Na noite do terceiro dia ele entrou correndo em nossa sala, pálido, com todos os músculos do corpo possante vibrando de emoção.
– Nós o pegamos! Nós o pegamos! – gritava.
Estava incoerente em sua agitação; Holmes o acalmou com algumas palavras e fê-lo sentar-se numa poltrona.
– Calma, conte-nos os fatos pela ordem.
– Uma hora atrás ela apareceu. Foi a mulher desta vez, e o pingente que trazia faz par com o anterior. É uma mulher alta, de pele clara, com olhos de um furão.
– É ela – disse Holmes.
– Quando ela saiu da loja, eu a segui. Andou até Kennington Road e eu fiquei atrás dela. Depois entrou em uma loja. Sr. Holmes, era uma funerária!
– Sim? – perguntou Holmes, numa voz vibrante que mostrava a alma impetuosa por trás do rosto impassível.
– Ela estava conversando com uma mulher atrás do balcão. Eu também entrei. “É tarde”, eu a ouvi dizer, ou qualquer coisa parecida. A atendente estava pedindo desculpas: “Já devia estar lá a esta altura”, respondeu. “Demorou mais por ser fora do comum”. As duas pararam de falar e me encararam. Fiz uma pergunta qualquer e saí.
– O senhor fez muito bem. E aí, o que aconteceu?
– Quando a mulher saiu, eu estava escondido em um portal. Eu acho que ela já estava desconfiada, porque olhou em volta. Tomou um táxi. Tive a sorte de conseguir outro e a segui. Mais tarde ela desceu em frente ao número 36 da Poultney Square, em Brixton. Passei direto, deixei o táxi na esquina da praça e fiquei vigiando a casa.
– Viu alguém?
– Todas as janelas estavam escuras, com exceção de uma. A cortina estava descida e não consegui ver dentro da casa. Eu estava lá, de pé, pensando no que faria em seguida, quando chegou uma carroça fechada com dois homens. Eles desceram, tiraram alguma coisa da carroça e a levaram escada acima, até a porta de entrada. Sr. Holmes, era um caixão!
– Ah!
– Por um segundo eu estive a ponto de invadir a casa. A porta estava aberta para que eles passassem com a encomenda. Foi a própria mulher que a abriu. E eu continuei lá, ela me viu e creio que me reconheceu. Vi que ela estremeceu e fechou rapidamente a porta. Lembrei-me de sua recomendação e aqui estou.
– Fez um belo trabalho – disse Holmes, escrevendo alguma coisa numa folha de papel. – Não podemos fazer nada legal sem um mandado, e o senhor pode ajudar levando este bilhete às autoridades e conseguindo um. Pode haver alguma dificuldade, mas eu creio que a venda das jóias seja suficiente. Lestrade cuidará de todos os detalhes.
– Mas eles podem matá-la nesse meio-tempo. O que significa o caixão e para quem é, a não ser para ela?
– Vamos fazer tudo o que for possível, sr. Green. Não perderemos um minuto sequer. Deixe o caso em nossas mãos. E agora, Watson – ele acrescentou, depois que o visitante saiu –, ele fará a polícia entrar em ação. Como sempre, nós somos as forças irregulares e temos de seguir nossa linha de ação. A situação me parece tão desesperadora que qualquer medida extrema se justifica. Não podemos perder tempo; temos de ir a Poultney Square.
– Vamos tentar reconstituir a situação – disse Holmes enquanto passávamos rapidamente pelo edifício do Parlamento e entrávamos na Westminster Bridge. – Esses vigaristas atraíram a pobre mulher a Londres, depois de a livrarem da empregada fiel. Se ela tivesse escrito alguma carta, teria sido interceptada. Arranjaram alguma casa mobiliada, provavelmente por intermédio de algum cúmplice. Depois de estabelecidos, fizeram-na prisioneira e se apossaram das jóias preciosas, objetivo da vigarice desde o início. Já começaram a vender a fortuna, o que lhes deve parecer seguro a esta altura, pois não há motivo para eles acharem que alguém se interesse pelo destino de lady Frances Carfax. Se ela fosse libertada, naturalmente os denunciaria. Assim sendo, não pode ser libertada. Mas, ao mesmo tempo, não podem mantê-la cativa para sempre. Matá-la é a única saída.
– Isto me parece lógico.
– Vamos ver agora outra linha de raciocínio. Quando seguimos duas linhas distintas de pensamento, Watson, acabamos encontrando um ponto qualquer de ligação que leva à verdade. Vamos começar agora não da mulher, mas do caixão, e daí para trás. O fato mostra, sem dúvida, que ela está morta. Indica também um funeral ortodoxo, com atestado de óbito e os documentos legais. Se eles a tivessem assassinado, iriam enterrá-la num buraco no quintal. Mas, neste caso, tudo está sendo feito às claras e de maneira normal. O que significa isso? Certamente eles deram um jeito de ela morrer de uma maneira que enganaria o médico, e simularam uma morte natural – envenenamento, talvez. Mesmo assim me parece estranho que tenham permitido que um médico se aproximasse dela, a menos que ele também fosse um cúmplice, mas é difícil acreditar nisso.
– Mas eles não poderiam falsificar um atestado de óbito?