O rosto de Arya tornou-se sombrio ao ouvir aquilo. Não queria ficar, mas também não havia para onde ir. Na manhã seguinte, quando Cão de Caça saiu para abater árvores e carregar troncos, voltou a enfiar-se na cama.
Mas quando o trabalho terminou e a grande paliçada de madeira ficou pronta, o ancião da aldeia deixou claro que não havia lugar para eles.
– Quando chegar o inverno, vamos ter dificuldade em alimentar os nossos – explicou. – E você... um homem como você traz sangue consigo.
A boca de Sandor comprimiu-se.
– Então sabe quem eu sou.
– Sim. Os viajantes não chegam aqui, é verdade, mas vamos ao mercado e a feiras. Sabemos do cão do Rei Joffrey.
– Quando esses Corvos de Pedra vierem visitá-los, podem ficar felizes por ter um cão.
– Pode ser que sim. – O homem hesitou, mas depois reuniu coragem. – Mas dizem que perdeu o estômago para a luta na Água Negra. Dizem...
– Eu sei o que eles dizem. – A voz de Sandor soava como duas serras roçando uma na outra. – Pague-me, e vamos embora.
Quando partiram, Cão de Caça tinha uma bolsa cheia de moedas de cobre, um odre de cerveja amarga e uma espada nova. Era uma espada muito velha, a bem da verdade, embora fosse nova para ele. Trocara-a pelo machado que tinha pego nas Gêmeas, aquele que usara para criar o galo na cabeça de Arya. A cerveja desapareceu em menos de um dia, mas Clegane amolava a espada todas as noites, amaldiçoando o homem de quem a obtivera por cada entalhe e mancha de ferrugem que encontrava.
De volta às terras fluviais, descobriram que as chuvas tinham se atenuado e que as águas da cheia tinham começado a baixar. Cão de Caça dirigiu-se para o sul, de volta ao Tridente.
– Vamos para Correrrio – disse a Arya enquanto assavam uma lebre que tinha matado. – O Peixe Negro talvez queira comprar uma loba.
– Ele não me conhece. Nem sequer saberá se eu sou realmente eu. – Arya estava farta de se dirigir a Correrrio. Parecia que estava se dirigindo para Correrrio havia anos, sem nunca chegar lá. Sempre que se dirigia para Correrrio acabava num lugar pior qualquer. – Ele não vai lhe dar nenhum resgate. Provavelmente só vai enforcá-lo.
– É livre para tentar. – E virou o espeto.
– Eu sei para onde podemos ir – disse Arya. Ainda lhe restava um irmão.
A gargalhada de Sandor foi um meio rosnido.
– A pequena loba quer se juntar à Patrulha da Noite, é?
– Meu irmão está na Muralha – disse ela obstinadamente.
A boca dele torceu-se.
– A Muralha fica a mil léguas daqui. Precisaríamos lutar contra a merda dos Frey só para chegar ao Gargalo. Nesses pântanos há lagartos-leões que comem lobos todos os dias no café da manhã. E se conseguíssemos chegar ao norte com a pele intacta, há homens de ferro em metade dos castelos e milhares de malditos nortenhos também.
– Tem medo deles? – perguntou ela. – Perdeu o estômago para lutar?
Por um momento pensou que Cão de Caça ia bater nela. Mas a lebre já estava corada, com a pele crocante e gordura borbulhando quando pingava na fogueira. Sandor tirou-a do espeto, abriu-a ao meio com suas grandes mãos e atirou metade para o colo de Arya.
– Não há nada de errado com o meu estômago – disse enquanto arrancava uma pata –, mas estou cagando para você e para o seu irmão. Eu também tenho um irmão.
TYRION
–T yrion – disse Sor Kevan Lannister num tom fatigado –, se é realmente inocente da morte de Joffrey, não devia ter nenhuma dificuldade em prová-lo em tribunal.
Tyrion deu as costas à janela.
– A quem cabe me julgar?
– A justiça pertence ao trono. O rei está morto, mas o seu pai continua a ser a Mão. Uma vez que o acusado é seu próprio filho e que a vítima foi o neto, ele pediu que Lorde Tyrell e o Príncipe Oberyn o acompanhassem no julgamento.
Tyrion se sentiu pouco encorajado. Mace Tyrell tinha sido sogro de Joff, embora brevemente, e o Víbora Vermelha era... bem, uma cobra.
– Serei autorizado a exigir julgamento por batalha?
– Não o aconselharia.
– Por que não? – o julgamento por batalha salvara-o no Vale, por que não o salvaria ali? – responda-me, tio. Será permitido que eu tenha um julgamento por batalha, e um campeão para provar a minha inocência?