginar e os lábios podiam pronunciar. Passei a noite toda fazendo as duas plantas, que ficaram prontas de manhã e foram assinadas com
– Eu já estou cansando vocês com a minha longa história e sei que o meu amigo Jones está impaciente para trancafiar-me. Encurtando: o vilão Sholto foi para a Índia e nunca mais voltou. O capitão Morstan mostrou-me o nome dele numa lista de passageiros de um vapor que partiu pouco tempo depois. Morrera um tio dele, deixando-lhe uma fortuna, e ele abandonou o Exército. Foi assim que tratou daquela maneira cinco homens que confiaram nele. Morstan foi pouco depois a Agra e confirmou o desaparecimento do tesouro. O velhaco tinha-o roubado e não cumpriu as condições em troca das quais nós lhe tínhamos vendido o segredo. A partir daí passei a viver para a vingança. Pensava nela dia e noite. Tornou-se uma obsessão para mim. Não me importava com a lei nem com as galés. Fugir, encontrar Sholto, apertar-lhe o pescoço eram o meu único pensamento. Até o tesouro de Agra passara a ser secundário. O principal era matar Sholto.
– Já me propus a muita coisa na minha vida e sempre levei o meu objetivo até o fim. Passaram-se anos enfadonhos até que chegasse o meu dia. Eu disse a vocês que tinha aprendido algumas noções de medicina. Um dia, o dr. Somerton ficou de cama, com febre, e um nativo foi agarrado na floresta por um bando de forçados. Estava à morte e tinha fugido para um lugar isolado, a fim de morrer tranqüilo. Tratei dele, embora fosse peçonhento como uma cobra, e ao fim de alguns meses ele estava bom e já andava. Ele desenvolveu uma espécie de afeição por mim. Não tinha vontade de voltar às suas florestas e ficava sempre rondando a minha cabana. Aprendi a falar um pouco o seu dialeto e isto fez com que ele gostasse ainda mais de mim.