Cão de Caça continuava fraco, com todos os movimentos lentos e desajeitados. Afundou-se na sela e desatou a suar, e a orelha começou a sangrar através da atadura. Precisou de todas as suas forças para evitar cair do Estranho. Se os homens da Montanha tivessem vindo em seu encalço, Arya duvidava que ele fosse capaz sequer de erguer uma espada. Arya deu um olhar de relance por sobre o ombro, mas nada havia atrás deles além de um corvo que voava de árvore em árvore. O único som era o do rio.
Muito antes do meio-dia, Sandor Clegane cambaleava. Ainda restavam horas de luz do dia quando ele decidiu fazer uma parada.
– Preciso descansar – foi tudo o que disse. Daquela vez, quando desmontou, caiu
Em vez disso, Arya trouxe-lhe água. Ele bebeu um pouco, queixou-se de que tinha gosto de lama e deixou-se cair num sono ruidoso e febril. Quando Arya tocou nele, a pele ardia. Arya cheirou as ataduras como o Meistre Luwin fazia às vezes quando lhe tratava os cortes ou arranhões. Foi o rosto de Cão de Caça que tinha sangrado mais, mas foi o ferimento na coxa que pareceu a Arya ter um cheiro esquisito.
Perguntou a si mesma a que distância estaria aquele lugar, Salinas, e se seria capaz de encontrá-lo sozinha.
A Agulha cintilou quando a desembainhou. Polliver mantivera-a limpa e afiada, pelo menos. Posicionou o corpo de lado, numa pose de dançarina de água, sem sequer pensar nisso. Folhas mortas estalaram sob os seus pés.
Os olhos dele abriram-se.
– Lembra-se de onde fica o coração? – perguntou num sussurro rouco.
E ela ficou imóvel como pedra.
– Eu... eu estava só...
–
– Mycah. – Arya afastou-se dele. – Você não merece a dádiva da misericórdia.
Cão de Caça viu Arya selar a Covarde com olhos brilhantes de febre. Nem uma vez tentou erguer-se e impedi-la. Mas quando ela montou, disse:
– Um verdadeiro lobo acabaria com um animal ferido.
– Não devia ter batido em mim com aquele machado – disse. – Devia ter salvo a minha mãe. – Virou o cavalo e afastou-se dele, e não olhou para trás nem uma vez.
Numa manhã luminosa seis dias depois, chegou a um lugar onde o Tridente começava a se alargar e o ar cheirava mais a sal do que a árvores. Permaneceu perto da água, passando por campos de cultivo e fazendas, e um pouco depois do meio-dia uma vila apareceu na sua frente.
E havia navios.