– Ele disse a Sua Graça que lhe queria fazer mal – disse Sor Osfryd. – Machucá-la.
O irmão Osney detalhou.
– Ele disse que esperaria por um dia em que ela estivesse feliz, e faria com que a alegria se transformasse em cinzas em sua boca. – Nenhum dos dois mencionou Alayaya.
Sor Osmund Kettleblack, um retrato da cavalaria com uma imaculada armadura de escamas e manto branco de lã, jurou que o Rei Joffrey havia muito sabia que o tio Tyrion pretendia assassiná-lo.
– Foi no dia em que me deram o manto branco, senhores – disse aos juízes. – O bravo rapaz disse-me: “Meu bom Sor Osmund, proteja-me bem, pois o meu tio não gosta de mim. Ele quer ser rei no meu lugar”.
Aquilo era mais do que Tyrion conseguia aguentar.
–
Lorde Tywin franziu a testa.
– Terei de mandar acorrentar suas mãos e pés como faria a um salteador comum?
Tyrion rangeu os dentes.
– Não. Peço-lhes perdão, senhores. As mentiras dele enfureceram-me.
– As verdades dele, você quer dizer – disse Cersei. – Pai, peço que o ponha a ferros, para a sua proteção. Você vê como ele é.
– Eu vejo que é um anão – disse o Príncipe Oberyn. – O dia em que temer a fúria de um anão será o dia em que me afogarei numa barrica de tinto.
– Não precisamos de algemas. – Lorde Tywin olhou de relance as janelas e levantou-se. – A hora já está bem adiantada. Continuaremos de manhã.
Naquela noite, sozinho em sua cela de torre com um pergaminho em branco e uma taça de vinho, Tyrion deu por si a pensar na esposa. Não em Sansa, na sua
– Acredita que o eunuco irá falar em sua defesa?
– Não saberei até ter falado com ele. Mande-o aqui, tio, por gentileza.
– Como quiser.
Os meistres Ballabar e Frenken iniciaram o segundo dia do julgamento. Tinham aberto o nobre cadáver do Rei Joffrey, juraram, e não encontraram nenhum pedaço de torta de pombo nem qualquer outro alimento alojado na real garganta.
– Foi veneno o que o matou, senhores – disse Ballabar, enquanto Frenken assentia com gravidade.
Então apresentaram o Grande Meistre Pycelle, apoiando-se pesadamente numa bengala retorcida e tremendo ao caminhar, com um punhado de pelos brancos saindo de seu longo pescoço de galináceo. Estava frágil demais para permanecer em pé, e os juízes permitiram que fosse trazida uma cadeira para ele se sentar, e também uma mesa. Na mesa foram colocados alguns pequenos frascos. Pycelle etiquetou alegremente cada um deles com um nome.
– Grisalheira – disse, em voz trêmula – obtida do cogumelo. Beladona, sonodoce, dança do demo. Isto é olhocego. Esta chama-se sangue de viúva, devido à cor. Uma poção cruel. Faz com que a bexiga e os intestinos deixem de funcionar, até que a vítima se afogue em seus próprios venenos. Isto é acônito, isto, veneno de basilisco, e isto são lágrimas de Lys. Sim. Conheço-as todas. O Duende Tyrion Lannister roubou-as de meus aposentos, quando mandou me aprisionar sob falsas acusações.
–
– Não. Para isso é preciso se virar para um veneno mais raro. Quando era rapaz, na Cidadela, meus professores chamavam-no simplesmente de
– Mas esse veneno raro não foi encontrado, não?
– Não, senhor. – Pycelle piscou os olhos em sua direção. – Usou-o todo para matar a criança mais nobre que os deuses puseram nesta boa terra.
A ira de Tyrion sobrepôs-se ao seu bom-senso.
– Joffrey era cruel e estúpido, mas não o matei. Podem cortar minha cabeça se quiserem, mas não participei na morte de meu sobrinho.
–