Agora, quanto ao problema, eu o explicarei melhor quando nos encontrarmos. Na verdade, esta carta é apenas para dar-lhe uma idéia geral da situação e para verificar se o senhor teria interesse no assunto. A senhora começou a manifestar algumas características bastante estranhas ao seu temperamento, geralmente amável e dócil. O cavalheiro havia se casado duas vezes e tinha um filho da primeira mulher. Este rapaz tinha, agora, 15 anos, um jovem encantador e carinhoso, embora, infelizmente, tivesse sido ferido num acidente na infância. A esposa foi flagrada duas vezes agredindo este pobre rapaz, sem que tivesse havido provocação alguma. Uma vez ela o atacou com uma vara, deixando um grande vergão em seu braço.
Mas, isto é insignificante quando comparado com sua conduta para com seu próprio filho, um menino adorável, com menos de 1 ano de idade. Em certa ocasião, mais ou menos há um mês, esta criança havia sido deixada só pela ama durante alguns minutos. Um grito de dor da criança fez a ama voltar. Quando entrou correndo no quarto, ela viu sua patroa debruçada sobre a criança e, aparentemente, mordendo o seu pescoço. Havia uma pequena ferida no pescoço, de onde saía um fluxo de sangue. A ama ficou tão horrorizada, que quis chamar o marido, mas a senhora lhe implorou para que não o fizesse e deu-lhe 5 libras em troca do seu silêncio. Nenhuma explicação foi dada, e naquela ocasião o assunto foi esquecido.
Mas deixou uma impressão terrível na mente da ama, e desde então ela passou a vigiar a patroa de perto e a proteger atentamente a criança, que ela amava, com carinho. Parecia-lhe que, da mesma maneira que ela vigiava a mãe, a mãe também a vigiava, e que cada vez que ela era obrigada a deixar a criança sozinha, a mãe estava esperando para se aproximar da criança. Dia e noite a ama protegia a criança, e dia e noite a mãe silenciosa e atenta parecia estar à espreita, como um lobo que espera pela ovelha. Isto pode lhe parecer inacreditável, mas peço-lhe que leve isto a sério, pois a vida de uma criança e a sanidade mental de um homem podem depender disto.
Finalmente chegou o dia terrível em que os fatos não puderam mais ser ocultados do marido. Os nervos da ama haviam cedido; ela não podia mais suportar a tensão e contou tudo ao patrão. Para ele, parecia uma história assombrosa, como agora deve lhe parecer. Ele sabia que a mulher era uma esposa amorosa, e exceto pelos ataques ao enteado, uma mãe amorosa. Por que, então, ela iria ferir seu próprio filhinho tão querido? Ele disse à ama que ela estava sonhando, que suas suspeitas eram de uma lunática, e que essas acusações contra a sua patroa não podiam ser toleradas. Enquanto estavam conversando, ouviram um grito de dor. Ama e patrão correram para o quarto da criança. Imagine, sr. Holmes, o que ele sentiu, quando viu sua esposa levantar-se da posição em que estava, ajoelhada ao lado do berço, e viu sangue no pescoço da criança e no lençol. Com um grito de horror, ele virou o rosto de sua mulher para a luz e viu sangue em volta de seus lábios. – Foi ela – ela, acima de qualquer dúvida – quem havia bebido o sangue da criança.
As coisas agora estão neste pé. Ela está confinada em seu quarto. Não houve explicação. O marido está quase louco. Ele e eu sabemos muito pouco a respeito de vampirismo, além do nome. Pensávamos que fosse alguma fábula extraordinária, de regiões estrangeiras. No entanto, aqui, bem no coração da inglesa Sussex – bem, tudo isto pode ser discutido com o senhor pela manhã. O senhor me receberá? Usará sua capacidade extraordinária para ajudar um homem desorientado? Neste caso, por favor, telegrafe para Ferguson, Cheeseman’s, Lamberley, e estarei em seus aposentos às dez horas.
Atenciosamente,
Robert Ferguson
P.S. – Acho que seu amigo Watson jogava rúgbi por Blackheath, quando eu era defesa do Richmond – a única apresentação pessoal que lhe posso dar!
– É claro que me lembro dele – eu disse, enquanto colocava a carta na mesa. – O grande Bob Ferguson, o melhor jogador de defesa que o Richmond já teve. Sempre foi um sujeito bonachão. É típico dele preocupar-se tanto com a situação de um amigo.
Holmes olhou-me pensativamente e sacudiu a cabeça.
– Eu nunca sei até onde você pode chegar, Watson – ele disse. – Há possibilidades inexploradas em você. Passe um telegrama. Examinaremos o seu caso com prazer.
– Seu caso!
– Não devemos deixar que ele pense que esta agência é uma casa para doentes mentais. É claro que este é o caso dele. Mande-lhe o telegrama e deixe o assunto para amanhã.