Читаем Sherlock Holmes - Edicao completa полностью

– Sou um celibatário – disse ele – e, sendo sociável, tenho muitos amigos. Entre eles está a família de um cervejeiro chamado Melville, que mora em Albermarle Mansion, Kensington. Foi na casa dele que conheci um jovem chamado Garcia, há algumas semanas. Ele era, fiquei sabendo, de descendência espanhola, e tinha uma ligação com a embaixada. Falava inglês corretamente, era agradável, e um sujeito simpático como nunca vi antes. Começamos uma sólida amizade, ele e eu. Ele pareceu gostar de mim desde o início e dois dias depois de nosso encontro ele foi me visitar em Lee. Uma coisa leva à outra, e ele acabou me convidando para passar alguns dias em sua casa em Vila Glicínia, entre Esher e Oxshott. Ontem à noite fui a Esher para atender ao seu convite. Antes de ir lá, ele já tinha me contado sobre sua casa. Morava com um caseiro de confiança, um patrício dele, que cuidava de tudo. Esse sujeito falava inglês e tomava conta da casa. Tinha também um magnífico cozinheiro, ele disse, um mestiço que tinha encontrado numa de suas viagens, e que podia servir um jantar excelente. Lembro-me de que ele comentou que só se encontrava uma criadagem estranha no coração de Surrey, e eu concordei com ele, embora ela tenha mostrado que era muito mais estranha do que eu pensei. Dirigi-me para lá, mais ou menos 3 quilômetros ao sul de Esher. A casa é grande, afastada da estrada, com um caminho em curva, ladeado de arbustos verdes. É uma construção antiga, em ruínas, num lamentável estado de desordem. Quando a carruagem parou no caminho coberto de mato, diante da porta manchada e desbotada, eu duvidei de minha sanidade pelo fato de ir visitar um homem que eu mal conhecia. Mas ele mesmo abriu a porta e me cumprimentou com grande cordialidade. Ele me deixou por conta do criado, um sujeito taciturno e moreno que me guiou até meu quarto, carregando minha mala. O lugar todo era deprimente. Jantamos os dois sozinhos, e embora meu anfitrião tivesse feito tudo para me entreter, tive a impressão de que seus pensamentos estavam longe, e ele falava de uma maneira tão vaga e incoerente que eu mal conseguia entendê-lo. Ficava constantemente batucando com os dedos, roía as unhas, e dava outros sinais de impaciência. O jantar propriamente não foi nem bem servido, nem foi preparado, e a presença do empregado taciturno não ajudou a nos alegrar. Eu lhes garanto que muitas vezes durante a noite quis inventar uma desculpa para poder voltar a Lee. Eu me lembro de uma coisa que pode ter alguma relação com aquilo que os senhores estão investigando. Não dei a mínima importância na ocasião. Quase no fim do jantar o criado entregou a ele um bilhete. Notei que meu anfitrião ficou ainda mais distraído e estranho depois que leu a mensagem. Deixou de conversar e ficou sentado, fumando um cigarro atrás do outro, perdido nos próprios pensamentos, mas nada disse sobre o bilhete. Fiquei contente por estar na cama por volta das 11 horas. Um pouco mais tarde Garcia apareceu na porta do meu quarto – estava tudo escuro – e me perguntou se eu tinha tocado a campainha. Eu disse que não. Ele se desculpou por me perturbar tão tarde, dizendo que já era uma da manhã. Peguei no sono depois disso e dormi profundamente a noite toda. E agora vem a parte impressionante da minha história. Quando acordei, já era dia claro, consultei o relógio e vi que eram quase nove horas. Eu tinha pedido para ser chamado às oito, de modo que fiquei espantado com o esquecimento. Levantei-me e toquei a campainha, chamando o empregado. Não houve resposta. Toquei mais duas vezes, com o mesmo resultado. Então cheguei à conclusão de que a campainha não estava funcionando. Vesti-me apressadamente e desci correndo as escadas, de mau humor, a fim de pedir um pouco de água quente. Podem imaginar minha surpresa quando descobri que não havia ninguém lá. Gritei no vestíbulo. Sem resposta. Então fui de quarto em quarto. Tudo deserto. Meu anfitrião tinha me mostrado na noite anterior qual era o quarto dele, e então bati na porta. Nenhuma resposta. Virei a maçaneta e entrei. O quarto estava vazio e a cama não tinha sido usada. Ele tinha ido embora com os outros. O anfitrião estrangeiro, o criado estrangeiro, o cozinheiro estrangeiro, todos tinham se evaporado na noite! Esse foi o fim de minha visita à Vila Glicínia.

Sherlock Holmes estava esfregando as mãos e sorria satisfeito por poder acrescentar este caso estranho à sua coleção de episódios bizarros.

– Pelo que estou vendo – ele disse – sua aventura é absolutamente estranha. Posso lhe perguntar, senhor, o que fez então?

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