A porta do vestíbulo abriu-se lentamente, e vimos a figura alta do professor Presbury contra o fundo iluminado. Ele estava de roupão. Enquanto permanecia de pé, seu vulto delineado no portal estava ereto, mas inclinado para a frente, com os braços pendurados, como quando o vimos pela última vez.
Ele caminhou para a alameda, e ocorreu nele uma fantástica transformação. Ele foi se encolhendo até ficar agachado e começou a se mover apoiado nas mãos e nos pés, saltando de vez em quando, como se estivesse transbordando de energia e vitalidade. Passou pela frente da casa e depois a contornou. Quando desapareceu, Bennett passou silenciosamente pela porta do vestíbulo e o seguiu.
– Venha, Watson, venha! – exclamou Holmes, e nós passamos por entre os arbustos da maneira mais silenciosa possível, até chegarmos a um lugar de onde podíamos ver o outro lado da casa, que estava banhada pela luz da meia-lua. Podíamos ver nitidamente o professor encolhendo-se junto à parede coberta de hera. Enquanto o observávamos, ele começou a subir pela planta com incrível agilidade. Saltava de galho em galho, com firmeza nos pés e nas mãos, subindo aparentemente pelo simples prazer de sentir sua força, e sem objetivo definido. Com o roupão batendo dos lados de seu corpo, ele parecia um imenso morcego colado na parede lateral de sua própria casa, um grande remendo quadrado e escuro sobre a parede iluminada pela lua. Logo cansou-se de seu divertimento, e caindo de galho em galho, agachou-se na posição anterior e avançou em direção à cocheira, engatinhando do mesmo modo estranho de antes. O cachorro estava agora do lado de fora, latindo furiosamente, e ficou mais excitado do que nunca quando avistou o seu dono. Estava puxando a corrente e tremendo de impaciência e de raiva. O professor agachava-se deliberadamente, fora do alcance do cão, e começou a provocá-lo de todas as maneiras possíveis. Encheu as mãos com cascalho da alameda e jogou na cara do cachorro, cutucou-o com uma vara que havia apanhado, sacudiu as mãos a poucos centímetros da boca aberta do animal, e tentou, de todas as maneiras, aumentar a fúria do bicho, que já estava totalmente descontrolado. Em todas as nossas aventuras, não me lembro de ter visto um quadro mais estranho do que o desta figura impassível e ainda digna, agachando-se como uma rã no chão, e incitando a ferocidade do cachorro, enlouquecido, que saltava e se enfurecia com uma crueldade engenhosa e calculada.
E então, num instante aconteceu aquilo. Não foi a corrente que arrebentou, mas a coleira que se soltou, pois tinha sido feita para um terra-nova de pescoço mais grosso. Ouvimos o barulho do metal caindo, e no instante seguinte cachorro e homem estavam rolando juntos pelo chão, um roncando de raiva, o outro gritando em falsete um estranho guincho de terror. A vida do professor ficou por um fio. A criatura selvagem o agarrou justamente pela garganta, seus dentes morderam fundo, e o professor perdeu os sentidos antes que eu pudesse chegar até eles e separá-los. Poderia ter sido uma tarefa perigosa para nós, mas a voz e a presença de Bennett fizeram o cão enorme sossegar imediatamente. A confusão fez o sonolento e atônito cocheiro sair de seu quarto sobre a estrebaria. – Eu já o vi assim antes. Eu sabia que o cachorro iria pegá-lo mais cedo ou mais tarde.
O cão foi amarrado, e juntos carregamos o professor para o seu quarto, onde Bennett, que tinha um diploma de médico, ajudou-me a cuidar de sua garganta dilacerada. Os dentes afiados haviam passado perigosamente perto da artéria carótida, e a hemorragia era grave. Em meia hora o perigo havia passado, eu havia aplicado no paciente uma injeção de morfina e ele caiu em sono profundo. Depois, e somente depois, é que fomos capazes de olhar um para o outro e de fazer o balanço da situação.
– Acho que um cirurgião especialista deveria examiná-lo – eu disse.
– Pelo amor de Deus, não! – gritou Bennett. – No momento o escândalo está restrito à nossa própria família. Conosco está seguro. Se atravessar estas paredes, nunca mais vai parar. Pense na posição dele na universidade. Sua reputação européia, os sentimentos de sua filha.
– Perfeitamente – disse Holmes. – Acho que é possível manter o assunto entre nós e também impedir que se repita, agora que temos carta branca. A chave da corrente do relógio, sr. Bennett. Macphail vigiará o paciente e nos informará se houver alguma mudança. Vamos ver o que podemos encontrar na misteriosa caixa do professor.