O vento soprou durante todo o dia, a princípio constante e de leste, e depois em violentas rajadas. O sol pôs-se num deslumbramento vermelho.
Mas mais tarde, nessa noite, enquanto o
Irri estava dormindo aos pés do beliche (era estreito demais para três, e naquela noite era a vez de Jhiqui dividir a macia cama de penas com a sua
– Entre – disse, quando viu Sor Jorah à porta, sob uma lanterna oscilante.
O cavaleiro exilado abaixou a cabeça ao entrar.
– Vossa Graça, lamento perturbar seu sono.
– Não estava dormindo, sor. Entre e observe. – Tirou um pedaço de carne de porco salgada da tigela que tinha no colo e ergueu-o para os dragões verem. Todos os três o olharam com um ar faminto. Rhaegal estendeu asas verdes e agitou o ar, e o pescoço de Viserion balançou de um lado para o outro como uma longa serpente pálida, enquanto seguia o movimento de sua mão. – Drogon – disse Dany em voz baixa –,
O movimento de Drogon foi mais rápido do que o ataque de uma cobra. Chamas saíram rugindo de sua boca, em laranja, escarlate e negro, torrando a carne antes que começasse a cair. Quando seus afiados dentes negros se fecharam em volta do naco, a cabeça de Rhaegal projetou-se para perto, como que para roubar a recompensa das mandíbulas do irmão, mas Drogon engoliu e guinchou, e o dragão verde, menor, só pôde silvar, frustrado.
– Pare com isso, Rhaegal – disse Dany, aborrecida, dando-lhe uma pancada na cabeça. – Já comeu o último. Não admito dragões gananciosos. – Sorriu para Sor Jorah. – Já não vou precisar esturricar a carne deles num braseiro durante muito mais tempo.
– Vejo que não.
Os três dragões viraram as cabeças ao ouvir aquela palavra, e Viserion soltou uma labareda de um dourado claro que fez Sor Jorah dar um apressado passo para trás. Dany soltou um risinho.
– Cuidado com essa palavra, sor, senão é provável que eles chamusquem sua barba. Significa “fogo de dragão” em Alto Valiriano. Quis arranjar um comando que não fosse provável que alguém proferisse por acidente.
Mormont fez um aceno.
– Vossa Graça – disse –, gostaria de saber se posso conversar um pouco com a senhora em particular.
– Claro. Irri, deixe-nos por um instante. – Pôs uma mão no ombro nu de Jhiqui e sacudiu a outra aia até acordá-la. – Você também, querida. Sor Jorah precisa falar comigo.
– Sim,
Dany deixou os dragões lutarem pelo resto do porco salgado, e deu palmadinhas na cama a seu lado.
– Sente-se, bom sor, e diga-me o que o perturba.
– Três coisas. – Sor Jorah sentou-se. – Belwas, o Forte. Aquele Arstan Barba-Branca. E Illyrio Mopatis, que os enviou.
– E por quê?
– Os magos de Qarth disseram-lhe que seria traída três vezes – lembrou-lhe o cavaleiro exilado, enquanto Viserion e Rhaegal começavam a morder e arranhar um ao outro.
– Uma vez por sangue, uma vez por ouro e uma vez por amor. – Não era provável que Dany se esquecesse. – Mirri Maz Duur foi a primeira.
– O que significa que ainda restam dois traidores... e agora aparecem aqueles dois. Sim, acho isso perturbador. Não se esqueça de que Robert ofereceu uma senhoria ao homem que a matar.
Dany inclinou-se para a frente e deu um puxão na cauda de Viserion, para tirá-lo de cima do irmão verde. A colcha soltou-se de seu corpo quando se mexeu. Agarrou-a apressadamente e voltou a cobrir-se.
– O Usurpador está morto – disse.
– Mas o filho governa em seu lugar. – Sor Jorah ergueu o olhar, e os seus olhos escuros encontraram os dela. – Um filho atencioso paga as dívidas do pai. Até as dívidas de sangue.
– Esse garoto, Joffrey, pode me querer morta... caso se lembre de que estou viva. O que isso tem a ver com Belwas e Arstan Barba-Branca? O velho sequer usa uma espada. Você viu que não.