Sherman era um velho magro, descarnado, de ombros caídos, pescoço musculoso e óculos azuis.
– Um amigo do sr. Sherlock Holmes é sempre bem-vindo. Entre, por favor. Mas não chegue perto desse texugo porque ele morde. Seu malcriado, queria dar uma dentada no cavalheiro?
Falava assim com uma fuinha que enfiara a cabeça de olhos vermelhos pelas grades da gaiola.
– Não ligue, meu senhor, é uma
– Quer um dos seus cães.
– Deve ser o
– É exatamente esse.
–
Moveu-se devagar com a sua vela por entre a excêntrica família de animais que reunira em torno dele. À luz vacilante da vela eu notava que havia olhos que nos espreitavam aborrecidos, sonolentos, de todos os lados. Até as vigas acima das nossas cabeças estavam cheias de aves que mudavam preguiçosamente de posição quando as nossas vozes perturbavam seu sono.
Depois de hesitar um pouco, aceitou um tablete de açúcar que Sherman me dera, selando assim a nossa aliança, e ele foi comigo no carro sem dificuldade. Tinham acabado de soar três horas no relógio do palácio quando cheguei a Pondicherry Lodge. O ex-lutador McMurdo também tinha sido preso para averiguações, e tanto ele como o sr. Sholto foram levados para o posto policial. Dois guardas estavam no portão, mas deixaram-me entrar com o cachorro quando mencionei o nome de Holmes. Ele estava na porta, com as mãos nos bolsos, fumando seu cachimbo.
– Ah, ah! Você o trouxe. Bom bicho. – Athelney Jones saiu. – Tivemos uma grande exibição de energia depois que você saiu. Ele prendeu não só o pobre Tadeu, mas também o porteiro, a governanta e o criado indiano. O lugar está à nossa disposição, mas há um sargento lá em cima. Deixe o cão aí e venha cá.
Amarramos
– Empreste-me a sua lente, sargento – disse Sherlock. – Agora prenda este pedaço de cartão no meu pescoço de modo que fique pendurado na minha frente. Obrigado. Agora tenho de tirar as meias e as botas. Você deve levá-las lá para baixo, Watson; eu vou subir por aí um pouco. Molhe o meu lenço em alcatrão. Pronto. Venha agora ao sótão comigo um instante.
Subimos pelo buraco. Holmes dirigiu a luz para as marcas de pés na poeira.
– Quero que repare bem nestas marcas. Não observa nelas nada de estranho?
– Elas foram feitas por uma criança ou uma mulher baixa.
– Além do tamanho. Vê alguma coisa?
– Parecem pegadas como qualquer outra.
– De jeito nenhum! Veja! Aqui está a marca de um pé direito. Vou marcar agora com o meu. Qual é a diferença?
– Os dedos do seu pé estão juntos e a outra marca mostra os dedos separados uns dos outros.
– Exatamente. Lembre-se disto. Agora vá até aquela janela e cheire o parapeito. Eu fico aqui por causa do lenço que tenho na mão.
Fiz como ele pediu e logo senti um cheiro forte de alcatrão.
– Foi aí que ele pôs o pé ao sair. Se
Quando cheguei lá fora, vi Holmes no telhado como um enorme pirilampo andando de gatinhas pela calha. Eu o perdi de vista quando ele passou atrás de um grupo de chaminés, mas reapareceu logo, para tornar a desaparecer no lado oposto.
Quando dei a volta, achei-o sentado num dos beirais, num canto.
– É você, Watson?
– Sou eu.
– Foi aqui. O que é aquilo preto lá embaixo?
– Um barril de água.
– Está coberto?
– Está.
– Não há sinais de que uma escada tenha sido apoiada nele?
– Não.
– Que patife. É um lugar perigoso. Se ele pôde subir, eu posso descer por aqui. O barril parece bastante firme. Lá vai... de qualquer maneira.
Ouviu-se o ruído dos pés de Holmes se arrastando e a lanterna começou a descer com firmeza pela parede. Depois, com a luz na mão, chegou ao barril, e dali pulou para o chão.
– Era fácil segui-lo – disse, enfiando as meias e as botas. – As telhas estavam soltas em todo o trajeto por onde passou, e na pressa ele perdeu isto, que confirma o meu diagnóstico, como vocês, médicos, dizem.
O que ele me mostrava era um saco pequeno de embira colorida e com umas contas de cores vivas presas em volta. Pelo tamanho e formato, parecia uma cigarreira. Dentro havia seis espinhos de madeira escura, pontudos de um lado, redondos do outro, como o que fora usado para ferir Bartolomeu Sholto.