– Ora, Susan, pessoas ofegantes podem não viver muito, você sabe. Falar mentiras é uma coisa má. A quem você contou?
– Susan – disse sua patroa –, acredito que você seja uma mulher má e traiçoeira. Lembro-me agora que a vi falando com alguém, por cima da cerca.
– Aquilo é só da minha conta – disse a mulher com raiva.
– E se eu disser que foi com Barney Stockdale que você falou? – perguntou Holmes.
– Bem, se você sabe, por que está perguntando?
– Eu não tinha certeza, mas agora tenho. Bem, Susan, você pode ganhar 10 libras se me disser quem está por trás de Barney.
– Alguém que poderia me dar 1.000 libras para cada 10 que você tem no mundo.
– Então, um homem tão rico? Não, você sorriu – uma mulher rica. Agora que já fomos tão longe, você pode, também, dizer-me o nome e receber as 10 libras.
– Prefiro vê-lo no inferno primeiro.
– Oh, Susan! Olha a linguagem!
– Vou dar o fora daqui. Já estou cheia de vocês todos. Mandarei buscar minha mala amanhã – ela dirigiu-se rapidamente para a porta.
– Adeus, Susan. Você precisa é de um calmante. Bem – ele continuou, passando rapidamente do tom espirituoso para o sério quando a porta se fechou atrás da mulher nervosa e zangada – essa quadrilha deve ser levada a sério. Vejam como eles são rápidos no jogo. Sua carta, endereçada a mim, tinha o selo das dez da noite. E, mesmo assim, Susan informou Barney. Barney teve tempo de ir até o chefe e receber instruções; ele ou ela – acho que é “ela” por causa do sorriso de Susan, quando pensou que eu me tivesse enganado – faz um plano. Black Steve é chamado, e eu, na manhã seguinte, às 11 horas, sou advertido de que devo me manter afastado. Isto é trabalho rápido, a senhora compreende.
– Mas, o que eles querem?
– Sim, este é o problema. Antes da senhora, quem era o dono da casa?
– Um capitão da marinha reformado, chamado Ferguson.
– Alguma coisa digna de menção, a respeito dele?
– Nada de que eu soubesse.
– Eu estava me perguntando se ele teria enterrado alguma coisa. É claro que hoje em dia, quando as pessoas enterram tesouros, o fazem no Banco do Correio. Mas sempre existem alguns malucos. Sem eles o mundo seria insípido. A princípio pensei em valores enterrados. Mas, neste caso, por que eles iriam querer a mobília? A senhora não teria por acaso um Rafael ou uma primeira edição de Shakespeare sem saber disso?
– Não, acho que não penso que tenho nada mais raro do que um aparelho de chá Crown Derby.
– Isto dificilmente justificaria tanto mistério. Além disso, por que é que eles não dizem abertamente o que querem? Se cobiçam seu aparelho de chá, eles podem certamente oferecer-lhe um preço por ele, sem precisar comprar tudo que a senhora possui. Não, o que eu acho é que existe alguma coisa que a senhora não sabe que tem, e da qual não abriria mão, se soubesse.
– É isto o que eu penso – eu disse.
– O dr. Watson concorda, de modo que isso confirma o que eu disse.
– Bem, sr. Holmes, o que pode ser?
– Vamos ver se conseguimos chegar a uma conclusão melhor, apenas com a análise mental. A senhora está nesta casa há um ano.
– Quase dois.
– Tanto melhor. Durante este longo período, ninguém quis nada da senhora. Agora, de repente, há três ou quatro dias, a senhora recebeu ofertas urgentes. Que conclusão a senhora tira disso?
– Isto pode significar – eu disse – que o objeto, qualquer que seja, acabou de chegar a esta casa.
– Mais uma vez de acordo – disse Holmes. – Sra. Maberley, há algum objeto que tenha acabado de chegar?
– Não; não comprei nada novo este ano.
– Realmente, isto é estranho. Bem, acho que o melhor que temos a fazer é deixar que as coisas progridam um pouco mais, até que possamos obter informações mais claras. Este seu advogado é um homem competente?
– O sr. Sutro é extremamente competente.
– A senhora tem outra criada ou foi a loura Susan, ela própria, quem acabou de bater na porta da frente?
– Tenho uma mocinha.
– Tente fazer com que Sutro passe uma ou duas noites na casa, a senhora pode precisar de proteção.
– Contra quem?
– Quem sabe? O caso é misterioso. Se eu não conseguir descobrir o que é que eles querem, terei de abordar o assunto pela outra ponta e tentar chegar ao chefão. O corretor imobiliário deu algum endereço?
– Apenas seu cartão e sua profissão. Haines – Johnson, leiloeiro e avaliador.
– Acho que não iremos encontrá-lo na lista telefônica. Profissionais honestos não escondem seu local de trabalho. Bem, a senhora me informará sobre qualquer fato novo. Aceitei este caso, e a senhora pode confiar que irei até o fim.
Quando passamos pelo vestíbulo, os olhos de Holmes, que não deixam escapar nada, descobriram muitas malas e caixas que estavam empilhadas num canto. As etiquetas eram bem visíveis.
– “Milão”, “Lucernia.” Vieram da Itália.
– São as coisas do pobre Douglas.
– A senhora ainda não as abriu? Há quanto tempo estão aqui?
– Chegaram na semana passada.
– Mas, aí está – ora, certamente isto deve ser o elo que faltava. Como é que a senhora sabe que não há nada de valor aí dentro?