rosto largo e seu nariz achatado estavam projetados para a frente, enquanto seus coléricos olhos pretos, com um brilho de maldade latente, fitavam nós dois alternadamente.
– Qual dos senhores é o sinhô Holmes? – ele perguntou.
Holmes ergueu seu cachimbo com um sorriso indolente.
– Oh! é o sinhô, é? – disse nosso visitante, contornando a mesa com passos furtivos. – Olha aqui, sinhô Holmes, não meta as mãos nos negócios alheios. Deixe que as pessoas cuidem de seus próprios negócios. Entendeu, sinhô Holmes?
– Continue falando – disse Holmes. – Está muito bom.
– Ah! Está muito bom? – rosnou o selvagem. – Maldição; não será tão bom quando eu tivé tratado ocê. Eu já lidei com gente de sua laia antes, e eles não pareciam estar bons quando eu acabei. Olhe p’ra isto, sinhô Holmes!
Ele sacudiu o punho enorme e nodoso sob o nariz do meu amigo. Holmes examinou o punho de perto, com ar de grande interesse.
– Você nasceu assim? – ele perguntou. – Ou isto aconteceu gradativamente?
Pode ter sido o sangue-frio do meu amigo ou o ligeiro ruído que fiz quando apanhei o atiçador. De qualquer modo, a atitude do nosso visitante tornou-se menos exuberante.
– Bem, eu lhe dei um aviso claro – disse ele. – Um amigo meu tem interesses lá para as bandas de Harrow – você sabe o que estou querendo dizê – e ele não quer que ocê se intrometa. Entendeu? Ocê não é a lei, e eu também não sou a lei, e se ocê se mete eu estarei por perto da mesma forma. Não se esqueça disto.
– Há já algum tempo que eu queria encontrá-lo – disse Holmes. – Não o convido para sentar-se porque não gosto do seu cheiro, mas você não é Steve Dixie, o pugilista?
– Este é o meu nome, sinhô Holmes, e vou acabar com ocê, esteja certo, se tentá me passá a conversa.
– Isto é certamente a última coisa de que você precisa – disse Holmes, olhando fixamente a boca medonha do nosso visitante. – Mas, foi a morte do jovem Perkins, na frente do Holborn Bar – O quê! Você não vai embora?
O negro havia saltado para trás, e seu rosto ficou cinzento.
– Não quero ouvir este tipo de conversa – ele disse. – O que tenho a ver com o tal do Perkins, sinhô Holmes? Eu estava treinando no Bull Ring’ em Birmingham, quando este garoto se meteu em encrenca.
– Sim, você vai contar isto ao juiz, Steve – disse Holmes. – Andei observando você e Barney Stockdale...
– Se é assim, que Deus me ajude! Sinhô Holmes...
– Basta. Saia daqui. Eu agarro você quando quiser.
– Bom-dia, Sinhô Holmes. Espero que não tenha raiva deste seu visitante.
– Terei, a menos que você me diga quem o mandou aqui.
– Ora, isto não é nenhum segredo, sinhô Holmes. Foi o mesmo cavalheiro de quem o sinhô acabou de falá.
– E quem o mandou agir?
– Deus me ajude. Eu não sei, sinhô Holmes. Ele disse apenas: “Steve, você vai ver o sr. Holmes, e diga-lhe que a vida dele não estará segura se ele for para os lados de Harrow.” Esta é toda a verdade.
Sem esperar por qualquer outra pergunta, nosso visitante saiu da sala, de maneira tão precipitada como entrou. Holmes bateu as cinzas do cachimbo com um risinho silencioso.
– Estou satisfeito por você não ter sido obrigado a quebrar-lhe a carapinha, Watson. Percebi seus movimentos com o atiçador. Mas, na verdade, ele é um sujeito inofensivo, um bebê grande, musculoso, tolo e fanfarrão, e acovarda-se facilmente, como você viu. Ele faz parte da quadrilha de Spencer John e tomou parte em muitos desses últimos trabalhos sujos, que preciso esclarecer quando tiver tempo. Seu superior imediato, Barney, é uma pessoa mais esperta. São especializados em assaltos, chantagem, e coisas desse tipo. O que eu quero saber é quem está por trás deles desta vez.
– Mas por que eles querem intimidá-lo?
– Trata-se deste caso de Harrow Weald. Isto me fez decidir investigar o assunto, porque se alguém acha que vale a pena ter tanto trabalho com isso, é porque deve haver alguma coisa aí.
– Mas, o que será?
– Eu ia dizer-lhe, quando tivemos esse cômico interlúdio: aqui está o bilhete da sra. Maberley. Se você quiser ir comigo, vamos telefonar a ela e sair imediatamente.
Prezado sr. Sherlock Holmes, [eu li]
Houve uma sucessão de incidentes estranhos comigo em relação a esta casa, e eu apreciaria os seus conselhos. O senhor me encontrará em casa amanhã, a qualquer hora. A casa fica perto da estação de Weald. Acho que o meu falecido marido, Mortimer Maberley, foi um dos seus primeiros clientes.
Respeitosamente,
Mary Maberley
O endereço era “As Três Cumeeiras, Harrow Weald”.
– É isso! – disse Holmes. – E agora, se você dispõe de tempo, Watson, podemos partir.
Uma curta viagem de trem, e outra mais curta de carruagem, levou-nos até o endereço, uma casa de campo de tijolos e madeira, situada num terreno de uns