– O rapaz conhecia as magias dos pântanos – prosseguiu ela –, mas queria mais. É que o nosso povo raramente viaja para longe de casa. Somos gente pequena, e nossos costumes parecem estranhos para certas pessoas, de modo que as pessoas grandes nem sempre nos tratam bem. Mas esse rapaz era mais ousado do que a maioria, e um dia, depois de chegar à idade adulta, decidiu que iria deixar os pântanos para visitar a Ilha das Caras.
– Ninguém visita a Ilha das Caras – questionou Bran. – É onde vivem os homens verdes.
– Eram os homens verdes que ele queria encontrar. Portanto vestiu uma camisa com escamas de bronze cosidas a ela, como a minha, pegou um escudo de couro e uma lança de três dentes, como os meus, e desceu o Ramo Verde remando num pequeno barco de casco de couro.
Bran fechou os olhos para tentar ver o homem em seu pequeno barco de casco de couro. Na sua cabeça, o cranogmano parecia-se com Jojen, só que mais velho e forte e vestido como Meera.
– Passou por baixo das Gêmeas de noite, para que os Frey não o atacassem, e quando chegou ao Tridente, saiu do rio, pôs o barco na cabeça e começou a caminhar. Demorou muitos dias, mas por fim chegou ao Olho de Deus, atirou o barco no lago e remou até a Ilha das Caras.
– E encontrou os homens verdes?
– Sim – disse Meera –, mas essa é outra história, e não cabe a mim contá-la. O meu príncipe pediu cavaleiros.
– Homens verdes também são bons.
– São mesmo – concordou ela, mas nada mais disse sobre eles. – O cranogmano ficou na ilha durante todo esse inverno, mas quando a primavera desabrochou, ouviu o grande mundo a chamá-lo e soube que era hora de partir. Seu barco de couro estava exatamente no local onde o deixara, por isso fez suas despedidas e remou para terra firme. Remou e remou, e por fim viu as distantes torres de um castelo erguendo-se junto ao lago. As torres subiam cada vez mais, à medida que ia se aproximando da margem, até que ele percebeu que aquele devia ser o maior castelo do mundo inteiro.
– Harrenhal! – compreendeu Bran de imediato. – Era Harrenhal!
Meera sorriu.
– Seria? À sombra das suas muralhas viu tendas de muitas cores, brilhantes estandartes balançando ao vento, e cavaleiros vestidos de cota de malha ou de placas de aço e montados em cavalos couraçados. Sentiu o cheiro de carne assando e ouviu o som de risos e o clangor das trombetas dos arautos. Um grande torneio estava prestes a começar, e tinham vindo campeões de todo o território para conquistá-lo. O próprio rei encontrava-se presente, com seu filho, o príncipe-dragão. As Espadas Brancas tinham vindo, para receber um novo irmão em suas fileiras. O senhor da tempestade andava por lá, bem como o senhor da rosa. O grande leão do rochedo tinha brigado com o rei e acabou se mantendo afastado, mas muitos de seus vassalos e cavaleiros compareceram mesmo assim. O cranogmano nunca vira tamanha pompa, e sabia que talvez nunca mais voltaria a ver coisa igual. Parte de si nada mais desejava do que participar daquilo.
Bran conhecia bastante bem essa sensação. Quando era pequeno, só sonhava em ser um cavaleiro. Mas isso fora antes de cair e perder as pernas.
– A filha do grande castelo reinava como rainha do amor e da beleza quando o torneio começou. Cinco campeões tinham jurado defender a sua coroa; seus quatro irmãos de Harrenhal e seu tio famoso, um cavaleiro branco da Guarda Real.
– Era uma donzela bela?
– Era – disse Meera, saltando sobre uma pedra –, mas havia outras ainda mais belas. Uma era a esposa do príncipe-dragão, que havia trazido uma dúzia de damas de companhia para servi-la. Todos os cavaleiros lhe suplicavam favores para atar em volta de suas lanças.
– Isso não vai ser uma daquelas histórias de
– Hodor – disse Hodor, concordando.
– Ele gosta das histórias em que os cavaleiros lutam com monstros.
– Às vezes os monstros são os cavaleiros, Bran. O pequeno cranogmano caminhava pelo campo, desfrutando do dia quente de primavera e sem fazer mal a ninguém, quando foi atacado por três escudeiros. Nenhum deles tinha mais de quinze anos, mesmo assim eram maiores do que ele, todos os três. Do modo como viam as coisas, aquele mundo era
– Eram Walder? – parecia algo que o Pequeno Walder Frey poderia ter feito.
– Nenhum deles disse o nome, mas ele guardou bem seus rostos na memória, para que pudesse se vingar mais tarde. Derrubaram-no toda vez que tentou se levantar, e chutaram-no quando se enrolou sobre si mesmo no chão. Mas então ouviram um rugido. “Esse que chutam é vassalo de meu pai”, uivou a loba.
– Uma loba com quatro patas, ou com duas?