Ficou sabendo por um rapaz junto às docas que o estábulo tinha sido queimado, mas a ex-proprietária do lugar continuava fazendo negócio atrás do septo. Arya encontrou-a sem dificuldade; uma mulher alta e robusta com um bom cheiro de cavalo. Gostou da Covarde à primeira vista, perguntou a Arya como a arranjara, e sorriu com a resposta dela.
– É um cavalo de boa linhagem, isso é bem evidente, e não duvido que pertenceu a um cavaleiro, querida – disse. – Mas o cavaleiro não era nenhum irmão seu que morreu. Já faço negócio ali com o castelo há muitos anos, e sei como se parecem os fidalgos. Esta égua é bem-nascida, mas você não é. – Espetou um dedo no peito de Arya. – Ou a encontrou, ou a roubou, não importa, foi o que foi. É a única maneira de uma coisinha malvestida como você acabar montada num palafrém.
Arya mordeu o lábio.
– Isso quer dizer que não vai comprá-la?
A mulher soltou um risinho.
– Quer dizer que aceitará o que eu lhe der, querida. Senão vamos ao castelo, e talvez fique sem nada. Ou até acabe enforcada, por roubar um bom cavalo de cavaleiro.
Meia dúzia de outras pessoas de Salinas andavam por ali, cuidando de seus assuntos, portanto Arya sabia que não podia matar a mulher. Em vez disso teve de morder o lábio e se deixar ser tapeada. A bolsa que recebeu era deploravelmente achatada, e quando pediu mais pela sela, freios e manta, a mulher apenas riu na sua cara.
A galé roxa ainda se encontrava no mesmo lugar. Se o navio tivesse zarpado enquanto estava sendo assaltada, isso teria sido demais para suportar. Um barril de hidromel estava sendo rolado pela prancha acima quando chegou. Quando tentou segui-lo, um marinheiro no convés gritou-lhe numa língua que não conhecia.
– Quero falar com o capitão – disse-lhe Arya. Ele limitou-se a gritar mais alto. Mas a agitação atraiu a atenção de um homem robusto e grisalho vestido com um casaco de lã roxa, e ele falava o Idioma Comum.
– Eu sou o capitão aqui – disse ele. – O que deseja? Rápido, pequena, temos de apanhar a maré.
– Quero ir para o norte, para a Muralha. Olhe, posso pagar. – Deu-lhe a bolsa. – A Patrulha da Noite tem um castelo junto ao mar.
– Atalaialeste. – O capitão despejou a prata na palma da mão e franziu a testa. – Isto é tudo que tem?
– Não ia precisar de uma cabine, nem nada disso – disse. – Eu poderia dormir no porão, ou...
– Aceite-a como moça de cabine – disse um remador que passava por ali, com um fardo de lã ao ombro. – Ela pode dormir comigo.
– Tento na língua – exclamou o capitão.
– Eu poderia trabalhar – disse Arya. – Poderia esfregar os conveses. Eu já esfreguei os degraus de um castelo. Ou poderia remar...
– Não – disse ele –, não poderia. – Devolveu-lhe as moedas. – E não faria diferença se pudesse, pequena. O norte não tem nada para nós. Gelo, guerra e piratas. Vimos uma dúzia de navios piratas rumando para o norte quando viramos a Ponta da Garra Rachada, e não tenho nenhuma vontade de voltar a encontrá-los. Daqui, apontamos os remos para casa, e eu sugiro que você faça a mesma coisa.
O capitão estava se virando quando ela disse:
– Que navio é este, senhor?
Ele parou tempo suficiente para lhe conceder um sorriso cansado.