Читаем A Fúria dos Reis полностью

A Senhora Selyse era tão alta como o marido, com corpo e feição magros, orelhas proeminentes, o nariz afilado e a mais leve sugestão de um bigode sobre o lábio superior. Arrancava os pelos todos os dias e os amaldiçoava regularmente, mas eles nunca deixavam de voltar. Seus olhos eram claros; a boca, severa; a voz, um chicote. Agora, fazia-o estalar.

– A Senhora Arryn deve-lhe lealdade, tal como os Stark, seu irmão Renly e todos os outros. O senhor é o verdadeiro rei deles. Não seria adequado argumentar e negociar com eles aquilo que é seu por direito, pela graça de Deus.

Deus, ela disse, e não deuses. A mulher vermelha tinha conquistado Selyse de alma e coração, afastando-a dos deuses dos Sete Reinos, tanto os velhos como os novos, para que adorasse aquele a quem chamavam Senhor da Luz.

– Seu deus pode ficar com a sua graça – Lorde Stannis desdenhou; não partilhava a fervorosa nova fé da mulher. – É de espadas que preciso, não de bênçãos. Teria escondido em algum lugar um exército de que não me falou antes?

Não havia afeto no seu tom de voz. Stannis sempre se sentira desconfortável junto das mulheres, até mesmo da sua própria esposa. Quando partiu para Porto Real a fim de integrar o conselho de Robert, deixou Selyse em Pedra do Dragão com a filha. As cartas tinham sido escassas, as visitas mais ainda; cumpria seu dever de marido na cama uma ou duas vezes por ano, mas não retirava disso nenhum prazer, e os filhos homens que no passado esperara nunca vieram.

– Meus irmãos, tios e primos têm exércitos – ela disse. – A Casa Florent vai se juntar à sua bandeira.

– A Casa Florent pode pôr em campo, no máximo, duas mil espadas – dizia-se que Stannis conhecia a força de cada casa dos Sete Reinos –, e você tem bem mais fé nos seus irmãos e tios do que eu, minha senhora. As terras dos Florent ficam próximas demais de Jardim de Cima para que o senhor seu tio se arrisque a despertar a ira de Mace Tyrell.

– Há outra forma – disse a Senhora Selyse, aproximando-se. – Olhe pelas suas janelas, senhor. Ali está o sinal que esperava, estampado no céu. É vermelho, o vermelho da chama, o vermelho do coração flamejante do verdadeiro deus. É o estandarte dele… e o seu! Veja como se desenrola pelos céus como o sopro quente de um dragão, e você é Senhor de Pedra do Dragão. Significa que a sua hora chegou, Vossa Graça. Nada é mais certo do que isso. Está destinado a zarpar deste rochedo desolado como Aegon, o Conquistador, zarpou um dia, para varrer todos à sua frente como ele o fez. Basta dizer a palavra e acolher o poder do Senhor da Luz.

– Quantas espadas porá o Senhor da Luz nas minhas mãos? – Stannis a desafiou novamente.

– Quantas forem necessárias – prometeu a mulher. – As espadas de Ponta Tempestade e de Jardim de Cima, para começar, e de todos os senhores seus vassalos.

– Davos discordaria – Stannis retrucou. – Essas espadas estão juramentadas a Renly. Adoram o meu encantador e jovem irmão, como anteriormente adoravam Robert… e como nunca me adoraram.

– Sim – ela respondeu. – Mas, e se Renly morresse…

Stannis olhou sua senhora estreitando os olhos, até que Cressen não conseguiu dominar a língua.

– Não se deve pensar em tal coisa. Vossa Graça, sejam quais forem as loucuras que Renly cometeu…

Loucuras? Eu chamo de traições – então, Stannis voltou-se para a mulher. – Meu irmão é jovem e forte e tem um vasto exército ao seu redor, e aqueles seus cavaleiros do arco-íris.

– Melisandre estudou as chamas e o viu morto.

Cressen ficou horrorizado.

– Fratricídio… Senhor, isso é uma maldade, impensável… Por favor, escute-me.

A Senhora Selyse olhou-o fixamente.

– E o que lhe diria, Meistre? Como ele poderá conquistar metade de um reino se for até os Stark de joelhos e vender nossa filha a Lysa Arryn?

– Já ouvi os seus conselhos, Cressen – Lorde Stannis os interrompeu. – Agora ouvirei os dela. Está dispensado.

Meistre Cressen dobrou o joelho rígido. Conseguia sentir os olhos da Senhora Selyse nas suas costas enquanto se arrastava lentamente até a saída da sala. Quando chegou ao fim da escada, só com muito esforço conseguia se manter em pé.

– Ajude-me – pediu a Pylos.

Depois de estar de novo a salvo nos seus aposentos, Cressen mandou o jovem embora e coxeou até a varanda novamente, para observar o mar junto de suas gárgulas. Um dos navios de guerra de Salladhor Saan passava pelo castelo, com o casco pintado com cores alegres, abrindo as águas cinza-esverdeadas enquanto os remos subiam e desciam. Ficou olhando-o até que desapareceu atrás de um promontório. Gostaria que os meus temores desaparecessem assim tão facilmente. Teria vivido tanto tempo para isso?

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