Quando ficou tão limpo, cor-de-rosa e aparado como lhe era possível, Tyrion vasculhou o guarda-roupa e escolheu um par de calções apertados de cetim, do carmesim Lannister, e seu melhor gibão, o de pesado veludo negro com os rebites em forma de cabeça de leão. Teria colocado também a sua corrente de mãos douradas, se o pai não a tivesse roubado dele enquanto estava à beira da morte. Só depois de se vestir é que compreendeu a que ponto aquela loucura tinha chegado.
A luz se projetava sobre a muralha do castelo quando disse a Podrick Payne que ia visitar Varys.
– Vai demorar, senhor? – perguntou o garoto.
– Ah, espero que sim.
Com a Fortaleza Vermelha tão cheia de gente, Tyrion não podia acalentar a esperança de passar despercebido. Sor Balon Swann estava de guarda junto à porta, e Sor Loras Tyrell, à ponte levadiça. Parou para trocar amabilidades com ambos. Era estranho ver o Cavaleiro das Flores todo de branco quando anteriormente andara sempre tão colorido como um arco-íris.
– Quantos anos você tem, Sor Loras? – perguntou-lhe.
– Dezessete, senhor.
– Se me perdoa a pergunta, sor... por que é que alguém escolhe se juntar à Guarda Real aos dezessete anos?
– O Príncipe Aemon, o Cavaleiro do Dragão, proferiu os votos aos dezessete – disse Sor Loras –, e o seu irmão Jaime era ainda mais novo.
– Eu conheço os motivos deles. Quais são os seus? A honra de servir junto a modelos de cavalaria como Meryn Trant e Boros Blount? – deu ao rapaz um sorriso zombeteiro. – Para defender a vida do rei, desistiu da sua. Abriu mão de suas terras e títulos, perdeu a esperança num casamento, em filhos...
– A Casa Tyrell continua por meio de meus irmãos – disse Sor Loras. – Não é necessário que um terceiro filho se case, ou se reproduza.
– Não é necessário, mas há quem ache isso prazeroso. E o amor?
– Depois de o sol se pôr, não há vela que possa substituí-lo.
– Isso vem de uma canção? – Tyrion inclinou a cabeça, sorrindo. – Sim, tem dezessete anos. Agora entendo.
Sor Loras retesou-se.
– Está caçoando de mim?
– Não. Se o ofendi, perdoe-me. Um dia eu mesmo tive uma amada, e nós também tínhamos uma canção.
Perto dos canis, um grupo de homens de armas assistiam a uma luta de cães. Tyrion parou tempo suficiente para ver o cão menor arrancar metade do focinho do maior, e conquistou algumas gargalhadas ao observar que o perdedor se assemelhava agora a Sandor Clegane. Então, esperando ter desarmado a desconfiança dos homens, prosseguiu na direção da muralha norte e desceu a curta escadaria que levava à pobre habitação do eunuco. A porta abriu-se no momento em que erguia a mão para bater.
– Varys? – Tyrion deslizou para dentro. – Você está aí? – Uma única vela iluminava as trevas, enchendo o ar com o cheiro de jasmim.
– Senhor. – Uma mulher surgiu à luz; roliça, suave, com aspecto de matrona e um rosto que mais parecia uma lua redonda e cor-de-rosa, além de pesados caracóis escuros. Tyrion recuou. – Há algo errado? – perguntou a mulher.
– Por um horrível momento pensei que tivesse me trazido Lollys em vez de Shae. Onde está ela?
– Aqui, senhor. – Ela pôs as mãos sobre seus olhos, por trás. – Será capaz de adivinhar o que estou vestindo?
– Nada?
– Oh, é tão
– É muito bela dentro de nada.
– Sou? – disse ela. – Sou mesmo?
– Oh, sim.
– Então não devia estar me fodendo em vez de falando?
– Primeiro temos de nos livrar da Senhora Varys. Não sou um daqueles anões que gostam de público.
– Ele foi embora – disse Shae.