– Sim, sim. Não há dúvida de que ele está em algum lugar, e não há dúvida de que vamos pegá-lo. Mas não acho que os senhores devam perder seu tempo em East Ham ou Liverpool. Tenho certeza de que podemos chegar ao resultado final de um modo mais direto.
– O senhor está escondendo alguma coisa. Não é justo da sua parte, sr. Holmes. – O inspetor estava aborrecido.
– O senhor conhece os meus métodos de trabalho, sr. Mac. Mas vou esconder essas coisas pelo menor tempo possível. Quero apenas verificar certos detalhes, o que pode ser feito prontamente, depois me despeço e volto para Londres, deixando minhas condenações inteiramente à sua disposição. Eu tenho muita consideração pelo senhor para agir de outro modo, pois em toda a minha experiência não me lembro de nenhum caso mais estranho e interessante.
– Não entendo, sr. Holmes. Nós o encontramos ontem à noite quando voltamos de Tunbridge Wells, e o senhor concordou com os resultados a que chegamos. O que aconteceu desde então para que o senhor tenha uma idéia completamente diferente sobre o caso?
– Já que o senhor me pergunta, eu passei algumas horas, como disse que ia fazer, na Casa Senhorial ontem à noite.
– Sim, e o que aconteceu?
– Ah, só posso lhe responder de um modo bastante genérico por enquanto. A propósito, estive lendo uma história curta, mas muito clara e interessante, sobre aquela velha construção, vendida pela modesta soma de 1 pêni pelo negociante de fumo local. – Holmes puxou do bolso do colete um pequeno pedaço de papel com um esboço da Casa Senhorial. – O interesse por uma investigação aumenta, meu caro sr. Mac, quando se tem afinidade com a ambientação histórica do lugar. Não fique tão impaciente, pois lhe garanto que mesmo uma descrição tão resumida como esta lança um pouco de luz sobre o passado. Permita-me dar-lhe uma prova disso. “Mandada erigir no quinto ano do reinado de James I, e localizada no sítio de uma construção muito mais antiga, a Casa Senhorial de Birlstone apresenta um dos melhores exemplos ainda existentes de residência com fosso da época daquele governante...”
– O senhor está nos fazendo de bobos, sr. Holmes.
– Ora, sr. Mac! É a primeira demonstração da irritação que percebo no senhor. Bem, não vou ler isso aqui na íntegra, já que o senhor reagiu desse modo. Mas quando eu lhe disser que há um relato da tomada do lugar por um coronel do Parlamento, em 1644, do fato de Charles ter se escondido lá durante vários dias durante a Guerra Civil e, finalmente, da visita que o segundo George fez à casa, o senhor irá admitir que há várias associações de interesse ligadas a esta casa antiga.
– Não duvido, sr. Holmes. Mas isso não é assunto nosso.
– Não é? Não é? Mente aberta, meu caro sr. Mac, é uma das coisas essenciais em nossa profissão. A integração de idéias e os usos indiretos do conhecimento são de grande interesse. Desculpe essas observações de alguém que, embora um simples conhecedor do crime, é mais velho e talvez mais experiente que o senhor.
– Sou o primeiro a admitir isso – disse o detetive com veemência.
– Bem, bem. Vou deixar a História de lado e voltar aos fatos atuais. Estive ontem à noite, como já disse, na Casa Senhorial. Não vi nem o sr. Barker nem a sra. Douglas. Não vi necessidade de perturbá-los, mas gostei de saber que a senhora aparentemente não estava abatida e que havia jantado muito bem. Minha visita foi especialmente ao bondoso sr. Ames, com quem troquei algumas amabilidades, que culminaram com a permissão dele, sem consultar ninguém mais, para que eu ficasse sozinho no escritório durante algum tempo.
– O quê! Puxa! – eu exclamei.
– Não, não. Está tudo em ordem agora. O senhor havia dado permissão para isso, sr. Mac, segundo fui informado. O lugar estava com sua arrumação normal e ali passei um quarto de hora que valeu a pena.
– O que o senhor fez?
– Bem, para não fazer mistério de algo tão simples, eu estava à procura do halter que desapareceu. Isso sempre significou muito para mim na avaliação do caso. Acabei encontrando.
– Onde?
– Ah! Aqui chegamos ao limiar do inexplorado. Deixe-me avançar um pouco mais, só um pouco mais, e prometo que contarei tudo que sei.
– Bem, somos obrigados a aceitar suas condições – disse o inspetor. – Mas nos dizer para abandonar o caso... Por quê, em nome de Deus, deveríamos abandonar o caso?
– Pelo simples motivo, meu caro sr. MacDonald, de que o senhor ainda não tem a menor idéia do que está investigando.
– Estamos investigando o assassinato do sr. John Douglas, de Birlstone.
– Sim, sim. Está bem. Mas não se preocupe em seguir o misterioso cavalheiro da bicicleta. Eu lhe garanto que isso não o ajudará.
– Então o que o senhor nos sugere fazer?
– Eu lhe direi exatamente o que fazer, se o senhor fizer o que eu disser.
– Bem, tenho de admitir que sempre achei que o senhor tinha razão, mesmo com suas maneiras estranhas de trabalhar. Farei o que o senhor disser.
– E o sr. White Mason?
O detetive do interior olhou desalentadamente de um para o outro. Holmes e seus métodos eram novos para ele.