– Isso é tão gentil de sua parte, pai – disse Cersei com fria cortesia. – A escolha que me deixa é tão complicada. Quem eu preferiria levar para a cama, a lula velha ou o cãozinho aleijado? Precisarei de alguns dias para pensar no assunto. Tenho a sua licença para me retirar?
– Vá – disse o pai. – Voltaremos a conversar depois de ter recuperado a compostura. Lembre-se de seus deveres.
Cersei caminhou, dura, para fora da sala, ostentando claramente a sua raiva.
– Tyrion.
Deu um sorriso resignado.
– Estarei ouvindo o arauto me chamar para a liça?
– Seu gosto por prostitutas é uma fraqueza – disse Lorde Tywin sem preâmbulos –, mas talvez parte da culpa seja minha. Como não é mais alto do que um garoto, acostumei-me a esquecer que é realmente um adulto, com todas as necessidades básicas de um homem. Já é mais do que tempo de se casar.
– A ideia de casamento o diverte?
– Só de imaginar o noivo demoniacamente bonito que serei. – Uma esposa poderia ser exatamente aquilo de que precisava. Se lhe trouxesse terras e uma fortaleza, poderia providenciar-lhe um lugar no mundo afastado da corte de Joffrey... e de Cersei e do pai.
Por outro lado, havia Shae.
Mas isso não era propriamente um argumento que influenciasse o pai, por isso Tyrion retorceu-se mais para cima na cadeira e disse:
– Você pretende me casar com Sansa Stark. Mas os Tyrell não irão considerar essa união uma afronta se tiverem planos para a garota?
– Lorde Tyrell não abordará o assunto da garota Stark até depois da boda de Joffrey. Se Sansa se casar antes disso, como poderá se ofender, se não nos deu nenhuma pista de suas intenções?
– Precisamente – disse Sor Kevan –, e quaisquer ressentimentos que persistam deverão ser acalmados pela oferta de Cersei para o seu Willas.
Tyrion esfregou os restos inflamados do nariz. A cicatriz às vezes coçava abominavelmente.
– Sua Graça, a real pústula, transformou a vida de Sansa num inferno desde o dia em que o pai dela morreu, e agora que está finalmente livre de Joffrey você propõe casá-la comigo. Isso parece extraordinariamente cruel. Até para o senhor, pai.
– Por quê? Pretende tratá-la mal? – o pai parecia mais curioso do que preocupado. – Minhas intenções não incluem a felicidade da menina, e as suas também não deviam inclui-la. Nossas alianças no sul podem ser sólidas como o Rochedo Casterly, mas resta o norte por conquistar, e a chave para o norte é Sansa Stark.
– Ela não passa de uma criança.
– Sua irmã jura que já floresceu. Se assim for, é uma mulher em condições de se casar. Terá de deflorá-la para que ninguém possa dizer que o casamento não foi consumado. Depois disso, se preferir esperar um ano ou dois antes de voltar a dormir com ela, estará no seu direito de marido.
– Se a sua intenção com isso é afastá-la dos Tyrell, por que não a devolve à mãe? Isso talvez convencesse Robb Stark a dobrar o joelho.
O olhar de Lorde Tywin era de escárnio.
– Se a mandarmos para Correrrio, a mãe arranjará um casamento com um Blackwood ou um Mallister, para escorar as alianças do filho ao longo do Tridente. Se a mandarmos para norte, estará casada com algum Manderly ou Umber antes da volta da lua. Mas não é menos perigosa aqui na corte, como essa história com os Tyrell demonstra. Ela tem de se casar com um Lannister, e depressa.
– O homem que casar com Sansa Stark pode reclamar Winterfell em seu nome – interveio tio Kevan. – Isso não lhe ocorreu?
– Se não quiser a garota, podemos dá-la a um de seus primos – disse o pai. – Kevan, crê que Lancel está suficientemente forte para se casar?
Sor Kevan hesitou.