Читаем A Bruxa de PortoBello полностью

Por quanto tempo um homem pode conviver com uma mentira? Não queria perder a mulher que estava diante de mim, que me fazia companhia nas horas difíceis, que sempre estava ao meu lado quando me sentia incapaz de encontrar um sentido para minha vida. Eu a amava, mas, no mundo louco em que estava mergulhando sem saber, meu coração estava distante, procurando adaptar-se a algo que talvez conhecesse, mas que não podia aceitar: ser grande o suficiente para duas pessoas.

Como eu jamais arriscaria deixar o certo pela dúvida, procurei minimizar o que se passara no restaurante.

Principalmente porque não acontecera absolutamente nada, além de trocas de versos de um poeta que havia sofrido muito por amor.

— Athena é uma pessoa difícil de se conviver.

Andrea riu.

— E justamente por isso deve ser interessantíssima para os homens; desperta este instinto de proteção que vocês têm, e que cada vez usam menos.

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Melhor mudar de assunto. Sempre tive a certeza que as mulheres têm uma capacidade sobrenatural para saber o que se passa na alma de um homem. São todas feiticeiras.

— Andei fazendo algumas pesquisas sobre o que aconteceu hoje no teatro. Você não sabe, mas eu estava de olhos abertos durante os exercícios.

— Você sempre está de olhos abertos; acho que faz parte de sua profissão. E vai falar dos momentos em que todos se comportaram da mesma maneira. Conversamos muito sobre isso no bar, depois que saímos dos ensaios.

— Um historiador me disse que, no templo da Grécia onde se profetizava o futuro ( N.R.: Delfos, dedicado a Apolo) havia uma pedra em mármore, justamente chamada “umbigo”. Relatos da época contam que ali estava o centro do planeta. Fui para os arquivos do jornal fazer algumas pesquisas: em Petra, na Jordânia, existe outro “umbigo cônico”, simbolizando não apenas o centro do planeta, mas do universo inteiro. Tanto o de Delfos como o de Petra procuram mostrar o eixo por onde transita a energia do mundo, marcando de modo visível algo que se manifesta apenas no plano, digamos, “invisível”. Jerusalém é chamada também de umbigo do mundo, como uma ilha no oceano Pacífico, e outro lugar que esqueci — porque jamais associei uma coisa com outra.

— A dança!

— O que você está dizendo?

— Nada.

— Eu sei o que você está dizendo: as danças orientais do ventre, as mais antigas que se tem notícia, e onde tudo gira em torno do umbigo. Quis evitar o assunto, porque eu lhe contei que na Transilvânia tinha visto Athena dançar. Ela estava vestida, embora...

— ... embora o movimento começasse no umbigo, para só então espalhar-se pelo resto do corpo.

Tinha razão.

Melhor mudar de assunto de novo, conversar sobre teatro, sobre as coisas aborrecidas do jornalismo, beber um 290

pouco, terminar na cama fazendo amor enquanto começava a chover lá fora. Percebi que, no momento do orgasmo, o corpo de Andrea girava em torno do umbigo — eu já tinha visto isso centenas de vezes, e nunca prestara atenção.

Antoine Locadour, historiador

Heron começou a gastar uma fortuna em telefonemas para a França, pedindo que conseguisse todo o material até aquele final de semana, insistindo nesta história de umbigo — que me parecia a coisa mais desinteressante e menos romântica do mundo.

Mas, enfim, ingleses não costumam ver as mesmas coisas que os franceses vêem; e, em vez de fazer perguntas, procurei pesquisar o que a ciência dizia a respeito.

Logo percebi que conhecimentos históricos não eram suficientes — eu podia localizar um monumento aqui, um dólmen ali, mas o curioso é que as culturas antigas pareciam concordar em torno do mesmo tema, e usar a mesma palavra para definir os lugares que considerava sagrados. Nunca tinha prestado atenção nisso, e o assunto passou a me interessar. Quando vi o excesso de coincidências, fui em busca de algo complementar: o comportamento humano e suas crenças.

A primeira explicação, mais lógica, logo foi descartada: através do cordão umbilical somos alimentados, ele é o centro da vida. Um psicólogo logo me disse que esta teoria não fazia o menor sentido: a idéia central do homem é sempre “cortar”

o cordão, e a partir daí o cérebro ou o coração tornam-se símbolos mais importantes.

Quando estamos interessados em um assunto, tudo a nossa volta parece referir-se a ele (os místicos chamam de

“sinais”, os céticos de “coincidência”, e os psicólogos de “foco concentrado”, embora eu ainda precise definir como os historiadores devem referir-se ao tema). Certa noite, minha filha adolescente apareceu em casa com um piercing no umbigo.

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— Por que fez isso?

— Porque me deu vontade.

Explicação absolutamente natural e verdadeira, mesmo para um historiador que precisa achar um motivo para tudo. Quando entrei em seu quarto, vi um pôster de sua cantora favorita: o ventre estava de fora, e o umbigo, também naquela foto na parede, parecia ser o centro do mundo.

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