– Que é que há, meu velho?
Ele olhou em torno lentamente, do jeito próprio de um velho, e perguntou:
– O sr. Sherlock Holmes está?
– Não, mas estou no seu lugar. Pode dar-me qualquer recado que tiver para ele.
– Mas é só com ele que eu queria falar.
– Mas estou lhe dizendo que sou seu substituto. Será sobre a embarcação de Mordecai Smith?
– É. Sei muito bem onde ela está. Também sei onde estão os homens que ele procura, e também sei onde está o tesouro. Sei tudo, tudo.
– Pois diga o que sabe e eu transmitirei a ele.
– Eu queria dizer para ele – repetiu, com a obstinação impertinente de uma pessoa idosa.
– Então espere por ele.
– Não, não. Não posso perder um dia inteiro para ser agradável a ninguém. Se o sr. Holmes não está, ele que trate de descobrir a história sozinho. Eu não simpatizo com nenhum de vocês dois e por isso não direi coisa nenhuma.
Ele virou-se para a porta, mas Athelney Jones ficou na frente dele.
– Espere um pouco, meu amigo. Você tem uma informação importante. Não pode ir embora assim. Você ficará aqui, quer queira quer não, até o nosso amigo voltar.
O velho fez um movimento na direção da porta, mas Jones encostou-se nela e o velho reconheceu a inutilidade da resistência.
– Bonito tratamento este – disse furioso, batendo com o cajado no chão. – Venho para tratar com um cavalheiro e encontro dois sujeitos que nunca vi na minha vida, que me agarram e me tratam desse jeito.
– Não perderá nada – disse-lhe. – Será indenizado pelo dia perdido. Sente-se aqui no sofá e não esperará muito tempo.
Ele foi andando com a cara fechada e sentou-se com o rosto apoiado nas mãos. Jones e eu recomeçamos a fumar os charutos e retomamos a conversa. Mas, de repente, ouvimos a voz de Holmes.
– Acho que deviam me oferecer um charuto também!...
Nós dois estremecemos nas nossas cadeiras: Holmes estava sentado perto de nós, com uma expressão divertida.
– Holmes – exclamei, atônito! – Você aqui? Onde está o velho?
– Aqui está o velho – respondeu, puxando uma cabeleira branca. – Aqui está ele, cabeleira, suíças, sobrancelhas, tudo. Eu achei que meu disfarce estava bom, mas nunca pensei que passaria neste teste.
– Ah, seu malandro! – gritou Jones encantado. – Você daria um ator de mão cheia. A tosse era perfeita e os seus joelhos trêmulos valiam 10 libras por semana. Só o brilho dos olhos lembrou-me você. Mas não escapou de nós com facilidade.
– Trabalhei o dia inteiro naquela caçada – disse, acendendo o charuto. – Sabe que uma boa parte da classe dos criminosos já me conhece, sobretudo depois que o nosso amigo aqui deu para publicar alguns dos meus casos. Por isso só posso continuar nessa guerra disfarçado. Recebeu o meu telegrama?
– É por isso que estou aqui.
– Como vai indo o caso?
– Não deu em nada. Tive de soltar dois dos prisioneiros e não há provas contra os outros dois.
– Não há de ser nada. Vamos dar-lhe outros dois para o lugar desses. Mas tem que ficar sob as minhas ordens. Você vai receber todo o crédito oficial, mas tem que seguir as minhas instruções. Está combinado?
– Perfeitamente, se me ajudar a pôr a mão nos homens.
– Bom. Em primeiro lugar, quero uma embarcação da polícia, rápida, uma lancha a vapor, que deve estar nas escadas de Westminster às 19 horas.
– Isso é fácil, porque há sempre uma por lá. Mas posso telefonar para me certificar.
– Quero também dois homens valentes para o caso de resistência.
– Levaremos dois ou três na embarcação. O que mais?
– Quando prendermos os homens, pegaremos o tesouro. Garanto que será um grande prazer para o meu amigo aqui levar a caixa diretamente para a moça a quem metade dele pertence por direito. Deixe que ela seja a primeira a abri-lo. Hein, Watson?
– Seria um grande prazer para mim.
– Isso não será uma maneira correta de proceder – disse Jones meneando a cabeça. – Mas a coisa toda é irregular, e parece-me que o melhor é fechar os olhos. Depois, o tesouro terá de ser entregue às autoridades até a conclusão do inquérito oficial.
– Naturalmente. Não custa nada. Há outro ponto. Eu queria muito saber de alguns detalhes sobre este caso do próprio Jonathan Small. Sabe que eu gosto de estudar os detalhes dos casos que investigo. Não fará objeção a uma entrevista particular com ele, aqui na minha casa ou em qualquer outro lugar, desde que ele seja vigiado?
– Bem, você tem o domínio da situação. Eu ainda não tive nenhuma prova da existência desse Small. Mas se você o apanhar, não vejo como poderei recusar-lhe a entrevista com ele.
– Então está entendido.
– Perfeitamente. Há mais alguma coisa?
– Apenas insisto que jante conosco, o que faremos daqui a meia hora. Tenho ostras e um casal de patos selvagens, com alguns vinhos brancos escolhidos. Watson, você ainda não conheceu os meus méritos como dono de casa.
Capítulo 10
O fim do ilhéu