– Sim, mas o passo seguinte precisa de reflexão. Ele está bem armado. Eu o enganei, mas, mesmo assim, é provável que esteja alerta. Suponha que eu o leve a um quarto onde estejam sete homens, quando ele esperava me encontrar sozinho. Haverá tiroteio e alguém vai se machucar.
– É verdade.
– E o barulho fará com que todos os guardas da cidade caiam sobre nós.
– Acho que você está certo.
– É assim que devo pensar. Vocês todos ficarão no salão – aquele que o senhor viu quando foi falar comigo. Vou abrir a porta para ele, levo-o para a outra sala e deixo-o ali enquanto vou apanhar os papéis. Isso me dará oportunidade de lhes dizer como estão as coisas. Depois volto para onde ele está com alguns papéis falsos. Enquanto estiver lendo, eu pulo em cima dele e pego sua arma. Vocês ouvem o meu chamado e correm. Quanto mais rápido, melhor, pois ele é forte como eu e pode ser difícil de controlar. Mas acho que posso segurá-lo até vocês chegarem.
– É um bom plano – disse McGinty. – A Loja ficará em dívida com você por isso. Acho que quando eu deixar este posto poderia indicar o homem que me sucederá.
– Bem, conselheiro, sou pouco mais que um recruta – disse McMurdo, mas seu rosto mostrava o que ele pensava do cumprimento do grande homem.
Quando voltou para casa, fez seus preparativos para a noite difícil que teria pela frente. Primeiramente limpou, lubrificou e carregou sua Smith Wesson. Depois examinou a sala em que o detetive seria pego na armadilha. Era um cômodo grande, com uma mesa comprida no centro e o grande fogão num canto. Em cada um dos lados havia uma janela. Não havia postigos, apenas cortinas leves que corriam para os lados. McMurdo examinou-as atentamente. Sem dúvida deve ter-lhe ocorrido que o apartamento era muito devassado para um assunto tão secreto. Mas sua distância da estrada compensava essa desvantagem. Finalmente ele discutiu o assunto com o outro inquilino. Scanlan, embora fosse um Scowrer, era um homenzinho inofensivo, fraco demais para se opor à opinião dos seus companheiros, mas ficava secretamente horrorizado com os atos sanguinários que algumas vezes fora obrigado a assistir. McMurdo contou-lhe resumidamente o que iria acontecer.
– E se eu fosse você, Mike Scanlan, passaria a noite longe, e fora de tudo isso. Vai correr muito sangue por aqui antes de amanhecer.
– Na verdade, Mac – Scanlan disse –, não é a vontade que manda em mim, e sim os nervos. Quando eu vi o gerente Dunn cair lá na mina de carvão, foi demais pra mim. Não fui feito pra isso. Não sou como você ou McGinty. Se a Loja não for pensar mal de mim, farei como você disse. E sairei quando anoitecer.
Os homens chegaram na hora certa, como combinado. Eles eram aparentemente cidadãos respeitáveis, bem-vestidos e limpos, mas um bom conhecedor de fisionomias veria facilmente naquelas bocas e olhos implacáveis que havia poucas esperanças para Birdy Edwards. Não havia um homem naquela sala cujas mãos já não tivessem ficado ensangüentadas antes. Eles eram tão insensíveis para assassinatos quanto um açougueiro para desossar um boi. Em primeiro lugar, tanto em aparência quanto em culpa, estava o terrível chefe. Harraway, o secretário, era um homem magro, mordaz, com um pescoço longo e fino e os membros irrequietos, nervosos – um homem de incorruptível fidelidade no que se referia às finanças da Ordem, e sem noção alguma de justiça ou honestidade em relação às outras pessoas. O tesoureiro, Carter, era um homem de meia-idade com um ar impassível, bastante rabugento, com uma pele amarelada feito pergaminho. Ele era um organizador competente, e todos os detalhes de cada ataque saíam de seu cérebro conspirador. Os dois Willabys eram homens de ação, jovens altos e ágeis, de rostos determinados, enquanto que seu companheiro, Tigre Cormac, um jovem moreno e pesadão, era temido até por seus próprios camaradas pela ferocidade de seu temperamento. Eram esses os homens reunidos aquela noite sob o teto de McMurdo para o assassinato do detetive de Pinkerton.
O anfitrião pusera uma garrafa de uísque na mesa e eles se apressavam em se embebedar antes do serviço que tinham pela frente. Baldwin e Cormac já estavam meio bêbados, e o álcool despertara toda a ferocidade deles. Cormac pôs as mãos sobre a lareira por um instante – ela estava acesa, porque as noites de primavera ainda eram geladas.
– Vamos pegá-lo – disse ele.
– É – comentou Baldwin, ansioso. – Se ele for tratado direitinho, falará tudo.
– Ele falará tudo, não se preocupe – disse McMurdo. Ele tinha nervos de aço, pois, embora toda a responsabilidade do caso fosse dele, seu jeito era frio e despreocupado como sempre. Os outros notaram isso e o cumprimentaram.
– Você é o cara certo para lidar com ele – disse o chefe, de modo aprovador. – Ele não perceberá nada até que você esteja com as mãos em seu pescoço. É uma pena que suas janelas não tenham persianas.
McMurdo puxou as cortinas das duas janelas.
– Bem, ninguém pode nos ver aqui dentro agora. Está quase na hora.