Ela segurou a mão dele sem dizer nada.
– Então escute o que vou dizer e faça tudo da maneira que eu mandar, pois é nossa única saída. Vão acontecer coisas neste vale. Sinto isso nos meus ossos. Pode haver muita gente atrás de nós. Mas eu sou um só. Se eu for embora, de dia ou à noite, você terá de ir comigo.
– Eu vou atrás de você, Jack.
– Não, não. Você deve ir comigo. Se esse vale se fechar pra mim e eu não puder voltar mais, como posso deixá-la aqui, talvez tendo que me esconder da polícia sem uma possibilidade de enviar uma mensagem a você? Conheço uma boa senhora no lugar de onde eu vim, e é lá que deixarei você até que possamos nos casar. Você vem?
– Sim, Jack, eu irei.
– Deus a abençoe por confiar em mim. Que o fogo do inferno me queime se eu não fizer o que prometo. Agora veja bem, Ettie, direi apenas uma palavra a você, e quando receber o recado, deixe tudo e vá para o saguão da estação da ferrovia e me espere até que vá me encontrar com você.
– Seja dia ou noite, atenderei o seu chamado, Jack.
Um pouco mais tranqüilo, agora que já começara a se preparar para fugir, McMurdo seguiu para a Loja. Já estavam todos reunidos, e somente depois de fazer complicados sinais e contra-sinais ele conseguiu passar pelos vigias externos e internos que protegiam os membros da sociedade. Um murmúrio de satisfação e de boas-vindas o saudou quando entrou. A grande sala estava lotada, e através da fumaça dos cigarros ele viu a cabeleira preta e emaranhada do chefe, a fisionomia hostil de Baldwin, a cara de abutre de Harraway, o secretário, e o rosto de mais alguns que estavam entre os líderes da Loja. Ele gostou que estivessem todos ali para tomar conhecimento das novidades.
– De fato ficamos contentes com a sua presença, irmão! – exclamou o presidente. – Há certas coisas aqui que precisam de um Salomão para julgá-las convenientemente.
– O caso é Lander e Egan – explicou o homem ao seu lado, enquanto ele se sentava. – Os dois reclamam o direito de receber o dinheiro que a Loja vai dar pela morte do velho Crabbe em Stylestown. Mas quem pode dizer qual deles acertou o tiro que matou o velho?
McMurdo levantou-se e fez sinal com a mão, pedindo a palavra. A expressão do seu rosto deixou todos atentos. Em silêncio, esperaram as palavras dele.
– Venerável Chefe – ele disse num tom solene – tenho um assunto urgente.
– O Irmão McMurdo pede urgência – disse McGinty. – É um pedido que, pelas regras da Loja, tem prioridade. Pode falar, irmão.
– Venerável Chefe e companheiros – disse ele – sou portador de más notícias, mas é melhor que elas sejam anunciadas e discutidas, do que recebermos um golpe sem aviso, o que nos destruiria. Tenho informações de que as organizações mais poderosas e mais ricas deste Estado uniram suas forças para nos destruir, e que neste exato momento há um detetive de Pinkerton, um sujeito chamado Birdy Edwards, trabalhando aqui no vale e recolhendo provas que possam colocar uma corda em volta do pescoço de muitos de nós e mandar todos os que estão nesta sala para uma cela. Esta é a situação a ser discutida e para a qual pedi urgência.
Houve um silêncio absoluto na sala. Que foi quebrado pelo presidente.
– Qual a prova disso, Irmão McMurdo? – perguntou.
– Está na carta que recebi – disse McMurdo. Ele leu o trecho em voz alta. – É uma questão de honra para mim não dar maiores detalhes sobre a carta, nem passá-la às suas mãos, mas garanto que não há mais nada nela que seja do interesse da Loja. Apresento o caso a vocês do modo como me foi exposto.
– Sr. presidente – disse um dos membros mais velhos – já ouvi falar em Birdy Edwards e que ele tem a fama de ser o melhor homem do serviço de Pinkerton.
– Alguém já o viu? – perguntou McGinty.
– Sim – disse McMurdo –, eu já o vi.
Houve um murmúrio de perplexidade na sala.
– Acho que o temos na palma da mão – ele continuou, com um sorriso de satisfação. – Se agirmos bem depressa e de forma inteligente, podemos acabar logo com isso. Se eu merecer sua confiança e sua ajuda, teremos pouco a temer.
– O que temos a temer? O que ele pode saber a respeito das nossas atividades?
– O senhor poderia dizer isso se todos nós fôssemos íntegros como o senhor, conselheiro. Mas esse sujeito tem todos os milhões dos capitalistas a apoiá-lo. O senhor acha que não existe um irmão mais fraco que possa ser comprado? Assim ele conhecerá nossos segredos. Talvez já os tenha. Só há um remédio.
– Que ele jamais saia do vale – disse Baldwin.
McMurdo assentiu.
– Certo, Irmão Baldwin – disse ele. – Você e eu tivemos umas diferenças, mas esta noite você disse a palavra certa.
– Onde ele está? Onde podemos vê-lo?