– A chuva continuava, porque era o começo da estação das chuvas. Nuvens pesadas e escuras cruzavam o céu, e pouco se podia ver. Havia um fosso profundo bem diante da nossa porta, mas em alguns lugares a água quase secara e era fácil atravessá-lo. Parecia-me estranho estar ali com aqueles dois indianos selvagens esperando um homem que caminhava confiante para a morte.
– De repente percebi o brilho de uma lanterna encoberta do outro lado do fosso, que desapareceu atrás das trincheiras e depois apareceu de novo, vindo lentamente na nossa direção.
– “Aí estão eles”, exclamei.
– “Dê o alerta,
– “Prepare a lanterna para reconhecê-lo e verificar que é realmente o homem.”
– A luz movia-se sempre, ora parando, ora avançando, até que vimos no fosso duas figuras escuras. Deixei que descessem a ribanceira, patinhassem no atoleiro e subissem até a metade do caminho antes de gritar o alerta.
– “Quem vem lá?”, eu disse num tom meio baixo.
– “Amigos”, foi a resposta.
– Levantei a lanterna e projetei a luz sobre eles. O primeiro era um
– Fiquei arrepiado ao pensar que iam matá-lo, mas lembrei-me do tesouro e o meu coração ficou duro como uma pedra. Quando ele viu que eu era branco, deu um gritinho de alegria e veio correndo na minha direção.
– “Imploro a sua proteção,
– “O que tem nesse embrulho?”, eu perguntei.
– “Uma caixa de ferro com umas lembranças de família, que não têm valor para as outras pessoas, mas que eu lamentaria perder. Mas não sou um mendigo e eu o recompensarei,
– Eu não conseguiria me conter se falasse mais tempo com o homem. Quanto mais olhava para a sua cara gorda assustada, mais difícil me parecia assassiná-lo a sangue-frio. Era melhor acabar com aquilo.
– “Levem-no à casa da guarda”, eu disse.
– Os dois
– Eu podia ouvir os passos ressoando pelos corredores desertos. De repente, os passos cessaram e ouvi vozes, ruído de luta e de pancadas. Pouco depois ouvi, aterrorizado, o barulho de uma correria vindo na minha direção e a respiração ofegante de um homem que corria. Virei a minha lanterna para a passagem e vi o homem gordo correndo como o vento, com a cara ensangüentada, e atrás dele, saltando como um tigre, o
– Quando ele passou correndo por mim, meti-lhe o rifle entre as pernas e ele rolou como um coelho abatido. Antes que pudesse levantar-se, o
Small parou e estendeu as mãos algemadas para pegar o uísque com água que Holmes tinha preparado para ele.
Eu estava horrorizado com o homem, não só pelo caso tenebroso que ele narrava, como também pelo cinismo e petulância com que o fazia. Qualquer que fosse o castigo que o aguardasse, eu sabia que ele nunca teria a minha benevolência.
Sherlock e Jones estavam sentados com as mãos nos joelhos, profundamente interessados na história, mas as suas fisionomias revelavam o mesmo horror. Small deve ter notado, porque daí em diante eu percebi um tom de desconfiança na sua voz, e sua atitude também mudou.