A bem da verdade, Merrett odiava a floresta, e odiava ainda mais os fora da lei. “Os fora da lei roubaram-me a vida”, fora ouvido protestando quando estava de pileque. Estava de pileque com demasiada frequência, dizia o pai, frequente e ruidosamente. É bem verdade, pensou, pesaroso. Nas Gêmeas era preciso arranjar uma distinção qualquer, caso contrário eram capazes de se esquecer de sua existência, mas descobrira que uma reputação como o maior bebedor do castelo pouco havia feito para melhorar as suas chances. Um dia esperei me tornar o maior cavaleiro que algum dia baixou uma lança para o ataque. Os deuses roubaram-me isso. Por que não haveria de beber uma taça de vinho de vez em quando? Ajuda minhas dores de cabeça. Além disso, minha mulher é uma megera, meu pai despreza-me, meus filhos são inúteis. O que tenho eu que me leve a ficar sóbrio?
Mas agora estava sóbrio. Bem, tinha bebido dois cornos de cerveja quando quebrou o jejum e uma pequena taça de tinto quando se pôs a caminho, mas isso havia sido apenas para evitar que a cabeça latejasse. Merrett sentia a dor de cabeça preparando-se atrás dos olhos e sabia que se lhe desse meia oportunidade, em breve se sentiria como se tivesse uma trovoada entre as orelhas. Às vezes, as dores de cabeça eram tão fortes que até chorar doía demais. Então tudo o que conseguia fazer era ficar deitado na cama, num quarto escuro, com um pano úmido por cima dos olhos, e amaldiçoar a sorte e o fora da lei anônimo que lhe fizera aquilo.
Só de pensar nisso, ficava ansioso. Agora não podia se dar ao luxo de ter uma dor de cabeça. Se trouxer o Petyr de volta em segurança, a minha sorte mudará. Levava o ouro, tudo que tinha de fazer era subir ao topo de Pedravelhas, encontrar-se no castelo arruinado com os malditos fora da lei, e fazer a troca. Um simples resgate. Nem ele poderia estragar aquilo... a menos que tivesse uma dor de cabeça, uma tão forte que o deixasse incapaz de montar a cavalo. Devia estar nas ruínas até o pôr do sol, não choramingando enrolado sobre si mesmo à beira da estrada. Merrett esfregou as têmporas com dois dedos. Mais uma volta ao monte e estarei lá. Quando a mensagem tinha chegado e ele se ofereceu para levar o resgate, o pai olhou-o de viés e disse:
– Você, Merrett? – e desatou a rir pelo nariz, aquele hediondo heh, heh, heh que fazia quando ria. Merrett tinha sido praticamente obrigado a suplicar antes de lhe darem o maldito saco de ouro.
Algo se moveu na vegetação rasteira ao longo da beira da estrada. Merrett puxou as rédeas com força e levou a mão à espada, mas era apenas um esquilo.
– Estúpido – disse a si mesmo, voltando a enfiar a espada na bainha sem ter chegado a desembainhá-la por completo. – Os fora da lei não têm cauda. Maldito inferno, Merrett, controle-se. – Seu coração estava aos saltos no peito, como se fosse um rapazinho verde em sua primeira campanha. Como se esta fosse a mata do rei e eu me preparasse para enfrentar a antiga Irmandade, em vez do patético bando de salteadores do Senhor do Relâmpago. Por um momento sentiu-se tentado a dar meia-volta e trotar monte abaixo, em busca da cervejaria mais próxima. Aquele saco de ouro compraria um monte de cerveja, suficiente para que se esquecesse por completo de Petyr Espinha. Que o enforquem, foi ele que fez com que isso lhe acontecesse. Não é mais do que merece, depois de ir atrás de uma seguidora de acampamentos qualquer como se fosse um veado no cio.