Quando ele acabou de responder, a luz amarelada do escritório foi ofuscada por alguém que passava na frente dela de um lado para outro, para lá e para cá. Os loureiros atrás dos quais nos encontrávamos ficavam bem em frente à janela e a poucos metros de distância. Ela foi aberta, fazendo ranger as dobradiças, e pudemos ver a silhueta da cabeça e dos ombros de um homem que se debruçava no peitoril e olhava a escuridão. Durante alguns minutos ele observou tudo atentamente, de modo furtivo, dissimulado, como alguém que deseja se certificar de que não há ninguém observando. Então ele se inclinou para a frente e, no absoluto silêncio, percebemos o discreto ruído de água sendo agitada. Parecia que ele estava mexendo na água com algo que tinha na mão. Então, de repente, ele puxou qualquer coisa como um pescador faz depois de fisgar um peixe: um objeto grande, redondo, que obscureceu a luz no momento em que passou pela esquadria da janela.
– Agora! – gritou Holmes. – Agora!
Ficamos todos de pé, com nossos membros entorpecidos, enquanto ele, com aquela explosão de energia que podia fazer dele em certas ocasiões o homem mais ágil e mais forte que eu já conhecera, corria pela ponte e tocava violentamente o sino. Ouviu-se o ruído de pinos sendo destravados do outro lado e o atônito Ames apareceu na porta. Holmes empurrou-o para o lado sem dizer nada, seguido por todos nós, e irrompeu no cômodo onde entrara o homem que estávamos observando.
A lamparina sobre a mesa era a origem da claridade que havíamos visto lá de fora. Estava agora na mão de Cecil Barker, que a levantou na nossa direção quando entramos no cômodo. A luz fazia brilhar seu rosto forte, resoluto, escanhoado, e seus olhos ameaçadores.
– Com os diabos, o que significa tudo isso? – ele gritou. – O que estão procurando?
Holmes deu uma rápida olhada pelo escritório e então dirigiu-se rapidamente para um pacote encharcado amarrado com cordas que estava no lugar onde havia sido jogado, debaixo da escrivaninha.
– Foi atrás disso que viemos, sr. Barker. Desse pacote que contém um halter, e que o senhor acabou de apanhar no fundo do fosso.
Barker olhou para Holmes mostrando surpresa em seu olhar.
– Que raios! Como o senhor ficou sabendo? – ele perguntou.
– Simplesmente porque eu coloquei isso lá no fundo.
– O senhor colocou lá! O senhor!
– Talvez eu devesse dizer “recoloquei lá no fundo” – disse Holmes. – O senhor deve se lembrar, inspetor MacDonald, de que eu estava estranhando a falta de um halter. Chamei sua atenção para isso, mas, devido à pressão de outras ocorrências, o senhor não teve muito tempo para examinar o assunto, o que lhe permitiria tirar conclusões sobre isso. Quando há água por perto e some alguma coisa pesada, não é muito difícil supor que esse objeto foi jogado na água. A idéia merecia pelo menos ser verificada. Então, com a ajuda de Ames, que me fez entrar até o escritório, e com o cabo do guarda-chuva do dr. Watson, consegui, ontem à noite, içar este pacote e inspecioná-lo. Mas era da maior importância que pudéssemos provar quem o havia colocado ali. Isso nós conseguimos por meio do simples artifício de avisar que o fosso seria esvaziado amanhã, o que faria com que a pessoa que escondeu o pacote fosse certamente retirá-lo de lá quando a noite caísse e a escuridão lhe permitisse fazer isso. Temos quatro testemunhas que viram quem se aproveitou dessa oportunidade e, portanto, sr. Barker, acho que o senhor agora tem a palavra.
Sherlock Holmes colocou o pacote molhado em cima da mesa, ao lado da lamparina, e desamarrou a corda que o prendia. Do embrulho ele retirou o halter, que colocou no chão perto do outro halter, no canto do escritório. Depois retirou um par de botas.
– Americanas, como podem ver – ele comentou, apontando para a parte da frente do calçado. Depois ele colocou sobre a mesa uma faca comprida, dentro da bainha. Finalmente ele desamarrou uma trouxa de roupas, contendo uma muda completa de roupas de baixo, meias, um terno cinza de tweed e um sobretudo amarelo e curto.
– As roupas são comuns – comentou Holmes – exceto o sobretudo, que tem detalhes bem sugestivos. – Ele o colocou contra a luz, enquanto seus dedos finos e compridos percorriam o casaco. – Aqui, como podem perceber, é o bolso interno, aumentado para dentro do forro de modo a dar espaço para a espingarda serrada. A etiqueta do alfaiate está no colarinho: Neale, Outfitter, Vermissa, EUA. Eu passei uma tarde muito proveitosa na biblioteca do pároco e aumentei meus conhecimentos ao saber que Vermissa é uma próspera cidadezinha perto de um dos mais conhecidos vales de carvão e ferro dos Estados Unidos. Lembro-me, sr. Barker, de que o senhor associou os distritos de carvão à primeira esposa do