– O meu pessoal – disse ele. – Não conheço a criança. Outro dos bastardos de Kella, suponho. Ela põe um no mundo a cada dois ou três anos.
Os dois velhos entraram na água até as coxas para erguer Sansa do barco de modo que não molhasse as saias. Oswell e Lothos foram espirrando água até chegarem à margem, e o mesmo fez o próprio Mindinho. Este deu à velha um beijo na bochecha e sorriu à mais nova.
– Quem é o pai desta, Kella?
A gorda riu.
– Não sei bem, senhor. Não sou mulher pra lhes dizer que não.
– E todos os moços da terra são gratos por isso, tenho certeza.
– É bom tê-lo em casa, senhor – disse um dos velhos. Parecia ter pelo menos oitenta anos, mas usava uma brigantina com rebites e uma espada longa presa ao flanco. – De quanto tempo será a sua estadia?
– O menos possível, Bryen, não tenha medo. Diria que o lugar está habitável neste momento?
– Se soubéssemos que vinham, teríamos posto esteiras novas, senhor – disse a velha. – Há um fogo de esterco queimando.
– Nada diz “casa” como o cheiro de esterco queimando. – Petyr virou-se para Sansa. – Grisel foi a minha ama de leite, mas agora toma conta de meu castelo. Umfred é o meu intendente e Bryen... não o nomeei capitão da guarda da última vez que estive aqui?
– Nomeou, senhor. Disse também que ia arranjar mais alguns homens, mas não fez isso. Eu e os cães fazemos todas as vigias.
– E muito bem, tenho certeza. Ninguém fugiu com nenhuma das minhas pedras e cocôs de ovelha, vejo-o claramente. – Petyr indicou com um gesto a gorda. – Kella cuida de meus vastos rebanhos. Quantas ovelhas tenho no momento, Kella?
Ela teve de pensar por um momento.
– Vinte e três, senhor. Havia vinte e nove, mas os cães de Bryen mataram uma e abatemos algumas das outras pra salgar a carne.
– Ah, carneiro frio em salmoura. Devo estar
– Se quiser, senhor – disse a velha chamada Grisel.
Lorde Petyr fez uma careta.
– Venha, vejamos se o meu palácio é tão lúgubre como o recordo. – Subiu a costa à frente dos outros, por rochas tornadas escorregadias por algas em putrefação. Um punhado de ovelhas vagueava em volta da base da torre de pederneira, pastando a escassa grama que crescia entre o curral e o estábulo de telhado de colmo. Sansa teve de pisar com cuidado; havia cocô de ovelha por todo lado.
Lá dentro, a torre parecia ainda menor. Uma escada aberta de pedra corria em volta da parede interior, desde a galeria subterrânea até o telhado. Cada piso não era mais do que um único cômodo. Os criados viviam e dormiam na cozinha, no piso térreo, dividindo o espaço com um enorme mastim malhado e meia dúzia de cães pastores. Por cima havia um pequeno salão, e ainda mais acima o quarto de dormir. Não existiam janelas, mas havia seteiras em intervalos regulares na parede exterior, ao longo da curvatura da escada. Por cima da lareira pendia uma espada longa quebrada e um desgastado escudo de carvalho, com a tinta rachada e descascando.
Sansa não conhecia o símbolo pintado no escudo; uma cabeça de pedra cinza com olhos de fogo em fundo verde-claro.
– O escudo do meu avô – explicou Petyr quando a viu a fitá-lo. – O pai dele nasceu em Bravos e veio para o Vale como mercenário contratado por Lorde Corbray, e por isso o meu avô escolheu a cabeça do Titã como símbolo quando foi armado cavaleiro.
– É muito feroz – disse Sansa.
– Feroz demais, para um cara amigável como eu – disse Petyr. – Prefiro de longe o meu tejo.
Oswell fez mais duas viagens até o
– Aqui está, senhora, isso deve ajudar a sua barriga, espero eu.
Ter terra firme debaixo dos pés já ajudara, mas Sansa ergueu obedientemente o cálice com ambas as mãos e bebeu um golinho. O vinho era muito bom;
Ele estava estudando-a por sobre seu próprio cálice, com os brilhantes olhos cinza-esverdeados cheios de... seria divertimento? Ou outra coisa? Sansa não tinha certeza.
– Grisel – gritou ele para a velha –, traga um pouco de comida. Nada pesado demais, que a senhora tem uma barriga fraca. Um pouco de fruta poderá, talvez, servir. Oswell trouxe algumas laranjas e romãs do
– Sim, senhor.
– Seria possível também tomar um banho quente? – perguntou Sansa.
– Eu mando Kella ir buscar água, senhora.
Sansa bebeu outro gole de vinho e tentou pensar em algo polido para dizer, mas Lorde Petyr poupou-a do trabalho. Quando Grisel e os outros criados foram embora, disse:
– Lysa não virá sozinha. Antes de ela chegar, temos de esclarecer quem você é.
– Quem sou... não compreendo.