– Esta é a galeota
– Espere – disse subitamente Arya. – Tenho mais uma coisa. – Enfiara-a na roupa de baixo para mantê-la em segurança, por isso teve de procurar bem fundo para achá-la, enquanto os remadores riam e o capitão esperava com óbvia impaciência.
– Mais uma moeda de prata não fará diferença, pequena – disse por fim.
– Não é prata. – Seus dedos fecharam-se sobre ela. – É ferro. Tome. – Enfiou-a na mão dele, a pequena moeda negra de ferro que Jaqen H’ghar lhe dera, tão gasta que o homem cuja cabeça mostrava não tinha feições.
O capitão virou-a, pestanejou, e então voltou a olhá-la.
– Isto... como...?
–
–
SAMWELL
–E le suga com mais força do que o meu. – Goiva afagou a cabeça do bebê enquanto o segurava junto do mamilo.
– Tem fome – disse a loura chamada Val, aquela que os irmãos negros chamavam de princesa selvagem. – Viveu até agora de leite de cabra e das poções daquele meistre cego.
O rapaz ainda não tinha nome, tal como o de Goiva. Era esse o costume dos selvagens. Nem mesmo o filho de Mance Rayder teria um nome até o seu terceiro ano, aparentemente, embora Sam tivesse ouvido os irmãos chamarem-no de “principezinho” e “nascido-em-batalha”.
Observou a criança se alimentar do seio de Goiva e então observou Jon observando.
Tinham caminhado de Fortenoite até Lago Profundo, e de Lago Profundo até Portão da Rainha, seguindo uma estreita trilha de um castelo até o seguinte, sem nunca perder de vista a Muralha. A um dia e meio de Castelo Negro, enquanto caminhavam penosamente com pés cobertos de calos, Goiva ouviu cavalos atrás deles e virou-se para ver uma coluna de cavaleiros negros que vinha de oeste.
– Irmãos meus – Sam tinha assegurado. – Ninguém usa esta estrada a não ser a Patrulha da Noite. – No fim era Sor Denys Mallister da Torre Sombria, com o ferido Bowen Marsh e os sobreviventes da batalha na Ponte das Caveiras. Quando Sam viu Dywen, Gigante e Edd Doloroso Tollett, descontrolou-se e chorou.
Foi através deles que ficou sabendo da batalha à sombra da Muralha.
– Stannis desembarcou os seus cavaleiros em Atalaialeste, e Cotter Pyke levou-os pelos caminhos dos patrulheiros, para apanhar os selvagens desprevenidos – contou-lhe o Gigante. – Esmagou-os. Mance Rayder foi capturado, mil de seus melhores guerreiros foram mortos, incluindo Harma Cabeça de Cão. O resto dispersou-se como folhas antes de uma tempestade, segundo ouvimos dizer. –
Mas nada do que os irmãos lhe tinham dito o preparara para o que foi encontrar em Castelo Negro. A sala comum tinha queimado até o chão e a grande escada de madeira era um monte de gelo partido e vigas carbonizadas. Donal Noye estava morto, bem como Rast, Dick Surdo, Alyn Vermelho e tantos outros, e no entanto o castelo tinha mais gente do que Sam alguma vez vira; não eram irmãos negros, mas soldados do rei, mais de mil homens. Havia um rei na Torre do Rei pela primeira vez desde que havia memória, e flutuavam estandartes na Lança, na Torre de Hardin, na Fortaleza Cinzenta, no Salão dos Escudos e em outros edifícios que tinham se mantido vazios e abandonados durante longos anos.
– O grande, o dourado com o veado preto, é o estandarte real da Casa Baratheon – disse Sam para Goiva, que nunca antes tinha visto bandeiras. – A raposa com as flores são da Casa Florent. A tartaruga é de Estermont, o peixe-espada é de Bar Emmon e as trombetas cruzadas pertencem aos Wensington.
– São todos brilhantes como flores. – Goiva apontou. – Gosto daqueles amarelos, com o fogo. Olhe, e alguns dos guerreiros têm a mesma coisa nas blusas.
– Um coração flamejante. Não sei de quem é esse símbolo.
Descobriu bastante depressa.