O rapaz louro andava tentando deixar crescer uma barba. Uma penugem amarelo-clara cobria suas bochechas e seu queixo por cima da ruína vermelha em que a faca transformou a sua garganta. Seus longos cabelos dourados ainda estavam molhados, como se tivesse sido arrancado de um banho. A expressão era a de quem havia morrido em paz, talvez dormindo, mas seu primo de cabelos castanhos tinha lutado pela vida. Seus braços exibiam cortes onde havia tentado parar as lâminas, e gotas vermelhas ainda pingavam das punhaladas que lhe cobriam o peito, a barriga e as costas como outras tantas bocas sem língua, embora a chuva o tivesse lavado quase por completo.
Robb tinha posto a coroa antes de entrar na sala, e o bronze brilhava, escuro, à luz dos archotes. Sombras esconderam seus olhos quando observou os mortos.
O irmão, Edmure, estava à direita de Robb, com uma mão apoiada no espaldar da cadeira do pai, e o rosto ainda inchado de sono. Tinham-no acordado, tal como a ela, batendo em sua porta, na noite cerrada, para arrancá-lo rudemente dos sonhos.
Os capitães e senhores vassalos de Robb espalhavam-se pelo salão, alguns armados e com as cotas de malha vestidas, outros em vários estados de desalinho e nudez. Sor Raynald e o tio, Sor Rolph, encontravam-se entre eles, mas Robb tinha achado por bem poupar sua rainha daquela monstruosidade.
Voltou a baixar o olhar para os cadáveres dos escudeiros Tion Frey e Willem Lannister, e esperou que o filho falasse.
Pareceu passar-se muito tempo até que Robb erguesse o olhar dos mortos ensanguentados.
– Pequeno-Jon – disse –, diga ao seu pai que os traga. – Sem uma palavra, Pequeno-Jon Umber virou-se para obedecer, com os passos ecoando no grande salão de pedra.
Enquanto Grande-Jon introduzia os prisioneiros na sala, Catelyn notou o modo como alguns dos outros homens recuavam para lhes dar espaço, como se a traição pudesse de algum modo ser transmitida por um toque, um olhar, um pouco de tosse. Os captores e os cativos eram muito parecidos; homens grandes, todos eles, com barbas espessas e cabelos compridos. Dois dos homens de Grande-Jon estavam feridos, e três de seus prisioneiros também. Só o fato de alguns terem lanças e outros bainhas vazias os distinguia. Todos usavam camisões de cota de malha ou camisas de anéis cosidos, com botas pesadas e mantos grossos, alguns de lã, outros de peles.
– Cinco – disse Robb quando os prisioneiros foram postos à sua frente, molhados e silenciosos. – São todos?
– Eram oito – trovejou Grande-Jon. – Matamos dois quando os capturamos e um terceiro está agora agonizando.
Robb estudou o rosto dos presos.
– Foram precisos oito de vocês para matar dois escudeiros desarmados.
Edmure Tully interveio.
– Eles também assassinaram dois de meus homens para chegar à torre. Delp e Elwood.
– Não foi assassinato, sor – disse Lorde Rickard Karstark, que não se mostrava mais derrotado pela corda que prendia seus pulsos do que pelo sangue que corria por seu rosto. – Qualquer homem que se interponha entre um pai e a sua vingança está pedindo a morte.
As palavras dele ressoaram nos ouvidos de Catelyn, duras e cruéis, como o bater de um tambor de guerra. Sua garganta estava completamente seca.